Após análise do calendário natalício, que escrevi aqui no início de Dezembro, é obrigatório ver agora como ficaram as contas da Liga Inglesa. Ainda assim, deixemos essa análise para a segunda metade deste texto, já que no fim-de-semana passado a liga deu a volta e entrámos na segunda volta do campeonato.

Campeão de inverno 

Na frente, e sem surpresas, está o Chelsea. A fórmula, desde a mudança táctica, tem sido simples e extremamente eficaz. Um meio campo super povoado, liberdade criativa aos mais dotados tecnicamente, médios muito subidos em posse de bola para precaver contra ataques e poder estar sempre em situações de criar perigo, com médios alas incansáveis e, por fim, com três defesas de características centrais para lidar com o factor físico e aéreo da liga mais competitiva do mundo. O Chelsea tem dominado os adversários e, principalmente, o ritmo dos jogos que disputa.

Contra 'grandes' e 'pequenos'

Hoje em dia os treinadores têm um ego cada vez maior e 'forçam' as suas filosofias de jogo, independentemente dos recursos que têm à sua disposição. Com Conte, que curiosamente começou por se ‘adaptar’, foi o facto de voltar a acreditar na sua 'defesa a três' que lhe tem valido tamanho sucesso.

Com Pep Guardiola, José Mourinho, Jurgen Klopp e Arsène Wenger, não se pode ainda afirmar que as suas crenças estejam a funcionar na perfeição.

Na análise dos pontos desperdiçados, Tottenham, City, United e Arsenal fazem da consistência a sua imagem de marca, com o número de pontos perdidos para rivais (consideremos os seis primeiros classificados) muito semelhante ao número de pontos perdidos para clubes com menores aspirações. Ainda assim, todos eles perdem pontos por razões diferentes.

O Tottenham, pela quantidade de pontos perdidos a jogar fora de casa. Se na tabela de ‘resultados em casa’ estão em segundo, a apenas um ponto do primeiro - Chelsea, claro - na tabela de ‘resultados fora’ encontram-se no sexto lugar da tabela. Com um plantel sólido, poder-se-á apenas justificar esta prestação com o facto de não terem um ou dois jogadores de classe mundial e de perder muitos pontos contra os mais directos rivais, tendo apenas ganho um jogo, na última quarta-feira, precisamente contra o Chelsea.

O City, pelas dificuldades encontradas nesta longa caminhada que Pep e seus pupilos abraçaram, que é a de se entregarem a 100% à filosofia de posse do treinador catalão. Com mais ou menos dificuldades, o City tem crescido com os erros cometidos e tirando a recente ‘disposição’ de Pep para com os media, os Blues têm tudo para melhorar, nomeadamente se reforçarem a equipa com mais um ou dois jogadores que facilitem o processo de posse e a criação de oportunidades de golo. Com isso, o clube de Manchester terá capacidade para lutar pelo título até à última jornada. Resta saber se é já esta época ou se será apenas na próxima.

O United, pela dificuldade em marcar golos durante muitos jogos e pelo tempo levado a encontrar uma dupla de meio campo que pudesse render Pogba sempre que este sobe no terreno. Estes dois factores, relevantes para os resultados menos positivos da equipa de Mourinho, podem ter levado os Red Devils a muito provavelmente hipotecar as suas hipóteses na corrida ao título. Contudo, a saída de Rooney do onze e a subida de rendimento de Henrikh Mkhitaryan são também factores extremamente importantes num United que se tem apresentado com novo fôlego nestes últimos jogos. De facto, e apesar de uma primeira volta menos boa, a equipa de Mourinho fez um final de primeira volta demolidor e espera-se que, com uma segunda volta superior à primeira, consiga atingir os lugares que dão acesso à Liga dos Campeões.

Por fim, o Arsenal. Para os Gunners a inconsistência não é uma novidade. Previ o Arsenal como o principal candidato a fazer o pior Natal dos seis primeiros e assim foi. Aos londrinos ter-se-á que atribuir o limitado plantel como causa principal à inconsistência de resultados. Assim que o ritmo de jogos aumentou, Alexis Sanchez desceu, naturalmente, o seu rendimento e, claro está, a equipa acabou por sentir isso na pele. Resta-nos imaginar onde estaria este Arsenal na tabela classificativa sem a estrela chilena.

Com uma tendência completamente diferente das equipas acima mencionadas, estão Chelsea e Liverpool. O clube de Conte teve tendência a perder pontos com os clubes rivais - nove pontos no total - e encontrou nos clubes mais pequenos, o seu pote d’ouro. Apenas dois pontos perdidos contra equipas mais pequenas, fazem-nos mais uma vez crer que a maioria dos campeonatos se ganham nos jogos teoricamente mais fáceis. A capacidade de pressão e de evitar contra ataques dos opositores fazem com que os Blues sejam extremamente eficazes nos jogos em que os adversários se tendem a ‘encolher’ e escolher o contra-ataque como arma favorita.

Já o Liverpool, é o oposto. Com apenas quatro pontos perdidos frente a rivais, é com os clubes pequenos que a entusiasmante equipa de Klopp deixa fugir a oportunidade de estar no topo da tabela. Com doze pontos perdidos em jogos teoricamente mais fáceis, a força avassaladora a subir no terreno acaba por nem sempre compensar as limitações quando toca a defender. As equipas que mais se fecham e contra atacam com mais ou menos pragmatismo parecem conseguir, de vez a vez, contrariar a equipa do alemão.

A tabela de Natal

Com o equilíbrio a pautar o intenso calendário natalício os destaques terão obrigatoriamente que ir para os extremos da tabela.

Como referido acima, o Arsenal fez um péssimo mês de Dezembro. Sem conseguir ganhar fora de casa, os comandados de Wenger parecem repetir a "proeza" dos últimos anos e não conseguir, mais uma vez, forçar a sua estadia no topo da tabela na entrada para a recta final do campeonato. Ainda que sem qualquer hipótese comprometida, os sinais não são positivos e prevê-se mais um final de época sem o título mais desejado para os Gunners.

No extremo oposto e com um Natal muito feliz, está o United de José Mourinho. Também como referido acima, desde que resolveu a questão do meio campo, retirando Fellaini e colocando Michael Carrick e Ander Herrera com mais regularidade, o United tem feito melhores e mais eficazes exibições. Deixando para Pogba um papel com menos responsabilidades defensivas e com uma maior liberdade para ser o jogador decisivo que tanto queremos ver, destaque ainda para Ibrahimovic e para o cada vez melhor entendimento entre o sueco e o francês, sinal de que os 'diabos vermelhos' podem fazer uma segunda volta em grande.

Com uma - mais que merecida, diga-se desde já - paragem no campeonato, a Premier League volta dia 14 e logo com um jogo de sonho, com o Manchester United a receber o Liverpool de Klopp dia 15 de Janeiro pelas 16h.

Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra e tendo passado por clubes como o MK Dons e o Luton Town, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24.

(Artigo corrigido às 12h12)