O soldado norte-coreano, de “baixa patente”, apareceu em frente a um posto de guarda de fronteira sul-coreano por volta das 08:04 (23:04 em Lisboa) sob nevoeiro cerrado, detalhou o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul, num comunicado citado pela agência de notícias Yonhap.

Trata-se do quarto soldado norte-coreano que foge para a Coreia do Sul desde o início do ano.

É, com efeito, o primeiro desde a espetacular deserção, em 13 de novembro, de um militar que foi baleado pelo menos cinco vezes pelo exército norte-coreano, perto da cidade fronteiriça de Panmunjom, onde as forças armadas de ambas as Coreias se veem cara a cara.

Segundo imagens divulgadas dias depois pelo Comando das Nações Unidas (UNC, na sigla em inglês), liderado pelos Estados Unidos, que vigia o armistício, o soldado tentou aparentemente cruzar no todo-terreno a linha de demarcação, que divide em duas a zona desmilitarizada, onde teve lugar o raro incidente.

No entanto, o todo-terreno ficou preso numa vala a poucos metros da linha de demarcação e esse ruído alertou vários soldados norte-coreanos estacionados nas imediações que correram na direção do veículo. O militar desceu então do jipe e atravessou a fronteira a correr, enquanto quatro soldados se aproximaram e começaram a disparar a apenas umas dezenas de metros de distância.

Um dos soldados norte-coreanos chegou mesmo a atravessar a linha durante escassos segundos, o que a par com os tiros — que foram efetuados em direção ao Sul — constituiu, segundo o UNC, uma violação do cessar-fogo que colocou termo à Guerra da Coreia (1950-53).

Outras imagens capturadas por uma câmara térmica mostraram o resgate posterior do soldado por três militares sul-coreanos que o arrastaram pelo chão para evitar que fosse novamente baleado, levando-o depois para lugar seguro até ser transportado para o hospital.

O militar, que terá entre 20 e 30 anos, ficou na unidade de cuidados intensivos com vista a garantir que não sofria mais infeções. Isto porque, durante as intervenções cirúrgicas, foram encontradas várias lombrigas intestinais no corpo do soldado que contribuíram para infetar os órgãos afetados pelos tiros.

O soldado mostrou, além disso, sintomas de “stress psicológico severo e depressão” após o incidente, segundo o cirurgião que liderou as operações.

Apesar do nome, a DMZ é uma das fronteiras mais militarizadas no mundo.

Trata-se de uma faixa de terreno de quatro quilómetros ao longo da fronteira entre as duas Coreias, tecnicamente em guerra desde o final do conflito (1950-53), com arame farpado, vedações eletrificadas, campos minados e paredes antitanque.

Cerca de trinta mil soldados da Coreia do Norte desertaram para a Coreia do Sul desde o final da guerra, mas a maior parte usou rotas de fuga através da China..