Numa época em que já vimos oito treinadores serem despedidos na Premier League, será de esperar que não fiquemos por aqui. E mais estranho que haver uma onda de despedimentos, seria haver uma onda de despedimentos e Roman Abramovich não contribuir para a mesma. Com doze treinadores nos quinze anos à frente do clube londrino, a paciência do magnata russo cede com facilidade perante maus resultados. E, assim sendo, tudo indica que Antonio Conte tenha a mesma sorte que os outros doze colegas de profissão e que, mais cedo ou mais tarde, saia do clube com a compensação financeira a que tem direito.

O fim e a causa (mais do que) prováveis

Uma coisa são rumores e especulações, outra é perceber-se que um treinador do Chelsea estará para ser despedido a qualquer momento. Ainda assim, muito se fala, maspouco se sabe. O que é certo é que a novela de desentendimento entre o italiano e o proprietário russo já vem do início da época e tudo aponta para que o fim seja o esperado: o despedimento do técnico.

Passado um ano da sua chegada a Londres, ninguém poderia imaginar que o treinador campeão em título estaria nesta posição. Mas num clube onde a instabilidade é a norma, estas descidas de rendimento da equipa são quase "habituais". Há claramente jogadores em sub-rendimento e não é a primeira, e muito provavelmente não será a última vez, que isso acontecerá no Chelsea de Abramovich. Os jogadores, principalmente os mais influentes no plantel, sabem que basta um ou outro resultado menos bom para que hajam mudanças. Desde cedo na época se fala da insatisfação de alguns jogadores com os métodos de treino de Conte, por exemplo. No fundo, bastou chegar o sucesso, para que começassem a haver problemas e, com eles, viessem os maus resultados.

Muito se falou dos jogadores que Conte queria contratar e que o Chelsea acabou por nunca fazer chegar. Desde então, o técnico italiano parece lutar contra o clube, e não pelo clube. Após vencer a liga no seu ano de estreia, o treinador terá pensado que agora teria um pouco mais de autonomia e que poderia levar a sua opinião e vontade avante. Mas parece que se enganou. Não é claro o papel de Conte nas contratações da equipa, e esse tem sido o fator principal do mau estar entre si e o clube. No Chelsea, não há espaço para egos e personalidades vincadas. Sempre que as houve, sabemos o que aconteceu.

Façamos agora um rápido exercício de memória sobre a política de contratações e dispensas dos Blues. Lukaku, Salah e de Bruyne, três dos melhores jogadores da liga neste momento, nunca tiveram oportunidade de brilhar pelo Chelsea aquando das suas passagens pelo mesmo. Nunca lhes foi dado o tempo e estabilidade necessária para tal. Estes são exemplos de como pode correr mal a política do imediato e dos resultados a todo o custo, sem pensar no futuro próximo. Sem termos que ir muito atrás no tempo, podemos para o dia 31 de janeiro deste ano onde, no último dia de mercado, vimos Michy Batshuayi deixar o Chelsea para dar a vez a um jogador mais experiente, Olivier Giroud. Não nos admiremos se virmos o avançado belga, num futuro muito próximo, e à semelhança dos três mencionados acima, ser alvo de uma transferência avultada, voltando aos relvados ingleses mas agora para representar outro qualquer clube que não o Chelsea.

O que mudou e quem mudou

Na época passada, o Chelsea apresentava uma folha disciplinar quase imaculada, com apenas uma expulsão em toda a época (contando com todas as competições). Já este ano, e para corroborar a falta de coesão da equipa e o facto de os jogadores não estarem todos a ‘remar’ para o mesmo lado, o Chelsea leva já sete expulsões, sendo quatro das quais em jogos a contar para a Premier League.

Para tal contribuem muitos fatores, mas um em especial: o papel de jogadores mais experientes no balneário. Nenhum treinador consegue fazer tudo sozinho e o controlo do grupo é, sem exceção, feito pelo próprio grupo e pelos seus elementos com mais anos de experiência e anos de ‘casa’. A perda de John Terry na época passada não apresentou qualquer fatura técnica, uma vez que o capitão não era opção. Contudo, o mesmo não se poderá dizer a nível psicológico. O internacional inglês e a sua influência já foram aqui analisadas, aquando do seu anúncio de saída do clube que representou durante vinte e dois anos, pelo que a saída do experiente capitão é, sem dúvida, uma das principais razões do sub-rendimento da equipa.

