“O que li parece-me, até certo ponto, estar ligado a atividades de vigilância, talvez legal. Não sei”, disse Nunes, citado The Washington Post à saída da Casa Branca, acrescentando: “não sei se os norte-americanos ficariam confortáveis com o que li. (…) O Presidente precisa de saber o que dizem estes relatórios dos serviços secretos. Penso que o Presidente está preocupado e tem razões para estar”, acrescentou.

Nunes disse em conferência de imprensa que descobriu potenciais escutas a Trump por si mesmo enquanto lia relatórios dos serviços de informação norte-americanos. “Isto é normal, uma recolha acidental, com base no que consegui perceber. Parece ser tudo legal”, acrescentou. Apesar disso, disse-se “alarmado” com a descoberta, cita a CNN.

Questionado sobre se se sentia ‘vingado’ após as declarações de Nunes, Trump disse que “de certa forma, sim". “Fico muito feliz que tenham descoberto o que descobriram. De certa forma, sim”, cita o The Washington Post. O republicano, segundo este jornal, acrescentou que ficará esclarecido sobre os visados nestas atividades de vigilância quando receber, esta sexta-feira, a lista de nomes dos cidadãos vigiados.

O republicano - que disse que as escutas acidentais visavam também membros da equipa de transição de Trump e que ocorreram após as eleições - não conseguiu detalhar, para já, onde ocorreram estas escutas.

Devin Nunes preside a comissão dos serviços de informações do Congresso que investiga as alegadas intervenções russas nas eleições norte-americanas. Esta semana, Nunes disse que não havia "qualquer prova" de conluio entre a campanha de Donald Trump e a Rússia para influenciar as presidenciais.

A afirmação de Nunes foi feita um dia antes de a comissão a que preside ouvir o diretor do FBI, James Comey, sobre as supostas ligações da equipa do presidente norte-americano a Moscovo e sobre a alegação de Trump de que foi escutado por ordem do antecessor, Barack Obama.

Trump emitiu a sua acusação contra Obama a 4 de março, através da rede social Twitter, mas ainda não foram apresentadas quaisquer provas para sustentar a alegação.

James Comey, diretor do Gabinete Federal de Investigação, disse entretanto numa audiência no Congresso não possuir informações que apoiem as acusações de Trump contra Obama.

“Não tenho informações que apoiem esses 'tweets’", disse Comey na primeira audiência pública no Congresso sobre a suposta ingerência russa nas eleições, numa alusão às mensagens de Trump no Twitter acusando Obama de ter ordenado que as suas comunicações fossem vigiadas.

“Nenhum indivíduo nos Estados Unidos pode ordenar a vigilância eletrónica do nada, tem de passar por um processo de solicitação”, explicou o diretor do FBI, que acrescentou também não existirem provas consistentes no Ministério da Justiça que possam sustentar as acusações de Trump.

Segundo Trump, Obama ordenou que fossem intercetadas as comunicações da “Trump Tower” em Nova Iorque, onde o magnata vivia e trabalhava durante a campanha eleitoral, e comparou a sua denúncia ao escândalo do Watergate que em 1974 pôs termo à presidência de Richard Nixon.

Apesar de Obama ter negado perentoriamente as acusações através de um porta-voz, Trump manteve-se firme na passada sexta-feira durante uma conferência de imprensa na Casa Branca com a chanceler alemã Angela Merkel, quando disse que ambos tinham “algo em comum”: terem sido espiados por ordem do ex-Presidente.

O comentário de Trump fez referência à revelação, em 2013, que um telemóvel de Merkel foi mantido sob escuta pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos entre 2002 e 2012, um período que inclui parte da Presidência de George W. Bush e parte do mandato de Obama.