“É um reconhecimento pelo trabalho de José Saramago, pelo posicionamento de Saramago, tantos anos depois, e precisamente um dia antes do seu aniversário [pois completaria 94 anos na quarta-feira]. Um trabalho que foi José Saramago que o começou e não eu”, insistiu à Lusa Pilar del Río, que acrescentou: “Caminhei por um caminho aberto por José Saramago, que foi o explorador, apenas o trilhei livre e voluntariamente, sem qualquer restrição mental”.
“Cito uma coisa que me ficou gravada, que foi [o investigador e sociólogo] Boaventura Sousa Santos que me disse: 'nós temos um mandato Saramago'”.
“O mandato Saramago é a Declaração Universal dos Deveres Humanos [resultante do apelo lançado pelo escritor], é o aprofundamento do conhecimento e da responsabilidade individual, e é nisto que estou a trabalhar”.
“O prémio é o reconhecimento de um caminho aberto por José Saramago, que lamentavelmente não o pode receber pessoalmente, e recebeu quem esteve próximo”, insistiu.
“Fiz o caminho do entendimento entre Portugal e Espanha, entre a Península Ibérica e a América Latina, sou uma habitante da ‘jangada de pedra’, moral e politicamente”, sublinhou Pilar del Río à Lusa.
Pilar del Río afirmou que, com o prémio, irá acontecer uma iniciativa na casa de Saramago, na ilha espanhola de Lanzarote, no arquipélago das Canárias, que “está aberta por iniciativa pessoal [sua], e não é da Fundação [Saramago], e que é anualmente visitada por milhares de portugueses e espanhóis”.
“Com este prémio a casa de Saramago, a biblioteca de Saramago, a sua ‘jangada de pedra’ pessoal, vai manter-se aberta por mais tempo”, disse a jornalista de 66 anos, que se casou em 1988 com o escritor português.
Foi nesta casa que o Prémio Nobel de Literatura português escreveu “Ensaio sobre a lucidez”, “As intermitências da morte” e “Alabardas, alabardas”.
“A casa irá ter vida, pois, sozinha, não podia continuar a mantê-la”, disse, referindo que se localiza "numa ilha que fica no meio do oceano e que é um ponto de encontro e um lugar de cultura".
"Chamo-lhe 'jangada de pedra' pois era assim que Saramago a denominava", referiu.
A presidente da Fundação Saramago afirmou-se contente por ter sido distinguida, “também porque os jornalistas recebem poucos prémios”.
O prémio, atribuído pelos governos de Portugal e de Espanha, no valor de 75.000 euros, reconhece, com caráter bienal, a obra de um criador no âmbito da arte e da cultura, que fomente a comunicação e cooperação cultural entre os dois países.
O júri foi constituído por Ana Santos Aramburo (diretora da Biblioteca Nacional de Espanha), José Pascual Marco Martinez (diretor-geral de Política e Indústrias Culturais e do Livro) e Juan Cruz Ruiz (escritor e jornalista), pela parte espanhola, e por João Fernandes (subdiretor do Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia), José Bragança de Miranda (professor universitário) e Nuno Júdice (escritor e poeta), pela parte portuguesa.
Comentários