Na Rua Cimo de Vila há um restaurante sem nome, sem menu, sem luxo, mas que está sempre cheio. As refeições são servidas entre as 20:00 e a meia-noite, mas a fila começa a formar-se uma hora e meia antes, por gente à procura daquela que é muitas vezes a única refeição do dia.

Ana Barbosa, coordenadora do projeto Escolas Solidárias da Fundação EDP, falou à agência Lusa do projeto, que resulta de uma parceria entre a Câmara do Porto, o CASA – Centro de Apoio a Sem-Abrigo e a Ordem do Terço.

Os voluntários são todos alunos da Escola Profissional de Comércio, Escritórios e Serviços Raúl Dória e a seu cargo “têm o servir das refeições, pôr a mesa, lavar a louça e limpar o espaço”, explicou a coordenadora do projeto, que à sexta-feira é reforçado com mais voluntários, “os Super-Jovens, que coordenam a cozinha”.

“Dependendo dos dias e alturas do mês, o número de refeições varia entre as 165 e as 200″, apontou a também docente.

O serviço começou por ser feito em rondas na rua, mas desde setembro de 2016, por iniciativa da Câmara do Porto, funciona o restaurante solidário, com o qual foi possível passar a “fazer as refeições com dignidade”.

“Temos muitos alunos, muitos jovens, pessoas de vários níveis, idosas e doentes que vêm cá para a única refeição do dia. Nesta altura do ano começam a aparecer também de outras nacionalidades, angolanos, cabo-verdianos, brasileiros e ucranianos”, explicou.

A iniciativa “Super-Jovens” nasceu no período da crise, numa altura em que era preciso motivar os alunos e de chamá-los para a escola. Começou com ações de sensibilização no estabelecimento de ensino, mas rapidamente saltou os seus muros, passando a colaborar com o CASA.

Depressa se percebeu que as 120 refeições diárias inicialmente definidas ficavam aquém das necessidades do restaurante.

Ana Barbosa admitiu “a possibilidade de virem a abrir mais seis no Porto”.

Apesar de os jovens serem oriundos de “famílias desestruturadas, com problemas sociais e em alguns casos monoparentais”, segundo a coordenadora, este projeto tem sido de “uma aprendizagem enorme para os voluntários”.

Andreia Magalhães, de 22 anos, cativada quando estava no segundo ano de Secretariado, disse estar a “viver uma experiência inacreditável”

“Esta aventura muda completamente a nossa perspetiva, o modo como vemos as coisas, pois percebemos e acabámos por entender o lado deles. Hoje sou voluntária e amanhã posso ser um sem-abrigo ou vice-versa. Apendemos muito com eles. Somos todos iguais. Só me fez crescer pessoal e profissionalmente. Tem sido incrível este crescimento e evolução”, frisou.

E continuou: “Por vezes, a sociedade receia fazer algo diferente, hesitamos muito no geral, e esta é uma iniciativa que contribuiu imenso para o combate à fome. Aqui damos cinco a dez minutos da nossa atenção e carinho e isso dá-lhes conforto para o seu dia-a-dia”.

Telma Pereira, de 17 anos, emocionou-se à conversa com a Lusa. De lágrima fácil, não conteve a emoção quando explicou o que que ganha com a experiência de matar a fome a tanta gente.

“A nossa aprendizagem é de que não precisamos de ter tudo para ajudar os outros”, respondeu.

Confessando não distinguir as pessoas que apoia “por serem mais velhas ou de diferentes etnias”, olha para o futuro como uma certeza: “O voluntariado é como se fosse uma peça do puzzle em mim”.