Quando comparamos figuras do presente como Ronaldo e Messi, com figuras do passado como Maradona, Eusébio, Pelé, Bobby Charlton, Franz Beckenbauer entre outros, a primeira coisa que salta a à vista são as diferentes eras em que estes jogadores jogaram. E esse tempo, não há como compará-lo, não volta mais.

Há quem diga que, hoje em dia, Pelé não marcaria mil golos; para os outros, argumentos haverão para todos os gostos e feitios. Mas o que realmente interessa, na verdade, é que tais comparações não fazem sentido. À medida que o tempo passa, as condições de treino mudam, os hábitos dos jogadores e as suas alimentações são completamente diferentes, o jogo evolui, o mundo é diferente. Mais que saber quem é ou foi melhor ou pior, o que importa saber é quem ‘toca’ o futebol. Quem o transforma e o faz evoluir. Todos os que mencionem anteriormente o fizeram de alguma maneira e hoje focamo-nos num que também o fez: Sir Stanley Matthews

Muitos, como eu, ainda reconhecem o nome Stanley Matthews, mas desconhecem o futebolista que conseguiu reunir as condições e indicar, já na altura, que um jogador de futebol poderia não só ser uma estrela no campo, como também uma celebridade fora do mesmo.

O começo

Nascido em 1915, Stanley foi o terceiro de quatro filhos. Sendo o seu pai um pugilista semi-profissional, este reconheceu no seu filho capacidade atlética. Depois, em conjunto com a sua educação, enraizou os valores de dedicação e persistência que viriam a ser fulcrais no desenvolvimento das capacidades de Stanley enquanto futebolista e pessoa. De tal forma que, ainda que noutros tempos (lá está...!), Stanley Matthews tenha jogado ao mais alto nível até aos 50 anos de idade - leu bem, 50 anos de idade.

Numa era em que o dinheiro e o luxo não abundavam no mundo do futebol, o inicio de carreira de Matthews foi como o de qualquer outro jogador na altura. Assinando pelo Stoke City com 17 anos, não tardou a que, com o passar do tempo, a sua fabulosa aptidão para o jogo e o seu estilo irreverente rapidamente se fizessem notar.

Vestindo a camisola número 7, começou a ser conhecido como o ‘feiticeiro da finta’ e ‘o mágico’, tal a sua capacidade de desequilibrar e ludibriar os adversários no um-para-um.

“O que Matthews trouxe foi um nível de truques, fintas e imaginação que enchiam o olho” David Goldblatt, Historiador de Futebol

Hoje em dia admiramos jogadores e as fintas que fazem. Ora essas fintas tiveram uma origem, algures no tempo. Stanley Matthews não só desenvolveu e aperfeiçoou um tipo específico de finta, como a desenvolveu, trocando as voltas aos adversários que já se tinham adaptado à mesma, como pode ser visto no vídeo seguinte:

Mas Stanley não era "só" um jogador de futebol que sabia fintar bastante bem. Foi também um visionário na preparação dos jogos. Cultivando cuidados com a alimentação e com a preparação física, Matthews foi dos primeiros atletas a elevar o jogo a um novo patamar, aquilo que realmente faz dos grandes jogadores ‘grandes’, e o que na realidade os deixa na história do desporto e do futebol.

Adicionalmente, e devido ao seu estatuto, Sir Stanley conseguiu também fazer com que os ordenados dos futebolistas sofressem um aumento considerável, fez anúncios publicitários, foi a cara de marcas e teve, inclusivamente, a sua própria marca de botas de futebol.

Tendo jogado desde os dezassete anos no Stoke City, Matthews viu a sua carreira ser suspensa de forma involuntária durante a Segunda Guerra mundial devido à paralisação a Liga de Futebol inglês. Após restabelecido o desporto em Inglaterra, Matthews iniciou uma nova fase da sua carreira, transferindo-se para o Blackpool FC.

Ponto alto de uma carreira

Existem relatos de que mais de 10 mil pessoas se deslocavam aos jogos fora de casa apenas para poderem ver Stanley Matthews em ação. Afinal de contas, trata-se de um jogador talhado para grandes momentos. Sem desiludir, Matthews tem como marca de reconhecimento ‘a final de Matthews’. Depois de perder as finais em 1949 e 1951,  em 1953 viria a atingir um dos pontos altos da sua carreira: vencer a Taça de Inglaterra.

Frente a 80 mil pessoas, em pleno estádio de Wembley, Stanley Matthews consagrava-se como um dos grandes ícones do futebol inglês, ao ajudar a sua equipa a virar um resultado de 1-3 para 4-3 nos últimos vinte minutos de jogo.

Anos mais tarde, e ainda no Blackpool Stanley Matthews viria a ser coroado como o vencedor inaugural da Bola de Ouro.

“O Messi dos seus dias. Sir Stanley Matthews foi um dos grandes heróis deste país” Gary Lineker

Fim de Carreira

Em 1961, Stanley voltaria a representar as cores do Stoke City. Já com quarenta e seis anos, não só ainda jogou quatro anos ao serviço do clube de Stoke-On-Trent, como na sua estreia triplicou o número de especadores no jogo imediatamente antes da sua chegada.

O fenómeno não era apenas nacional, mas igualmente internacional. Em 1965, depois de realizar o seu primeiro jogo e de ser coroado com Sir Stanley Matthews pela realeza britânica, foi também denominado como o Rei do Futebol no Gana pelo seu trabalho com equipas jovens e apoio à comunidade por via do futebol. Entre outros feitos, Matthews foi uma figura ímpar no futebol dentro e fora dos relvados.

A grande desilusão, pelo menos de quem o acompanhava, foi este nunca ter podido representar a seleção inglesa num mundial. Ainda assim, as exibições pela selecção nacional foram sempre reconhecidas e terminaria a carreira com cinquenta e quatro internacionalizações e onze golos.

À semelhança do já aqui recomendado documentário ’89’, que conta a história de um dos melhores finais de campeonato inglês que o futebol alguma vez viu, hoje recomendamos ‘Matthews - The Original No 7' um documentário que retrata a vida de Sir Stanley Matthews, o jogador que revolucionou o futebol inglês.