Para que não haja dúvidas: o presidente Bruno de Carvalho tem-se queixado nos últimos dias da necessidade de militância no clube leonino - a avaliar pelas filas que serpenteiam o pavilhão João Rocha, em Lisboa, está, para já, garantida uma enorme (se não mesmo histórica) adesão à Assembleia Geral Extraordinária (AG) no Sporting Clube de Portugal.

Desde as 12h00 de hoje que decorre o processo de credenciação no pavilhão ao lado do estádio José Alvalade. A partir das 14h00 será dado o início à tal AG que irá sufragar a continuidade dos órgãos sociais do Sporting Clube de Portugal. Quem já não tiver lugar sentado no pavilhão, pode acompanhar através de videoconferência no Multidesportivo de Alvalade. A avaliar pela multidão, não será fácil adivinhar que esse espaço será aberto.

Jaime Marta Soares surgiu sorridente perante a “resposta” dada pelos associados do clube leonino. Referindo que as expectativas para o dia de hoje estão altas, quando confrontado com o desempenho e com a continuidade de Bruno de Carvalho à frente dos destinos leoninos lembrou que "qualquer homem tem virtudes e defeitos" e que espera que nesta AG se criem "condições para o presidente trabalhar sem tantos 'grupinhos'".

Já Pedro Paulino, um dos tais sócios que Bruno de Carvalho identificou numa lista e que convidou para uma sessão de esclarecimento, à entrada para o local onde decorrerá a AG, em declarações ao SAPO24, foi lapidar sobre o tema mais quente em discussão. Não evidenciando incómodo com qualquer regulamento que venha a ser criado, alertou para o perigo de “meios fáceis de perseguição” que possam advir do mesmo, sendo que, na sua opinião, o atual presidente “tem facilidade neste campo”.

Muito se tem discutido nestes últimos dias sobre o que está em cima da mesa para ser sufragado. Depois da discórdia levantada nos pontos 6 e 7 durante a Assembleia Geral de 3 de fevereiro, que levaram mesmo à saída prematura do Conselho Diretivo dos trabalhos então a decorrer no Pavilhão Multiusos, o presidente Bruno de Carvalho decidiu elevar a fasquia para hoje.

créditos: Miguel Morgado | MadreMedia

Em cima da mesa colocou uma espécie de “bomba atómica” assente nos seguintes pontos: 75% dos associados devem votar a favor das alterações ao estatutos (votadas em bloco) e ao regulamento disciplinar; adicionalmente, deverá também ser “referendada” a continuidade dos órgãos sociais do clube (aqui, aparentemente, sem a obrigatoriedade dos 75%, segundo esclarecimento prestado ontem pelo Sporting CP). Caso estas premissas não se verifiquem, haverão eleições antecipadas nos leões. A votação dos três pontos será secreta, com três boletins depositados em urna. Votos nulos e abstenção contam como votos contra.

Uma vontade de presidencialismo. Listas, militâncias e lei da rolha.

Desde os acontecimentos do passado dia 3, Bruno de Carvalho listou 49 nomes (a tal lista de Schindler como tem sido referida), chamou-os para uma sessão de esclarecimento (apareceram cinco) e convocou jornalistas e opinadores (de 35 responderam à chamada 6). E desmultiplicou-se em declarações públicas, ora a órgãos de comunicação social ou nas redes sociais. Não anunciou a demissão, nem colocou o lugar à disposição. Mas sua continuidade foi colocada na mão dos sócios e na aprovação das alterações acima referidas. Ou seja, “ou há três sim, ou sopas”.

Num encontro com jornalistas, Bruno de Carvalho tentou ser claro. Falou de uma “linha que separa a opinião pública da calúnia”, da necessidade de “militância” (cuja resposta dos associados hoje parece comprovar que há), que sem sportinguistas atrás deles matam-no, da necessidade de uma “maioria silenciosa” se tornar uma “maioria ruidosa” e não deixar que seja a “minoria ruidosa” a mandar, e de um regulamento disciplinar que “não existe”. Acima de tudo, sublinhou que “90% das alterações até são linguísticas. 5% ou um bocadinho mais têm a ver com questões disciplinares, com a introdução do novo regulamento disciplinar. Depois, 2,5% têm a ver, de facto com o modelo presidencialista que se quer, e que é normal para um clube desta dimensão”, explicou.

Atualmente, conforme reconhecido pelo próprio presidente, não há um regulamento disciplinar. A proposta define infrações disciplinares e uma garantia de audiência prévia de qualquer sócio visado antes de qualquer deliberação do Conselho Fiscal e Disciplina. E elenca os direitos e os deveres dos sócios, definindo uma série de atos e comportamentos que serão considerados lesivos à instituição. Ora esta redação tem gerado alguma discussão. Em especial, as mudanças no regulamento disciplinar que prevêem um agravamento do período máximo de suspensão de sócios de um para oito anos (caso o sócio voluntariamente deixe de o ser enquanto decorre o processo disciplinar para a sua expulsão) para infrações às normas. Sendo aprovado na AG deste sábado, o regulamento entrará imediatamente em vigor.

Ora é neste ponto – a introdução do tal regulamento disciplinar versus o modelo presidencialista - que se assiste a alguma contestação. O candidato derrotado nas últimas eleições, Pedro Madeira Rodrigues, José Roquette, ex-presidente do clube, em entrevista o jornal Público, Vasco Lourenço e Marçal Grilo, dois conselheiros leoninos que apresentaram a sua renúncia ao cargo que tinham no Conselho Leonino ou Sérgio Abrantes Mendes, que na década de 80 do século passado desempenhou o cargo de presidente da Mesa da AG e foi candidato às eleições de 2011 e 2013, foram unânimes na crítica a estas alterações estatutárias, criticando a extinção do Conselho Leonino e do fim da utilização do método de Hondt para eleger os membros do Conselho Fiscal e Disciplinar, alertando também que as punições não são mais que uma tentativa de silenciar (uma lei da rolha) ou afastar opiniões contrárias ao presidente do Conselho Diretivo que, avisam, quer perpetuar-se no poder.

Nas alterações estatutárias que hoje serão sufragadas está também previsto o fim do Conselho Leonino tal como tem sido conhecido até então, sendo proposto alteração ao artigo 34.º dos estatutos que o risca da lista de órgãos sociais do clube. Isto é, os seus 50 membros deixam de ser escolhidos pela via eleitoral.

Em março do ano passado, Bruno de Carvalho, recorde-se, foi reeleito Presidente do leões com 86% dos votos, contra menos de 10% da lista encabeçada por Pedro Madeira Rodrigues. Hoje, a fasquia, apesar de alta, baixa para 75% (no que respeita à aprovação das alterações que propõe). Adicionalmente, será também sufragada na Assembleia Geral a continuidade dos órgãos sociais.

Caso se verifique a queda dos órgãos sociais, o artigo 46.° dos estatutos prevê a marcação de eleições para data não posterior a 45 dias a contar da cessação do mandato, cabendo ao presidente da Mesa da AG esse ato