Naquela rua, que atrai milhares de turistas e onde se contam mais bares do que restaurantes, o ambiente só começa a “aquecer” ao final do dia, quando o álcool começa a “regar” as conversas que hão de prolongar-se até ao dia nascer, conta à Lusa o dono de uma pequena loja.

Tal como outros que por ali trabalham, o empresário não quer falar sobre o caso de há duas semanas, que envolveu a intervenção da polícia após desacatos entre jovens, mas os excessos de noites anteriores ainda são visíveis à luz do dia.

A acumulação de lixo em alguns recantos da rua, sobretudo garrafas de whisky, vodka e copos de plástico, e aparentes manchas de sangue nas pedras da calçada, ajudam a compor um cenário que irá atingir o seu ponto alto durante a madrugada.

Para Elidérico Viegas, líder da maior associação hoteleira da região, o problema de Albufeira é ter desenvolvido um produto que está “muito centrado numa pseudo animação noturna”, com bares que funcionam “toda a noite como autênticas discotecas” e onde se vende álcool em balcões na rua.

“Há grupos de indivíduos que aproveitam estas lacunas legislativas e este funcionamento algo desordenado por parte dos estabelecimentos”, considera o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).

Para o empresário, a solução pode passar por rever os períodos de funcionamento dos bares, cumprindo também a lei do ruído, disciplinar a utilização da via pública e impedir a venda de bebidas alcoólicas na rua.

“Os hotéis recusam-se a ser bodes expiatórios de uma situação para a qual não só não contribuíram, como são as principais vítimas”, sublinha, recusando que a responsabilidade esteja do lado dos hoteleiros, por aceitarem grandes grupos de jovens.

Reinaldo Teixeira, administrador do grupo Garvetur, que associa 38 empresas na área do turismo e não só, acredita que o que aconteceu em Albufeira foi um “caso isolado”, mas reconhece a existência de alguns excessos devido à oferta de animação noturna.

O empresário está confiante de que os próprios empresários de animação noturna “terão a preocupação de tentar tomar medidas em conjunto com as forças locais” que possam prevenir que situações como as que ocorreram em Albufeira se repitam.

“Vilamoura, por exemplo, tem tido um crescimento dessa oferta [de animação noturna], mas uma oferta controlada, com menos densidade e com muito menos excessos e é isso que se pretende”, sublinhou, observando que o Algarve é, no geral, um destino familiar.

Nuno Sancho Ramos, ex-administrador da entidade gestora de Vilamoura, considera que o importante “é qualificar a oferta para corrigir os erros que têm possibilitado a oferta de alojamentos quase em regime de camaratas”, mas lembra que Albufeira tem também “unidades de excelência”.

Por outro lado, acrescenta, “importa urgentemente intervir na definição e na organização do espaço urbano” onde se inserem os estabelecimentos de diversão noturna e “separar as águas”, clarificando o que são discotecas e o que são bares.

“Os bares não podem funcionar como discotecas, porque não têm as mesmas condições de segurança nem se regem pelas mesmas regras, e devem funcionar com horários compatíveis ao ambiente onde se inserem e com a lotação adequada”, concluiu.

Com as taxas de ocupação a crescerem mensalmente e com uma elevada procura para setembro e outubro, o Algarve tem tudo para ter um ano turístico de 2017 em grande.

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