"Há empresas do parque industrial que estão a sentir os trabalhadores a pressionarem porque não querem ter o mesmo conflito que está a existir na Autoeuropa, querem que as coisas se resolvam rapidamente", disse à agência Lusa o coordenador das Comissões de Trabalhadores do Parque industrial da Autoeuropa, Daniel Bernardino.

No mês de fevereiro "vamos começar já a ter os sábados em produção, como estava anunciado Autoeuropa, e temos que nos organizar até lá. Falta muito pouco tempo. No parque industrial ainda estamos com alguma estabilidade, em termos de diálogo social, mas acreditamos que este mês esse diálogo social pode começar a ficar fragilizado", disse, lembrando a necessidade de as empresas fornecedoras da Autoeuropa também se prepararem devidamente para dar resposta aos planos de produção apresentados pela Autoeuropa.

A par da preocupação com os novos horários de trabalho e com as exigências de produção para o novo veículo T-Roc na fábrica de automóveis da Volkswagen, em Palmela, os trabalhadores do parque industrial da Autoeuropa, onde estão instaladas 19 empresas com um total de cerca de 3.000 trabalhadores (que se juntam aos cerca de 5.000 trabalhadores da própria Autoeuropa), também estão preocupados com a eventual perda de influência da Comissão de Trabalhadores da empresa do grupo Volkswagen.

"Esperamos que haja alguma estabilidade e paz social, porque estamos num momento de crescimento do parque industrial e da Autoeuropa. Nunca tivemos os volumes de produção que já estamos a ter no dia de hoje - e isso é mais emprego, e obviamente mais rendimento para s trabalhadores. É desse rendimento que os trabalhadores também estão à procura através deste conflito que criaram dentro da Autoeuropa. Mas o que nos preocupa é que a organização dos trabalhadores está a deteriorar-se, começa a haver um pouco de anarquismo entre os trabalhadores da Autoeuropa. Preocupa-nos que esta organização fique fragilizada deste modo", acrescentou.

O diferendo na Autoeuropa não preocupa apenas as empresas fornecedoras e trabalhadores do parque industrial, mas também os municípios da região de setúbal e, particularmente, o concelho de Palmela.

O presidente da Câmara de Palmelas, Álvaro Amaro, disse acreditar, no entanto, que a administração e os trabalhadores da Autoeuropa vão acabar por chegar a um acordo e mantém um discurso otimista em relação ao futuro.

"Naturalmente que o município acompanha o assunto com muita atenção, mas não temos propriamente uma visão alarmista. Consideramos que o conflito entre a administração e os trabalhadores faz parte de uma relação normal no âmbito da defesa das posições de cada uma das partes, mas, sobretudo, no âmbito da negociação", disse Álvaro Amaro (CDU), reafirmando a convicção de que ainda há margem para um acordo entre as partes.

Álvaro Amaro considerou que a eventual deslocalização da produção da Autoeuropa é uma questão que não se coloca neste momento, mas reconheceu que, a concretizar-se, seria um cenário muito grave para as empresas fornecedoras, para a região de Setúbal e para o país.

"Seria uma catástrofe para a região, até porque os números do desemprego têm baixado, não só por atividades ligadas aos serviços e ao turismo, mas, em grande parte, pela qualificação que é feita também aqui na região pela ATEC (Academia de Formação, instalada junto ao parque incurial da Autoeuropa com vários cursos profissionais direcionadas para o setor automóvel) e pela empregabilidade permitida pela Autoeuropa, que não se cinge ao concelho e que tem aqui uma dimensão e uma influência regional muito considerável", concluiu o presidente da Câmara Municipal de Palmela.