Os responsáveis por esta carta aberta são Davi Kopenawa Yanomami, o líder da tribo dos Yanomami em Roraima, Raoni Metuktire, o líder Kayapó, e Sonia Bone Guajajara, ativista e líder Guajajara.

Na carta, os líderes indígenas dizem que “um genocídio está a acontecer no nosso país, o Brasil”.

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“O Governo está a destruir-nos, os povos indígenas, primeiros povos do nosso país. Em nome de lucro e poder, as nossas terras estão a ser roubadas, as nossas florestas queimadas, os nossos rios poluídos e as nossas comunidades devastadas. Os nossos parentes isolados, que vivem no interior da floresta, estão a ser atacados e mortos”, denunciaram.

Para os três líderes, o Governo está a retirar a proteção de que gozam as suas terras, está a mudar as leis para permitir a expansão do agronegócio e da mineração e está a tentar silenciar a oposição.

“Este é o ataque mais agressivo que enfrentamos até hoje nas nossas vidas”, dizem.

“Mas não seremos silenciados. Não queremos que as riquezas de nossas terras sejam roubadas e vendidas. Pois seguimos cuidando de nossas terras desde tempos imemoriais. Protegemos a nossa floresta porque ela nos dá vida”, sublinharam.

“Nós, os irmãos e irmãs indígenas de mais de 200 povos diferentes, estamos nos juntando para protestar. Do coração da floresta Amazónica, estamos a implorar pela sua ajuda. Neste momento de crise, precisamos de vocês. Por favor, digam ao Governo que a nossa terra não pode ser roubada”, afirmaram.

A carta foi escrita em resposta às crescentes preocupações sobre os laços estreitos do Governo do Presidente Michel Temer com a poderosa bancada ruralista (parlamentares ligados aos grandes proprietários de terras), notadamente anti-indígenas.

De acordo com a organização não-governamental (ONG) de defesa dos indígenas Survival International, os especialistas afirmam que a atitude do atual Governo brasileiro frente aos povos indígenas é “a pior em décadas”.

A Fundação Nacional do Índio (FUNAI), cujos funcionários patrulham e protegem os territórios indígenas, teve o seu orçamento severamente reduzido.

Para a Survival, isso está a deixar muitos povos indígenas isolados expostos fatalmente à violência de forasteiros e doenças como a gripe e o sarampo, às quais não têm resistência.

Além disso, houve um grave aumento na violência contra indígenas por pessoas que querem roubar as suas terras e os recursos, de acordo com a ONG.

“O Governo brasileiro está a realizar uma campanha estruturada para enfraquecer os direitos indígenas, e está deliberadamente deixando territórios de tribos isoladas abertos a invasões”, declarou Stephen Corry, o diretor da Survival International.