"A PT não foi privatizada por mim enquanto estive no Governo. Relativamente à PT, o Governo que eu liderei só fez uma coisa: Cumprir uma medida que estava no memorando de entendimento que era acabar com a 'golden share' que o Estado detinha na PT. Foi um compromisso do engenheiro Sócrates e do professor Teixeira dos Santos no memorando de entendimento. Foram eles que puseram lá acabar com a 'golden share'. A privatização já tinha sido feita antes e nós cumprimos aquilo que estava no memorando de entendimento", afirmou Pedro Passos Coelho.

O líder do PSD, que discursava no encerramento da convenção autárquica distrital do PSD de Viana do Castelo, em Valença, acusou o primeiro-ministro de estar "a atirar a responsabilidade sobre o que se passa hoje na PT" para o Governo anterior.

"Devia saber que não fomos nós que privatizámos a PT. Devia deixar de estar sempre a fazer insinuações sobre o passado porque já não há paciência para as insinuações maldosas que o Governo, no seu todo, faz em relação ao passado", disse, dirigindo-se a António Costa.

Na quarta-feira, durante o debate do estado da Nação, na Assembleia da República, António Costa manifestou-se apreensivo com o futuro da PT, agora propriedade da multinacional Altice, temendo mesmo pelo futuro de postos de trabalho.

"Receio bastante que a forma irresponsável como foi feita aquela privatização possa dar origem a um novo caso Cimpor, com um novo desmembramento que ponha não só em causa os postos de trabalho, como o futuro da empresa", declarou, na altura, o primeiro-ministro.

Esta noite, em Valença, Passos Coelho afirmou que o Governo "não só não faz nada que se veja, em termos estruturais, em termos relevantes, como continua com a chamada política de comunicação a querer apropriar - se do bom que outros fizeram e, por outro a lado, a acrescentar coisas más que o Governo anterior não fez, mas que ele quer que se acredite que fez".

"Uma pessoa mais desatenta pensaria que foi uma privatização que o Passos Coelho fez, mas o Passos Coelho não fez nenhuma privatização da PT", frisou.

Passos Coelho afirmou ainda que o Governo "passa a vida" a dizer que é necessária "uma economia competitiva, inovadora, com qualificações elevadas, a gerar mais rendimentos, mas os resultados que se vêm não são esses".

"Quase dois anos depois o que vemos? Nunca houve tantos trabalhadores a ganhar Salário Mínimo Nacional (SMN) e o salário médio no país baixou. Porquê? Se o Governo está sempre a dizer que não podemos ter uma economia de baixos salários, que está a apostar na qualidade, na inovação, que está apostar nas qualificações e, portanto, no ensino superior e na investigação, porque é que as pessoas afinal ganham cada vez mais salários mais baixos, mesmo contando com o aumento do SMN? O que é que isto quer dizer? Quer dizer que vai uma distância imensa entre aquilo que se diz e aquilo que se faz", sustentou o líder do PSD.

Quem é que privatizou a PT?

Não foi Pedro Passos Coelho, mas foi o PSD, o partido do ex-primeiro-ministro, quem iniciou o processo, há 22 anos.

A fusão da Telecom Portugal com a divisão de comunicações dos CTT é dirigida por Luís Todo Bom, em 1995. O ministro das Obras Públicas, Transportes e Telecomunicações, é Ferreira do Amaral, no último governo de Cavaco Silva. A primeira fase põe nas mãos dos privados 27,26% do capital da empresa, em junho do último ano do mandato de Cavaco como primeiro-ministro.

Já em 1996, será António Guterres, primeiro-ministro socialista, a concretizar a segunda fase da privatização, passando mais 21,74% do capital da empresa para os privados. A Portugal Telecom fica, assim, privatizada a 49%, continuando o Estado a ser acionista maioritário.

O Estado vai deixando cair as restantes ações da empresa e no ano 2000 fica concluída a quinta e última fase da privatização da empresa. O Estado guarda para si apenas 500 ações preferenciais, a famosa golden share (que lhe permitem ter sempre a última palavra). Ações que são contestadas por Bruxelas.

Só em 2011 o Estado deixa de ter participação na empresa, cumprindo as exigências de Bruxelas.

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