A bandeira portuguesa denunciou-os. Paulo Feijão, com uma bandeira às costas, juntamente com a mulher Carla e o filho Franclim, de 17 anos, também ele com o manto com as cores nacionais a cobrir uma camisola encarnada do Benfica. Os três passeavam para cima e para baixo na manhã do primeiro domingo de setembro, dia 3, na Calle Hoya de la Mora, perto do centro histórico de Alcalá la Real, cidade de Jaén, capital da província com o mesmo nome, na Andaluzia, Espanha.

A razão para ali estarem era só uma: o cumprimento de uma tradição familiar, com quase uma década, de juntos verem ao vivo “La Vuelta”, a Volta a Espanha em Bicicleta.

“Tudo começou quando o nosso filho tinha oito anos”, recorda Paulo Feijão. “Nesse ano, o Benfica tinha uma equipa de ciclismo com o José Azevedo e o Rubem Plaza. Passaram por Nisa. Nasceu aí a paixão pela modalidade e desde então, para além da Volta a Portugal acompanhamos, os três juntos, a La Vuelta”.

É assim que, desde esse episódio, todos os anos rumam a Espanha. “Um ano vamos para norte, no ano seguinte para sul”, conta Paulo Feijão, natural de Gavião, no distrito de Portalegre. Este ano o ponteiro da tradição familiar apontou para a Andaluzia, por onde andaram desde o último dia de agosto, tendo percorrido duas etapas de Montanha (Serra La Panera e Serra Nevada), outra de média-montanha (Antequera) e uma plana (Llana).

“Tentamos andar pela Vuelta entre três a cinco dias, sempre em locais próximos e fazendo a cada etapa dois ou três pontos, partida, chegada e o abastecimento”, sublinha Paulo que é bombeiro municipal no Gavião e responsável camarário com o pelouro da Proteção Civil. Os dias da Vuelta acontecem num verão nada fácil para a terra. Este ano “teve duas semanas difíceis a apagar os fogos” que assolaram a sua região. Quando fala disso o sorriso fácil até aí também se apaga, porque essas são memórias duras, bem diferentes do mundo das duas rodas.

“A bandeira portuguesa abre portas”

À partida para a 15ª etapa que ligava a localidade de Alcalá la Real a Alto Hoya de la Mora, na Serra Nevada, o ponto mais alto da Volta a Espanha com 2560 metros de altitude, o pai Feijão caminhava e ia trocando palavras com alguns “adeptos” vestidos a rigor com camisolas de diversas equipas e bandeiras dos respetivos países. Dizia-nos então que, na prova espanhola, a “bandeira portuguesa abre portas”. Porquê. “Há muitos mecânicos e massagistas portugueses por aqui. Por vezes, mais que os corredores nacionais”, frisou.

Mas não são só as Quinas a assumirem o papel de “facilitador”. Também a camisola verde da equipa Caja Rural Seguros que vestia o ajudou por terras espanholas. “Está assinada pelo André Cardoso que foi envolvido num caso de doping [está suspenso pela atual equipa da Trek-Segafredo onde pontifica Alberto Contador] e um dos diretores da equipa viu-me e convidou-nos para a tenda VIP que circula pelas etapas”.

Fã de Contador e colecionador de objetos de ciclismo

Franclim, federado no Eléctrico de Ponte de Sor, tem mais jeito com uma bola nos pés do que propriamente para pedalar. A mãe Carla assume que é ele - e a paixão que tem pelo desporto - o responsável por verem os ciclistas passarem todos os anos na Volta a Espanha em Bicicleta. “Andamos sempre os três juntos”, reforça.

A primeira vez, em Nisa, não sai da memória do filho Feijão. “Um ciclista atirou-me um bidão de água para as mãos”, recorda. “Desde então procuro colecionar tudo o que consigo que esteja ligado ao ciclismo, sacos, chapéus, bidões, corta ventos”, relata, acrescentando que, tendo ficado amigo de Sérgio Ribeiro, ficava “com as meias e chapéus da época” utilizadas pelo ciclista.

Franclim é fã assumido de Alberto Contador. Conta que no Algarve “tirou” uma fotografia com o ciclista espanhol de 34 anos que se despede a nível profissional das estradas depois da edição deste ano da prova espanhola. Antes da etapa, ladeado pelo pai enviou um filme em jeito de recado ao comentador de ciclismo da Eurosport, Olivier Bonamici. “Não apostes em Contador”, gritou.

Como verdadeiro adepto que, sempre que pode, segue o seu herói por todo o lado, plantou-se à porta do camião da equipa do ciclista espanhol (Trek-Segafredo) estacionado na Calle Hoya de la Mora, rua central em Alcalá la Real, na zona destinada às equipas profissionais de ciclismo. Enfrentou muitos minutos de espera e com um empurrão e outro à mistura conseguiu chegar à frente da fila de legião de adeptos que rodeavam, a uma distância de segurança, gritando o nome de “Contador”.

Hasteou a bandeira portuguesa na mão e esticou-a para recolher um autógrafo. Bem acenou e gritou para o seu herói, mas não teve sucesso. Nada que o tivesse deixado preocupado. Ao lado do pai e da mãe assistiu à partida dos ciclistas. “Vamos atrás até Granada e depois são sete horas até Gavião”, atirou, na hora da despedida, o pai, Paulo Feijão.

* Os jornalistas viajaram a convite do Eurosport

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