João Mário (Inter de Milão), William Carvalho (Sporting) e André Almeida (Benfica), internacionais A pela seleção nacional, têm, para além da profissão que exercem, um denominador comum. Os três partilharam em momentos diferentes das suas carreiras o mesmo personal trainer, vulgo PT.

Francisco Martins, assim se chama. Pelas suas mãos já passaram vários profissionais de futebol. André Carrillo (Benfica), que treinou debaixo da sua orientação quando estava sem competir, durante o período em que esteve suspenso no Sporting Clube de Portugal e antes de vestir a camisola do Sport Lisboa e Benfica, Manuel Fernandes (Locomotiv Moscovo), Miguel Veloso (Génova) ou Sílvio (ex-Benfica e ex-Atlético de Madrid, atualmente nos ingleses do Wolverhampton Wanderers), que recorreu aos seus serviços quando recuperava de uma longa lesão, fazem parte do portfólio de atletas de alta competição com quem trabalhou. Isso mesmo pode ser visto na sua página do Instagram onde se encontra também Slimani, antigo avançado leonino.

Mas voltemos a João Mário, William Carvalho e André Almeida. E a Francisco Martins, o PT que esteve na Universidade Europeia, em Lisboa, numa conferência dedicada ao tema “Treino personalizado para atletas de alto rendimento”, um debate que contou ainda com a presença de Gonçalo Álvaro, fisioterapeuta da equipa A de futebol do Sporting Clube de Portugal, e João Beckert, médico e fisiatra do Centro de Alto Rendimento do Jamor.

“Em regra, um preparador físico não tem tempo para fazer um trabalho especifico com cada um dos jogadores de um plantel. Eu faço esse trabalho personalizado e diferenciado”, começou por dizer. “Estudo a posição do atleta em campo e os treinos que tem no clube. A partir daí desenvolvo um trabalho especifico”, continua. “Para o central e avançado treino a força, para um lateral a velocidade e a aceleração”, exemplifica.

Num trabalho que surge, por norma, fora do período competitivo, antes da pré-época ou em pausas, o PT explica o que fez com cada um dos três internacionais portugueses. “Acompanhei a transferência de João Mário para Itália e a sua adaptação a novos métodos de treinos, diferentes do que fazia no Sporting”. Com o atleta a apresentar algumas “queixas nos gémeos”, durante as férias de natal, o plano de preparação passou por uma “avaliação ao nível da flexibilidade e mobilidade”. Para o leão William Carvalho, após sagrar-se campeão europeu e com a pré-época da sua equipa já a decorrer, Francisco Martins desenvolveu “um processo numa primeira fase de recuperação a que se seguiu um processo mais ativo”. Em relação a André Almeida, o plano “foi mais geral”, desenvolvido no natal de 2015, e passou por “força e parte aeróbica”, recorda.

Já Manuel Fernandes, ex-Benfica e antigo jogador do Bésiktas (Turquia), atualmente na Rússia, é mesmo um “cliente” fiel. “É um trabalho mais regular. Quando está em Portugal, ajudo-o”, disse, recordando porém que o jogador tem um personal trainer na Rússia e que “já tinha um quando estava no Valência” para trabalhar “força e ginásio”. Para Francisco Martins este é “um trabalho que o atleta sente que é essencial para a sua condição física estar a 100%”, diz.

Na mesma linha  - de ter um PT onde quer que jogue - está Douglas Costa, do Bayern Munique. Um hábito que trouxe da Ucrânia, no Shakhtar Donetsk. “A velocidade, a aceleração multidirecional, potência de arranque são características genéticas que, desde que potenciadas, fazem disparar a evolução. O Guardiola (à altura treinador do clube bávaro Bayern Munique) sabia e compreendia que ele tinha que ter um PT, um PT que estava em sintonia com o clube”, sublinha.

PT’s: cada vez mais requisitados por cada vez jogadores mais jovens. Mas não só

Adepto confesso do Sports Science, Francisco Martins esclarece que o trabalho que desenvolve com os atletas obriga-o a estudar cada vez mais. “Nunca estudei tanto, nem quando estava na faculdade”, confidencia. O trabalho que faz obriga-o a estar lado a lado com quem está a treinar. “Não prescrevo exercícios à distância. Não faz sentido um plano treino sem estar por perto”, assegura. “Os planos online não fazem sentido e são perigosos”, avisa.

Diz que hoje “está na moda o treino funcional” e há clubes que “não gostam de treino de força”. Francisco Martins recorda ainda que os atletas “já têm muita carga durante treinos, carga aguda e crónica”, pelo que o trabalho a desenvolver “tem de ser diferente, mais de recuperação”. Ao mesmo tempo, os “atletas vivem preocupados com prevenção lesões e fazem trabalho complementar e especifico fora clubes. Ganha o atleta e ganha o clube”, garante.

Por isso, longe vão os tempos em que um PT “é um simples treinador de enchimento muscular”. Francisco dá um exemplo. Ronaldo, pois claro. “Há uns anos atrás fazia um trabalho virado para a força. Mas aos 32 anos com os jogos que faz o trabalho é diferente. Mais recuperação, treino mental, físico, descanso e alimentação”, enuncia.

Francisco reconhece que o trabalho de personal trainer tem uma preponderância cada vez maior. E que hoje são cada vez mais os jogadores da formação que recorrem aos seus serviços. “Os miúdos a partir 18 anos começam a perceber que é a altura certa para desenvolver estas atividades e percebem com Gélson, Renato Sanches e André Silva – que até podem fazer trabalhos individuais nos clubes e não necessariamente a recorrerem a um PT – que a vertente física inserida no futebol, em sintonia com talento e genética, é hoje cada vez mais importante”, concluiu.