Era uma final e as finais são para se ganhar. Há precisamente um ano e três meses, Portugal entrou no Stade de France para ser “simples como as pombas e prudente como as serpentes”, viemos a saber pela voz de Fernando Santos numa entrevista à agência Ecclesia, em que contava a passagem do Envagelho lida naquela manhã do dia 10 de julho, alguns dias depois de Cristiano Ronaldo erguer a taça em Paris. Na Luz, pedia-se a prudência mas humildade também. A serpente e a pomba ficavam personificadas no banco: Éder e Renato Sanches, jogadores fulcrais em França viam a formação campeã europeia a entrar em campo sentados entre os suplentes.

À meia hora de jogo não havia nada mais do que gritos de café “Ah, se esta passasse”. Como quando aos 28 minutos, após um canto da Suíça, a defesa de Portugal tira para a frente numa bola que ia direitinha para Bernanrdo Silva e que só parou na mão de Freuler, que, na altura, viu o primeiro lance do jogo.

Desta vez, Bernardo Silva estava destinado a ser pomba e serpente. Rápido e sem medo de partir para cima dos adversários, o médio que atua na Premier League começou a mostrar-se logo nos primeiros momentos de jogo nos bons entendimentos com Cédric Soares, que morriam por terra nos momentos do cruzamento que o defesa do Southampton tantas vezes falhou.

O jogo fazia-se intenso e duro como uma final pede. Bem disputado, só que sem lances de perigo. Até que, após uma saída de contra ataque, Seferovic é derrubado dentro da grande área lusa por Eliseu, seu companheiro de equipa no SL Benfica, que o deixou estendido do chão à espera do apito que desse a grande penalidade a favor da sua seleção. Ao invés, o defesa esquerdo português conseguiu fugir ao apito e lançou Portugal para um ‘contra contra’ ataque. Lá na frente, contudo, o que falhava continuava a falhar — João Mário falhou o remate, Ronaldo também — até que a bola caiu nos pés de Bernardo Silva, o menino que voltava a casa, que num remate cruzado atirou ao canto superior esquerdo da baliza suíça. Era a primeira vez que se via luz, na Luz. E foi também o momento da primeira grande defesa da noite e de Sommer ficar bem na fotografia.

A defesa suíça não mostrava ter os buracos que o seu tradicional queijo costuma incluir e o ataque português funcionava como um relógio pouco helvético. Pareciam ser suíços a mais, e duros de roer, para portugueses a menos. E tal não era por acaso. Recorde-se que, a par da Alemanha, a Suíça era a única equipa a chegar à última jornada desta fase da qualificação só com vitórias.

Até que Sommer, que tinha brilhado minutos antes, resolveu dar uma "mãozinha" a Portugal. Aos 41 minutos, após um corte de Lichtsteiner sobre Ronaldo, Eliseu pegou na bola perdida e cruzou para área onde um ‘cocktail’ de atrapalhação entre João Mário, Sommer e um defesa suíço terminou com o um autogolo. Djorou foi infortunado. Portugal estava na frente e a Rússia começava a estar aqui tão perto.

Só que 1-0 não era assunto arrumado e Seferovic, aos 45 minutos, de costas para a baliza, ia fazendo abanar as redes que conhece tão bem, ele que é o único suíço que podia dizer que estava a jogar em casa.

O jogo foi para intervalo e a segunda parte começou com a Suíça a correr atrás do prejuízo. Aos 50 minutos, Shaqiri relembrou o aviso de Seferovic a Rui Patrício: não adormeças. Era um livre direto, mas o guarda-redes do Sporting CP estava atento.

Ronaldo precisava de espaço, do espaço que Lichensteiner não lhe dava (e não lhe deu, durante quase todo o jogo). Mas a equipa não desistiu do capitão: primeiro Eliseu, depois João Mário e finalmente, Bernardo Silva, tentaram assistir o capitão que, contudo, nunca conseguiu encontrar o caminho do golo.

Esta não era a noite de Cristiano. Era a noite dos mais novos e de um mais novo em especial, um que, no relvado da Luz, a balançar de um lado para o outro, fazia lembrar Chalana. Bernardo Silva era o homem que fazia mais por encurtar a geografia entre Portugal e a Rússia. E foi isso que fez. Depois de receber um passe de João Moutinho, Bernardo entrou na área e, colado à linha final, o médio agora comandado por Pep Guardiola olhou para o centro da área e cruzou. A bola sobrou para André Silva que, ao segundo poste e após uma pequena atrapalhação, colocou a bola dentro da baliza. Estava feito o segundo e o jogo praticamente "acabou".

Antunes entrou para refrescar a defesa (por troca com Eliseu), André Gomes veio para o lugar de André Silva, que brilhou num excelente trabalho de sacrifício, a defender e a atacar durante todo o jogo e, já no fim, Danilo Pereira substituiu João Mário. Do outro lado, a Suíça colocava o explosivo Embolo dentro de campo e apontava Shaqiri à baliza lusa. Mas Pepe, à frente da armada, tornava pouco fortuita qualquer tentativa de golo helvética.

No final, soubemos sofrer como temos mostrado saber. Defendemos. Fizemos o bonito. E no final ganhámos, como fizemos em França.

Rússia, aqui vamos nós.

Artigo atualizado às 21h58