“Eu vejo estas eleições como a primeira parte da governabilidade da França. Tudo aquilo que esta campanha gerar para a dinâmica de sucesso para as legislativas, responderá às condições de governabilidade e também nas reformas no plano da União Europeia”, disse Bernardo Pires de Lima, investigador do Instituto Português de Relações Internacional da Universidade de Lisboa e que acompanhou em Paris a segunda volta das presidenciais francesas.

O académico acrescenta que, apesar da derrota, o resultado alcançado por Marine Le Pen não deve ser menosprezado.

“Não me parece que possa ser desprezível, independentemente da derrota, porque se verifica a consolidação e o crescimento da Frente Nacional (FN). Vamos provavelmente assistir a alguma disputa pela ascensão de outras figuras à primeira linha da FN. Vamos assistir provavelmente a uma transformação da ‘marca’ e vamos ter já em junho um teste sobre a real implantação da Frente Nacional”, sublinha.

Sobre os momentos que se seguiram à divulgação dos resultados, Bernardo Pires de Lima sublinha a presença do vencedor como autor de um discurso que “não foi extraordinário” porque precisa de “afinar” a qualidade da mensagem.

“É possível que Macron ainda não tenha percebido a dimensão do peso do cargo. É natural. É uma personagem relativamente nova. O cargo é uma responsabilidade tremenda para alguém com 39 anos, desde logo porque a França tem capacidade nuclear”, referiu.

Mesmo assim, frisa, verificou-se uma tentativa de unidade porque Macron é consciente de que muitos eleitores votaram contra Marine Le Pen e não por convicção em relação ao programa que ele próprio apresentou.

Segundo Pires de Lima, Macron vai precisar de “muitas respostas” e num período de tempo muito curto, sobretudo no que diz respeito à desindustrialização do nordeste francês e sobre o “desencanto” geral, que marca a identidade dos eleitores que votam na Frente Nacional.

O plano económico vai ter de ser “forte” sendo certo que Macron vai enfrentar muitas resistências internas, sendo que o novo chefe de Estado vai ter de afinar o discurso “muito entusiasta sobre um certo federalismo europeu” percebendo qual é a reação em Berlim, após as eleições gerais na Alemanha marcadas para setembro.

Pires de Lima explica que, tendo em conta as legislativas de junho, o sistema a duas voltas, beneficia as máquinas implantadas no terreno.

Por isso, o Partido Socialista e os Republicanos precisam de um bom resultado nas eleições gerais, mas, realçou, que na noite de domingo verificou na capital francesa “um sentimento de alívio”, sobretudo entre os eleitores mais jovens.

“Isto é um balão de oxigénio para a França e para a Europa”, afirma sublinhando que é preciso perceber se o movimento que é assente na figura de Emmanuel Macron tem sucesso enquanto partido no quadro de eleições legislativas.

“Aquilo que as sondagens indicam é que o Movimento de Macron vai ter mais sucesso do que se espera mas que o voto útil no Partido Republicano para contrariar a ascensão da Frente Nacional também vai ser uma certeza”, concluiu Bernardo Pires de Lima.

O centrista Emmanuel Macron obteve 66,06% dos votos na segunda volta das presidenciais francesas, contra 33,94% da candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, quando estavam contados 99,99% dos boletins.

A abstenção foi de 25,38%, a mais alta numa segunda volta das presidenciais francesas desde 1969, como apontavam as projeções.

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