Com uma estrutura muito bem organizada, a Federação Inglesa de Futebol tem feito de tudo um pouco para mudar o paradigma dos últimos anos do futebol do país.

O que é certo é que, até ao momento, não o tem conseguido.

Desta feita, depois de muitos treinadores que não pareciam estar em linha com a forma de pensar da Federação, pelo menos pelo seu passado e formas de encarar o jogo, o organismo parece ter acertado ao escolher Gareth Southgate. Um treinador jovem, com ideias semelhantes às da Federação e, principalmente, com larga experiência dentro da sua estrutura, já que veio dos escalões mais jovens diretamente para a selecção principal.

O início é promissor e as mudanças já se fazem sentir. Ainda assim, irá Southgate ‘all the way’ - até ao fim?

Um pequeno ‘grande’ passo

Sempre com expetativas irrealistas em relação à qualidade e características dos jogadores que tinham ao seu dispor, nunca nenhum selecionador, nos últimos anos, arriscou e tentou mudar o rumo da seleção inglesa.

De facto, existem estratégias que servem mais uns jogadores que outros e poderão ou não haver jogadores com determinadas características. Além disso, muitas vezes os melhores não são, de facto os melhores: são os mais experientes, aqueles que vão à seleção há anos e que têm um estatuto muitas vezes complicado de alterar.

Na passada segunda-feira Gareth Southgate fez aquilo que poucos, ou nenhum, selecionador inglês terá feito. Veio a público dizer que se o capitão da selecção não joga regularmente no seu clube — referindo-se a Wayne Rooney — é natural não ser convocado. Ainda mais importante que isso, veio a lume dizer que, quer queiram quer não, a realidade é que a Inglaterra não está perto do palco mundial no que à qualidade e resultados diz respeito.

E este era o pequeno passo que faltava para que a seleção inglesa possa virar a página e tentar voltar a ser competitiva, para tentar também ter mais hipóteses de voltar a ganhar um troféu internacional. O ponto de partida foi dado, mas será por si só suficiente?

Os escolhidos para a revolução

O passo seguinte envolve a convocatória. Com jogadores de qualidade mas que param constantemente devido a lesão, como são os casos de Jack Wilshere, Danny Welbeck ou Daniel Sturridge, a selecção terá que apostar numa estratégia mais objetiva e começar a construir de trás para a frente, com jogadores que possam regularmente dar o seu contributo e, não só isso, que se ajustem às características que a equipa deve ter.

Não é segredo para ninguém que a Inglaterra está a tentar produzir, com mais frequência, jogadores tecnicamente mais evoluídos, que não sintam a pressão de ter a bola nos pés. Mas como isso leva o seu tempo e o número de jogadores de qualidade surgirá lentamente, a estratégia terá que passar por outra via.

Mais do que ter bons jogadores, numa seleção o importante é que se saiba como se vai jogar e, se possível, aproveitar o trabalho feito pelos clubes nacionais — como foram os casos da Alemanha, com a maioria dos jogadores a serem fornecidos pelo Bayern de Munique e Borussia de Dortmund, e claro, a Espanha com o grosso de jogadores oriundos do Barcelona. Estando a segunda hipótese fora de questão, já que não há nenhum clube do top 6 inglês que se destaque por ter três ou mais jogadores ingleses em posições ‘cooperantes’ no onze inicial, resta-nos a hipótese do treinador perceber qual a melhor forma de jogar para ganhar aos melhores da Europa e do mundo.

A mini-revolução de Gareth Southgate na convocatória tem como objectivo começar a mudar essa mentalidade e desde já tem vindo a apresentar cinco novas caras:

Michael Keane, um defesa central ao serviço do Crystal Palace, que apesar da não tão boa época do seu clube, a nível individual tem dado nas vistas e conta com uma percentagem de desarme de 80%.

James Ward-Prowse e Nathan Redmond, companheiros de equipa de Cédric Soares no Southampton. Ward-Prowse é o motor do meio campo, enquanto Redmond é responsável pelas arrancadas loucas no contra-ataque que na época transacta era efetuadas por Sadio Mané.

