Do topo da classificação até aos últimos classificados, olhemos então para as trocas de treinador mais significativas nesta Ledman LigaPro.

Não iremos falar de todas as trocas (o Fair Play já tinha visto algumas das opções de mercado de cada clube), só daquelas que tiveram um impato positivo ou negativo, tentando perceber o porquê da troca e se isto "belisca", de certa forma, os projetos em causa.

Matosinhos, porto e talento e porto das trocas

O Leixões está a lutar pela subida de divisão, mas nem isso significa a permanência do mesmo treinador desde o início da temporada. Porquê? Porque ao fim de 7 meses de temporada, os "Bebés" já trocaram de Homem do Leme por quatro vezes: Daniel Kenedy (saiu à 3.ª jornada), João Henriques (contratado pelo Paços de Ferreira, ficando no clube até à 19.ª ronda), Malafaia (adjunto de João Henriques, assumiu o clube durante 4 jogos) e Francisco Chaló são os nomes dos homens que já passaram pelo banco do clube de Matosinhos.

A saída de Kenedy, devido a um início de temporada com vários pontos baixos, deu lugar à aposta no seu então adjunto João Henriques. E a aposta não podia ter sido mais ganha: o clube passou do 15.º lugar para uma posição cimeira da tabela, chegando a estar em 3.º lugar (durante a 12.ª e 13.ª jornada).

Mesmo com uma descida ligeira, o clube esteve sempre muito bem classificado e com claras hipóteses de subir de divisão, apresentando um tipo de jogo bem dinâmico, esticando as linhas e apostando na criatividade de jogadores como Breitner, Brandão ou Bruno Lamas e na eficácia e capacidade de recuperação de Eustáquio ou Luís Silva.

O excelente trabalho do técnico valeu-lhe o interesse do Paços de Ferreira e João Henriques seguiu para a Capital do Móvel. Com a sua saída, o Leixões optou, mais uma vez, por promover alguém "da casa", tendo Malafaia sido o escolhido. Com 5 pontos conquistados em 12 possíveis, o clube virou-se então para Francisco Chaló, apostando no experiente técnico como o homem certo devolver os leixonenses ao principal escalão do futebol nacional.

O treinador que rescindiu há pouco mais de uma semana com o Académico de Viseu, tem assim em Matosinhos mais uma oportunidade para lutar pela subida de divisão, algo que não aconteceu nas suas passagens pelo SC Covilhã, Penafiel ou Feirense.

Só o tempo vai dizer se as ideias e forma de estar de Chaló, já que é um treinador mais de bloco "pesado", com lançamento em profundidade, com pouco jogo a circular pelo meio, algo que o Leixões tem feito bem.

Nem a saída de Vieira atrapalhou a Briosa

A Académica de Coimbra sonha com o regresso à Liga NOS e nem a saída (a mal) de Ivo Vieira para o Estoril parece ter beliscado esse objetivo, com o plantel a segurar o 2.º lugar neste preciso momento. A Briosa tem espelhado um certo domínio dentro das quatro-linhas, com uma equipa bem articulada, organizada e inteligente, onde Chiquinho tem sobressaído.

Ivo Vieira ficou nos estudantes até à 13.ª ronda, galgando "metros", dando a volta a um tremido arranque de época com 4 pontos conquistados em 5 jogos, que começava a preocupar os adeptos com a possibilidade do clube efetuar outra temporada abaixo do expectável. Porém, o plantel e o treinador deram a volta à situação, e o clube começou a recuperar o fôlego, conquistando vitórias e resultados positivos passando de um 18.º para o 8.º lugar, com o olhar já posto na subida. Contudo, o Estoril surgiu no horizonte e Ivo Vieira não recusou o convite para regressar à Primeira Liga, rescindindo unilateralmente com os academistas, para "tristeza" da direção da Briosa.

Mas ,para grandes males, grandes remédios. A Académica não perdeu tempo e contratou um treinador já com alguma experiência na principal divisão de futebol em Portugal: Ricardo Soares, técnico comandou o plantel do GD Chaves e o CD Aves nos últimos dois anos, sendo despedido dos avenses ao fim de 9 jornadas.

A chegada de Ricardo Soares coincidiu com o melhor momento da Académica, já que conquistaram seis vitórias em dez encontros, impondo-se a equipas como o FC Porto "B", o SC Covilhã ou o Varzim. Como jogam com o técnico que os guia desde o 14 de Novembro? Grande preponderância no centro do terreno, trabalho articulado na defesa e um ataque inteligente, dinâmico e com muita "manha".

Com Soares, a formação de Coimbra tem cimentado o seu lugar no topo da tabela. A troca não só beneficiou a Académica como catapultou para o top-2 da Ledman LigaPro.

União em busca de rumo e em busca de treinador

A temporada do União da Madeira tem sido muito delicada. Vários resultados negativos levam a que os madeirenses estejam neste preciso momento a lutar para não descer ao Campeonato de Portugal. Um plantel com vários "buracos", uma SAD com problemas financeiros e um clube à procura de rumo, acabam por ser elementos inflamáveis e nocivos para qualquer equipa. Paulo Alves foi o primeiro a tentar guiar o União na Ledman LigaPro, mas só aguentou até à 10.ª jornada.