Um plantel, principalmente após conquistar títulos, precisa de certas alterações. Precisa de jogadores com vontade de ganhar mais troféus, e precisa de jogadores com consistência emocional que assumam a liderança e o rumo traçado pelo clube e treinador. E também não é possível deixar de apontar o dedo a Eden Hazard, que dá ao clube quase tanto quanto tira. Os rumores da sua saída não são de agora e a sua inconsistência e influência, a espaços, nos maus resultados da equipa e consequentes despedimentos de treinadores, também não vêm de agora. Todos nos lembramos do Hazard campeão com José Mourinho, e do Hazard da época seguinte em que Mourinho deixou o Chelsea a meio da temporada.

A história repete-se. Se os melhores jogadores não elevarem o nível da equipa com regularidade, toda a estrutura sofre com isso.

Quem se segue

Quando questionado sobre a sua permanência, o técnico referiu que tem dezoito meses de contrato. E claro que já todos vimos este filme. Quando um treinador remete o seu comentário para o período que lhe resta no contrato, é sinal que não faltará muito tempo para que algo aconteça. Nesta altura, o motivo mais provável para a permanência de Conte à frente dos destinos da equipa é a falta de sucessor. Não tendo Roman Abramovich conseguido (ainda) assegurar o próximo treinador para os azuis de Londres, não existe pressa em despedir Antonio Conte.

O que é certo é que os resultados estão a mudar rapidamente e os próximos jogos não se avizinham fáceis. Com dois jogos frente ao Barcelona, sendo que o primeiro é já dia 20 de fevereiro e que entre eles o Chelsea defrontará os dois clubes de Manchester (ambos fora de casa), a vida do técnico italiano à frente da equipa parece mesmo ter os dias contados.

Luis Enrique e Carlo Ancelotti parecem ser, não só as escolhas óbvias, como as mais prováveis tendo em conta os orgãos de comunicação ingleses. Serão eles a solução para o Chelsea? Será a posição de treinador o problema no clube? Nestes casos, temos tendência a forcar-nos no alvo mais visível. É verdade que Antonio Conte poderá ter culpas no cartório e até não ter o direito de exigir mais do clube, caso esteja bem claro no seu contrato que este não tem a palavra final na contratação de jogadores. Ainda assim, a estrutura dos Blues é, por diversas razões, a causa principal para os resultados menos bons da equipa. Não só pela política de contratações e de dispensas, mas principalmente pelo exemplo de instabilidade de anos e anos, o que leva a que os jogadores estejam mais em controlo da situação que o próprio treinador.

Seja quem se seguir, não terá um trabalho fácil pela frente. O poderio financeiro do Chelsea há muito que já tem par, e com José Mourinho e Pep Guardiola nas equipas de Manchester, e um Liverpool e um Tottenham com mais tendência a melhorar do que a piorar, não será fácil para os londrinos voltarem a vencer a Premier League nos próximos anos. Um grande investimento será obrigatório, independentemente do treinador aos comandos, e uma pequena revolução será necessária para que tal aconteça. Talvez o regresso de John Terry para a equipa técnica e o planeamento detalhado de um plantel que dê não só garantias imediatas mas também de futuro - já que o futuro próximo não é tão fácil de controlar como era há uns anos atrás e não poderá ser visto como a única solução - possam ser passos a dar no sentido dos Blues terem uma maior estabilidade e, consequentemente, ficarem mais próximos de ganhar.

Só o tempo nos poderá ajudar a responder a todas estas questões, mas o Chelsea é, com toda a certeza, o clube inglês a acompanhar de perto nas próximas semanas.

Esta semana na Premie League

Com mais uma jornada de sábado a segunda, temos um Tottenham vs. Arsenal a abrir as hostilidades, dia 10, pelas 12h30. Em relação ao Chelsea, terá a responsabilidade não só de fechar a jornada, como de enfrentar o último classificado, o WBA. Sem vencer há dois jogos, tendo sofrido sete golos e marcado apenas um, estamos todos curiosos para perceber qual a reação de Conte e da sua equipa ao mau momento que atravessam.