Tratar da transparência para começar a falar de futebol. Assim se pode resumir a intervenção de Gianni Infantino, presidente da FIFA, que encerrou o terceiro e último dia das Football Talks, fórum de futebol organizado pela Federação Portuguesa de Futebol que decorreu no Centro de Congressos do Estoril e que trouxe a Portugal diversos stakeholders do futebol mundial.

Para o presidente da FIFA que sucedeu a Joseph Blatter, herdando uma organização debaixo de suspeitas e acusações, não basta só falar de transparência e Governance (boa governação), “temos que vivê-la”. E essa é a responsabilidade dele e a tarefa de todos os “novos líderes” eleitos num passado recente. “Temos que ser profissionais e sérios”, assume o italo-suíço que considera que, “para além de jogar futebol, não há nada melhor do que falar sobre futebol”.

E nesse caminho para falar de e sobre futebol, tratado que, ao longo do último ano, foi o enfoque na transparência, Infantino elencou as medidas que levou a cabo dentro da organização que tem sede em Zurique, na Suíça, e que é replicada por todas as Confederações a nível mundial.

Desde logo, ao estabelecer um tempo limitado para o exercício de mandatos do presidente da FIFA. Mas não só. Saber quem são e aferir da idoneidade de quem assume os cargos é outra preocupação no topo da agenda. “Fizemos um 'check' à integridade dos membros FIFA para seguir com o processo de elegibilidade”.

Para o Conselho da FIFA está reservado um “novo papel”, ficando responsável pela “estratégia, não havendo risco de os interesses pessoais terem impacto”, disse. “Hoje há membros independentes nos Comités. 50% são independentes e não amigos do presidente ou membros de associações”, explicou.

“Tudo está aberto e isso é Governance (boa governação) colocada em prática”, assumiu. E a abertura pode ser vista em várias matérias, esclareceu. “Nos direitos televisivos ganham os melhores”, exemplifica. Nas operações de bilhética “há um maior controlo, em especial nos mundiais. Estamos a trabalhar de perto com quem os organiza”, continuou. E atualmente, na FIFA, “há um compliance que fecha toda a atividade comercial”. E há transparência para “onde o dinheiro corre”, sublinhou.

“Se tivermos transparência financeira, resolve-se 95% dos problemas da FIFA”, assume. Para Infantino, não há que “ter medo de explicar tudo e mostrar números”. Nem que seja o salário do presidente. “É público e publicado”, releva.

As associações e confederações também não estão à margem desta caminhada pela transparência. Recebem dinheiro - mais dinheiro hoje em dia-, a FIFA sabe onde é aplicado e quanto é gasto. “Não damos envelopes com 500 milhões e dizemos organizem o Mundial”, referiu. “Pedimos a cada uma das associações para assinar connosco contratos para controlarmos os gastos”, continuou referindo ainda que a FIFA está hoje a “gastar dinheiro onde deve ser gasto”.

A FIFA também quer proteger o arbítrio. E avançou com os testes do vídeo árbitro. “No campo, naqueles segundos, todos sabemos que o árbitro errou, menos o próprio, por isso se pudermos ajudar devemos fazê-lo, por isso vamos lá fazer teste”, explica. “O pior que pode acontecer é na televisão não se ver se há erro, mas o lado positivo é que ajuda os árbitros a tomar a melhor decisão e ter menos decisão erradas. Queremos trazer transparência”.

Um Mundial a 48. E para Portugal, organizar sozinho, será difícil  

O calendário das competições é igualmente uma prioridade. E entra aqui o Mundial a 48 equipas? Infantino recorda a introdução de mais países sempre aconteceu. “Há custos iniciais, sim, mas temos receitas adicionais, o que significa que nos podemos concentrar no futebol. E o importante é saber o que fazer com esse dinheiro gerado e nós dizemos já que estamos a investir”, reitera. “Estamos a fazer pelo futebol para aumentar para 48 equipas. Não há melhor investimento”, disse, recordando o impacto da qualificação “num país e em mais países que tem o sonho de se qualificar”.

Sobre a possibilidade de regressar em Portugal - só em Portugal -, após a candidatura ibérica para o próximo Mundial ter sido perdida para a Rússia, Infantino diz que é "difícil": "É muito difícil Portugal organizar um Mundial sozinho, mas abrimos a porta a organizações conjuntas. Queremos um Mundial sustentado em que os estádios possam ser utilizados posteriormente".

Gianni Infantino quer “trazer de volta o slogan for the good of the game [pelo bem do jogo]. Estamos a fazê-lo”, garante.  “A FIFA pertence ao futebol. Quando sairmos, o 'jogo' está entregue”, esclarece. E depois da questão do Governance fechada e com a FIFA concentrada no seu core deixou uma promessa: “talvez daqui a dois anos possa só falar de futebol”, referindo-se ao próximo Football Talks, evento que a Federação Portuguesa de Futebol quer levar a cabo de dois em dois anos.

A conferência da Federação Portuguesa de Futebol, Football Talks 2017, terminou hoje, 24 de março no Centro de Congressos do Estoril. Reveja o acompanhamento do SAPO 24 aqui.