O início até foi bastante bom, com o União a vencer a Académica por 3-0 em casa, provocando um certo alvoroço com a perspectiva de subida... Porém, o pesadelo começou logo na semana seguinte na visita ao campo do Gil Vicente, registando-se o primeiro de sete encontros consecutivos sem sentir o sabor da vitória. Paulo Alves só teve "culpa" em seis desses encontros, tendo rescindido a 2 de outubro.

Perante a indefinição e a falha nas negociações com Jorge Costa (um dos possíveis interessados no lugar e que tinha sido despedido do Arouca há pouco tempo), a direção optou por José Viterbo, que liderava a formação dos unionistas. O técnico, que já orientou a Académica, tentou devolver a esperança ao clube, mas, como o seu antecessor, acabou na porta de saída. Viterbo somou seis derrotas em oito jogos, o que condenou, ainda mais, ao União ficar nas posições mais baixas da Segunda Liga. O conimbricense também pode reclamar de alguns problemas internos no clube, já que vários jogadores rescindiram contrato ou foram suspensos por salários em atraso.

O caos classificativo, a pouca qualidade coletiva e a falta de condições estruturais podiam afastar qualquer técnico deste projeto, mas Ricardo Chéu não virou as costas ao desafio e, depois da saída de Viterbo, assinou contrato por uma época. Para já os resultados estão a ser satisfatórias, se compararmos com o que foi o resto da temporada: duas vitórias, dois empates e duas derrotas que, contudo, ainda não chegam para sair do 16.º lugar, a 7 pontos do último classificado, mas com o penúltimo a dois.

Professor Cajuda, da China para Viseu

O Académico de Viseu estava a fazer uma bela temporada, destacando-se no topo da classificação durante largas jornadas. Contudo, de há algumas semanas para cá, alguns resultados menos positivos permitiram que o FC Porto "B", Académica e Arouca ultrapassem o Académico que, a partir da 17.ª jornada, perdeu 16 pontos em sete jogos.

Francisco Chaló, que comandava os viseenses desde o início da temporada, não aguentou a pressão e terminou a sua relação com o clube a 6 de fevereiro, no meio de problemas entre a direcção e os sócios, devido à venda da SAD.

Para o seu lugar foi contratada uma cara bem conhecida dos bancos nacionais, que regressou assim ao futebol português: Manuel Cajuda.

O treinador, que nos últimos anos passou pela China, pelos Emirados Árabes Unidos e pela Tailândia, volta desta forma a Portugal para tentar aquilo que conseguiu na época de 2006/2007: subir de divisão (na altura conquistou a subida ao serviço do Vitória de Guimarães).

O Académico joga um futebol de lançamento em profundidade nos corredores, com os laterais a ter uma grande importância no jogo ofensivo (o caso de Joel Pereira é singular, sendo um dos melhores laterais desta Segunda Liga). O meio-campo defensivo é outro dos "segredos" que Chaló explorou bem, ao passo que o ataque acabou por ser um empecilho para a continuidade do técnico em Viseu. Será que Manuel Cajuda conseguirá dar a volta ao problema?

José Augusto deu o mote aos serranos

O Sporting da Covilhã é uma das equipas mais "italianas" das divisões profissionais em Portugal: possui a melhor defesa da Ledman LigaPro (20 golos) e o segundo pior ataque da mesma divisão (22 golos)! A cereja em cima do bolo é o facto de estarem a seis pontos do 2.º lugar e a três do 3.º (que neste momento dá a promoção pelo facto do FC Porto "B", que não pode subir, se encontrar no 1.º lugar), algo impensável para um início de época em que somaram quatro derrotas, um empate e uma vitória.

Filipe Gouveia, o timoneiro, estava a ter sérias dificuldades em dar a volta aos resultados dos serranos, num plantel praticamente "novo" (15 caras novas), acabando por sair, alegando motivos pessoais, em setembro passado.

Para o seu lugar chegou José Augusto, ex-diretor desportivo e treinador do Portimonense. E os resultados foram arrasadores: durante oito encontros seguidos, o Sporting da Covilhã não conheceu o sabor da derrota, mostrando-se uma equipa quase impossível de ultrapassar na defesa.

Pra isso muito contribuiu Igor Rodrigues, guarda-redes emprestado pelo SL Benfica "B", tem sido um gigante entre os postes, e que faz boa parelha com Zarabi e Joel no eixo-defensivo, auxiliados por Paulo Henriques e Dias nas laterais. Este "músculo defensivo" tem dado resultados, com o Sporting da Covilhã a estar, neste momento, num confortável 9.º lugar da Segunda Liga, a 5 pontos do 3.º classificado.

Há ainda outros casos que vale a pena mencionar, como o Arouca (saída de Jorge Costa em setembro para a entrada de Miguel Leal, com o clube a passar de 17.º para 4.º), o Cova da Piedade (Bruno Ribeiro tirou o clube de um perigoso 16.º lugar para o actual 12.º), ou o Penafiel (Armando Evangelista tem sido um sucesso, já que agarrou no plantel em setembro e devolveu a esperança da subida aos penafidelenses).