A decisão do presidente de não participar do tradicional jantar dos correspondentes na Casa Branca, que se realiza este sábado, mostra a que ponto chegou a relação entre o presidente e a imprensa, classificada pelo seu antigo Steve Bannon de "oposição".

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no passado domingo, numa mensagem na rede social Twitter, que estará num comício no estado de Pensilvânia. "No próximo sábado à noite vou celebrar um grande comício na Pensilvânia", escreveu o Presidente norte-americano na rede social.

Já em fevereiro deste ano, Trump tinha anunciado que não pensava participar no jantar, rompendo com a tradição de chefe de Estado e jornalistas trocarem ‘farpas’ bem-humoradas e aliviarem tensões.

O jantar é organizado anualmente, desde 1920, pela Associação de Correspondentes da Casa Branca, um organismo que reúne os profissionais que cobrem a informação do Governo e que já tem criticado as restrições impostas por Trump aos jornalistas que seguem o presidente.

Vários meios de comunicação criticaram a ausência de Trump no jantar, interpretando a decisão como mais um gesto de depreciação em relação à imprensa, que o Presidente norte-americano tem classificado repetidamente como "desonesta", “inimiga do povo" e divulgadora de "notícias falsas".

No entanto, alguns analistas afirmam que, enquanto Trump usa a imprensa para desviar a atenção das más notícias, os próprios meios de comunicação beneficiam de um aumento no número de leitores e espetadores em busca de alguma informação confiável sobre o governo, ou em busca de uma pequena dose diária de mais "trumpismo".

"Trump foi a galinha dos ovos de ouro para a imprensa", disse à AFP Tobe Berkovitz, um ex-consultor político agora professor de Comunicação na Universidade de Boston.

Por um lado, Trump tem um "bode expiatório" a quem pode culpar pelos seus problemas, disse o analista, mas "as duas partes estão bastante felizes com este arranjo".

Jornais como o New York Times registaram um crescimento na sua circulação desde a vitória de Trump nas eleições de novembro passado, e o mesmo ocorreu com o número de espetadores dos canais de notícias por cabo.

"Uma pessoa pode atribuir muito disso a Trump", disse, citado pela AFP, Dan Kennedy, professor de jornalismo na Universidade do Nordeste.

A pergunta-chave, no entanto, é se este aumento da audiência e das assinaturas é um fenómeno temporário ou indicativo de uma nova tendência.

"Pode terminar sendo mais sustentável do que pensamos ainda que Trump saia de cena", afirmou Kennedy. "Há muita preocupação com as notícias falsas e todo o lixo que é compartilhado no Facebook", afirmou, então "o que vemos é uma busca de qualidade".

Um pouco de 'espetáculo'

A aparente má relação entre Trump e o corpo de imprensa em Washington contrasta com as relações que o seu antecessor, Barack Obama, mantinha com os jornalistas. Obama nunca faltou ao jantar anual dos correspondentes da Casa Branca.

Trump, por sua vez, refere-se ao New York Times como "este jornal fracassado" e não perde a oportunidade de o criticar.

E, no entanto, o presidente garantiu entrevistas a praticamente todas as redes de televisão, levando os analistas a afirmar que esta hostilidade não é o que parece. "É um pouco de espetáculo", disse Kennedy citado pela AFP. Segundo ele, Trump "telefona pessoalmente a vários dos jornalistas a quem humilha publicamente".

Os repórteres Ben Schreckinger e Hadas Gold, do site especializado Politico, entrevistaram mais de 30 jornalistas credenciados na Casa Branca e chegaram à conclusão de que a "guerra" não é tão grande.

De acordo com os dois repórteres, o presidente mantém uma "guerra falsa" com a imprensa, ao mesmo tempo em que a equipa de Trump mantém relações ativas com jornalistas.

Ari Fleischer, que foi porta-voz do ex-presidente George W. Bush, afirmou que Trump parece ter tomado a iniciativa de atacar a imprensa porque esta postura produz ganhos políticos.

No mesmo evento em que Fleischer fez estas declarações, o repórter Charlie Spiering, do Breitbart News, expressou a mesma opinião. Trump, disse Spiering, não realiza os seus ataques "para denegrir a imprensa", mas porque "isso é muito popular entre os seus eleitores. E os seus eleitores adoram as manchetes que isso gera".

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