O "Wunderwuzzi" (miúdo prodígio) da política austríaca tomou posse esta segunda-feira, dia 18, à frente de um governo de coligação composto pelo - seu - partido cristão-democrata (ÖVP) e pelo partido de extrema direita, o FPÖ.

"O nosso programa e a nossa equipa oferecem uma mudança radical", garantiu Sebastian Kurz, na véspera da sua posse, depois de uma campanha na qual prometeu uma renovação, após seis anos no governo como ministro dos Negócios Estrangeiros.

Volvidos dez anos como parceiro minoritário da coligação de direita, o ÖVP, pilar da política austríaca desde 1945, ofereceu uma vaga ao jovem de ar adolescente e insolente. E Kurz respondeu: pôs fim à coligação composta com pelos sociais-democratas do chanceler Christian Kern, partindo para as eleições legislativas e à consequente vitória no passado dia 15 de outubro.

A "Kurzmania" ganhou força ao longo da última campanha, visível no entusiasmo em comícios e nas longas sessões de selfies com militantes de todas as idades.

Enquanto alguns elogiavam a maneira "cativante de abordar as coisas", outros sublinhavam a "sua calma e disciplina".

Ganhar capital político

Sebastian Kurz, o primeiro a conta da esquerda no dia em que toma posse como ministro dos Negócios Estrangeiros da Áustria créditos: DIETER NAGL / AFP

Para uma Áustria próspera, mas insegura com a crise migratória, o jovem político optou por um discurso duro contra a imigração, combinando essa retórica com uma imagem de modernidade. Durante a campanha das legislativas, o líder da FPÖ, Heinz-Christian Strache, que será vice-chanceler, chegou a acusá-lo de "plagiar" o seu programa.

Nascido em 2 de agosto de 1986, em Viena, filho de um técnico e de uma professora, Sebastian Kurz já tem uma longa trajetória política.

Ex-líder da poderosa organização da juventude da ÖVP, foi nomeado secretário de Estado aos 24 anos, antes mesmo de ter concluído o curso de Direito. Desde 2013, era o mais jovem ministro dos Negócios Estrangeiros da Europa.

Visto com ceticismo no início, foi ganhando estatuto como homem de Estado, sobretudo ao longo das negociações sobre a questão nuclear iraniana, em 2015, em Viena. Distanciava-se assim dos seus passos vacilantes de político novato, como quando distribuiu preservativos pretos (a antiga cor da ÖVP) para exibir o lado "excitante" do partido.

No outono europeu de 2015, foi um dos primeiros a criticar a política de acolhimento de refugiados da chanceler alemã, Angela Merkel. Também atacou a Turquia e vangloria-se de ser um dos principais artífices do fechar da rota dos Balcãs aos imigrantes, alguns meses mais tarde.

Um 'Haider light'

Conquistando boas quotas de popularidade de norte a sul do país, Kurtz assume o comando do ÖVP em maio. E aí refaz completamente, a seu modo, um partido enfraquecido, conseguindo-lhe impor uma nova cor - um turquesa pálido - e a designação "Lista Kurz".

O futuro desse que divide a imprensa entre a admiração e a ironia, entre o "Messias" e o "Kaiser", não deixa de lembrar o de Jörg Haider, o líder de extrema direita morto num acidente de carro em 2008.

Depois de assumir um moribundo FPÖ, transformou-o no segundo maior partido do país, conseguindo integrar um governo conservador no virar do século, em 2000.

Ainda que o cientista político francês Patrick Moreau não hesite em chamar Kurz de "Haider light", o jovem político nunca esteve envolvido, porém, em qualquer episódio racista e garante que o seu governo manterá uma "forte orientação europeia".