“Estamos muito preocupados. É um problema global e de saúde pública”, disse à agência Lusa o bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Jorge Cid, que classifica a venda sem receita como “uma infração grave”.

Num estudo hoje divulgado, a Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, revela que quase 40% das farmácias visitadas venderam antibióticos sem receita médica quando estes foram pedidos para tratar animais.

No teste, que incluiu 100 farmácias escolhidas de forma aleatória por todo o país, a Deco não conseguiu comprar o medicamento pretendido para tratar uma tosse de um cão em 62 casos, em 34 o antibiótico foi vendido e noutros quatro casos foi perguntado se a receita seria entregue mais tarde.

“Provavelmente, se este estudo abrangesse mais farmácias a nível rural se calhar o resultado era outro e a proporção era maior. Digo isto pelas denúncias que a ordem tem recebido sobre a prática de alguns atos pelas farmácias, que extravasam as suas funções, nomeadamente na aplicação de vacinas e na venda de medicamentos sujeitos a receita medica, designadamente os antibióticos e anti-inflamatórios”, afirmou Jorge Cid.

O bastonário sublinhou a importância de sensibilizar cada vez mais não só os farmacêuticos, que vendem os medicamentos, como também os veterinários, que os prescrevem, para a necessidade de um uso criterioso dos antibióticos.

Para isso, explicou, as ordens dos veterinários e dos farmacêuticos constituíram um grupo de trabalho, que vai começar a trabalhar no próximo mês, para elaborar recomendações e sensibilizar estes profissionais.

“Desse grupo de estudo irá sair algum resultado. Há todo um interesse em trabalhar numa só saúde, e não numa saúde humana e noutra saúde animal.(…) O problema das antibioresistências é gravíssimo e causa muitas mortes, tanto entre humanos como nos animais”, afirmou.

“Quando damos indevidamente antibiótico a animais de companhia estamos a agravar esse problema das bioresistências, não só para os humanos, porque no simples contacto com o animal de estimação essas pessoas podem vir a ter problemas desse tipo, como também para o próprio animal”, acrescentou.

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Portugal é um dos países que apresenta maior volume de prescrição de antibióticos e uma taxa mais elevada de resistências.

Jorge Cid frisou também o facto de muitas pessoas continuarem a usar o medicamento dos humanos para tratar o animal de estimação: “As moléculas são as mesmas, a amoxicilina tanto é para o animal como para o humano. O que muda é a apresentação e/ou o excipiente”.

Num estudo elaborado em 2013, a Ordem dos Veterinários já tinha alertado para este problema. Além de venderem o medicamento sem receita médica, de acordo com este estudo da ordem, mais de metade das farmácias analisadas sugeriram o tratamento para o animal e escolheram o antibiótico.

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