Na área política, a reta final da campanha continua dominada pela recordação de Jo Cox, a deputada assassinada em campanha contra o Brexit. Os principais nomes dos dois lados devem comparecer nesta segunda-feira à sessão extraordinária do Parlamento que homenageia a deputada trabalhista, dois dias antes da data do 42º aniversário da deputada e três dias antes do referendo de 23 de junho.

O assassinato, cometido por um simpatizante neonazi que gritou "Morte aos traidores, liberdade para a Grã-Bretanha" na primeira audiência com um juiz, parece marcar um ponto de inflexão na campanha, provocando uma mudança no tom beligerante.

Nesta segunda-feira, o líder do partido antieuropeu UKIP, Nigel Farage, denunciou que os partidários pela permanência na UE estão a tentar vincular a morte de Jo Cox à campanha. "Acredito que há partidários da permanência na UE que estão a tentar dar a impressão de que este horroroso incidente isolado está relacionado de algum modo com os argumentos feitos durante a campanha por mim ou Michael Gove, e isso é mau", disse Nigel Farage à rádio LBC, um dia depois de admitir que o assassinato de Jo Cox travou o avanço do Brexit.

Sayeeda Warsi, que foi presidente do Partido Conservador, anunciou esta segunda-feira que mudou de opinião e vai votar a favor da permanência na UE, cansada do que chamou de "mentiras e xenofobia" da campanha Brexit. A deputada afirmou que o que provocou a sua decisão foi o cartaz de Nigel Farage que apresenta uma caravana de refugiados como uma ameaça para o Reino Unido.

A primeira sondagem divulgada depois da morte da deputada trabalhista e pró-UE, defensora dos refugiados e dos imigrantes, mostra a opção favorável à permanência com 45% das intenções de voto, contra 42% para os defensores da saída. A sondagem do instituto Survation foi realizada entre sexta e sábado passados. O assassinato de Cox ocorreu na quinta-feira.

A média das últimas seis sondagens, feita pelo instituto "What UK Thinks", mostra um empate, com 50% para os dois lados, sem levar em consideração os indecisos.

Novas sondagens devem ser divulgadas nas próximas horas, para confirmar ou desmentir a mudança de tendência.

Dez prémios Nobel contra o Brexit

Os mercados, no entanto, já antecipam a vitória da permanência desde sexta-feira, um dia após a morte de Jo Cox. As bolsas europeias operavam em alta, com destaque para Londres (acima de 3%), e a libra também registava uma forte valorização, recuperando das perdas registadas na semana passada.

Veja também: Quando dez vencedores do Nobel de Economia advertem contra o Brexit é porque o assunto é sério

"Os mercados registam subidas sólidas esta manhã porque o receio da perspectiva de uma saída do Reino Unido da UE é menor", explicou Mike van Dulken, da Accendo Markets. "Isto acontece depois das sondagens do fim de semana, que sugerem que a tendência favorável ao Brexit se inverteu", explicou.

Dez vencedores do prémio Nobel da Economia advertiram sobre as consequências negativas e duradouras que seriam provocadas, no seu entender, por uma saída do Reino Unido da UE. "Acreditamos que o Reino Unido está economicamente melhor dentro da UE", afirma o texto publicado no jornal britânico The Guardian pelos vencedores do Nobel entre os anos 1970 e 2015.

"As empresas e os trabalhadores britânicos precisam de pleno acesso ao mercado único. Além disso, a saída criaria grande incerteza em redor dos futuros acordos comerciais alternativos do Reino Unido, tanto com a Europa como com os mercados importantes, como o dos Estados Unidos, Canadá e China".

"E estes efeitos perdurariam por muitos anos", completa o texto. "Em consequência, o debate económico inclina-se claramente a favor da permanência na UE", concluem os especialistas.

O ministro das Finanças da Grã-Bretanha, George Osborne, elogiou a carta. "Sem precedentes, 10 economistas prémios Nobel avisam sobre os danos a longo prazo da saída da UE. É hora de ouvir os especialistas", escreveu no Twitter.

Mas os líderes do Brexit voltaram a chamar a atenção para esta oportunidade única de romper com as regras de Bruxelas. "É hora de acreditar em nós próprios, no que o Reino Unido pode fazer, e recordar que somos sempre melhores quando acreditamos em nós", escreveu o ex-mayor de Londres, Boris Johnson, no jornal Daily Telegraph. "Não voltaremos a ter uma oportunidade assim durante as nossas vidas", completou.

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