Jake Livermore, o médio ‘faz tudo’ que tem ajudado o West Bromwich Albion a fazer uma excelente campanha esta temporada.

Michail Antonio, o rapidíssimo extremo do West Ham United que, infelizmente, acabou por ter que abandonar o estágio durante a semana, devido a lesão.

A juntar a estes nomes estão, claro, os de Dele Alli, Harry Kane, Adam Lallana, Eric Dier, Danny Rose, Chris Smalling, Kyle Walker ou Marcus Rashford, a maioria jogadores "novos" na equipa nacional inglesa e com grande futuro à sua frente mas que, por razões óbvias, levarão tempo a consolidar-se como seleção e a habituar-se aos principais palcos do futebol europeu e mundial, nos momentos de grandes decisões.

Esta convocatória é um excelente começo, mas penso que a revolução teria que ser ainda profunda. Não só ao nível da convocatória, como ao nível do estilo de jogo adoptado. Mas repare-se, Southgate nunca o faria porque (e com toda a certeza está estipulado no seu contrato) quer jogar um certo tipo de futebol. Esta é a filosofia da Federação e é assim que vão seguir em frente.

Contudo, existem três nomes que Gareth Southgate poderia incluir na sua convocatória que, não obstante poder tornar o seu jogo mais previsível, dar-lhe-ia daria ‘outro’ tipo de argumentos para, quem sabe, bater-se pelos lugares cimeiros das competições vindouras:

Andre Gray, jogador do ano na Championship, em 2016, Gray é um jogador de raça que não dá uma bola como perdida e poderia ser uma óptima opção para a segunda linha da seleção.

Adam Clayton, que, ao serviço do Middlesbrough, é mais um exemplo de que, por vezes, a performance do clube não se reflete directamente num jogador. Clayton um médio que luta os noventa minutos e, por certo, um dos elementos que poderia encaixar perfeitamente no meio campo inglês.

Danny Drinkwater, um dos melhores jogadores do ano passado, ajudou o Leicester a tornar-se campeão e, depois de uma queda de rendimento, vê-se agora a recuperar e a jogar novamente ao mais alto nível. Sofreu uma das maiores injustiças da convocatória inglesa, ao não ser chamado para o Euro 2016.

Com um estilo de jogo mais calculista em mente, estas seriam escolhas que poderiam ajudar a seleção inglesa a voltar a orgulhar os seus adeptos. Com força, paixão e um contra-ataque demolidor, esta Inglaterra poder-se-ia intrometer na luta de tubarões que será o próximo Mundial.

Ainda assim, não é isso que Southgate e a Federação têm em mente. Como se esperava e como se pôde notar no jogo da passada quarta-feira (frente à Alemanha, na despedida de Podolski da seleção alemã), a Inglaterra vai jogar um futebol pressão alta, de posse de bola e apenas a espaços vai defender recuada e esperar a melhor ocasião para contra-atacar. Nesse mesmo jogo, e apesar da derrota por 1-0, a Inglaterra foi, de facto, superior. Criou mais ocasiões, e poderia, com um pouco mais de acerto, levar de vencida a Alemanha de Joachim Löw.

O problema estará nos jogos a ’doer’, quando a posse lhes for oferecida de bom grado, ou quando a posse não lhes for dada a qualquer custo. Nessa altura, os nomes referidos acima, poderiam vir a servir outro tipo de jogo, para o qual a selecção inglesa terá que estar preparada se quiser vir a concretizar o objectivo delineado: ganhar uma competição internacional a curto prazo.

Este fim de semana a emoção da Premier League pára mas a selecção inglesa joga um jogo de qualificação a contar para o Campeonato do Mundo 2018 a realizar-se na Rússia. O embate será contra a Lituânia e espera-se que Gareth Southgate e os seus pupilos consolidem a sua forma de jogar. A Inglaterra encontra-se no primeiro lugar do grupo com 10 pontos, mais dois que a Eslovénia.

Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra e tendo passado por clubes como o MK Dons e o Luton Town, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24.

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