“O Belenenses é o 4ª grande, sempre foi e sobre isso não há duvidas”. A certeza surge nas palavras de Patrick Morais de Carvalho, presidente do Clube de Futebol “Os Belenenses”, convidado do programa Nas Orelhas da Bola.

O responsável máximo do clube socorre-se de vários exemplos que vai buscar ao baú de memórias do futebol português. Desde logo por ter sido “até 1982”, a par com Sporting, Benfica e Porto, “totalista na 1ª divisão” e a “equipa com mais internacionalizações", a larga distância do 5º e 6º clube (Boavista e Setúbal), e de ter sido o “primeiro clube a marcar presença na extinta Taça UEFA”, enumera.

O Belenenses foi campeão nacional em 1946. O título, conquistado na última jornada, em Elvas, tem uma história curiosa por detrás, metendo o Benfica “ao barulho”. O jogo foi com o Sport Lisboa e Elvas “uma filial” dos encarnados, equipa que poderia ser campeã caso os azuis de Belém não vencessem no Alentejo. As águias enviaram “15 dias antes um treinador para Elvas”, recorda. Depois de entrarem no jogo a perder, “perto final empatamos através do Andrade, único jogador vivo desse tempo, e depois marcamos novamente e vencemos”.

A mesma fortuna não aconteceu na época seguinte, no apelidado “dia mais negro” da história do clube da Cruz de Cristo, tendo Martins, jogador do Sporting, como protagonista. “Necessitávamos de ganhar na última jornada, mas o empate diante o Sporting deu o título ao Benfica”, relembra.

E por falar em títulos nacionais, na questão dos campeonatos de Portugal “desde sempre estivemos muito confortáveis”, sublinha. “Há muitos anos que fazemos referências aos títulos em causa no estacionário, merchandising e cachecóis”, atira. Inclusive, “uma direção, creio o Dr. Ramos Lopes, tem uma garrafa de vinho que faz referência a esses 4 títulos nacionais”, um tema que nasce muito antes de ser levantado pelo presidente do Sporting Clube de Portugal. Perante os dados, Patrick Morais Carvalho é perentório: “Temos quatro títulos máximos em Portugal”, reforçando ainda a ideia que, “até 1933”, o Belenenses “era o 1º (clube nacional) porque tinha mais títulos”, sustenta.

Nesta viagem pelo passado em que se recordou a presença na inauguração do estádio do Real de Madrid, em 1947, as velhas glórias como Pepe, Matateu, as “Torres de Belém”, Mariano Amaro e Vicente, maior símbolo vivo da história do clube”, o presidente dos azuis avisa que hoje em dia “há um risco de unidade do clube”, em virtude da relação do clube com a SAD, “entidade externa que gere o futebol profissional”. Para Patrick Carvalho “o clube é inviável enquanto não tiver a gestão e controlo de uma equipa futebol profissional”, avisa.

Nas mãos do clube estão, somente, as equipas de formação. Ciente de que é necessário “descobrir precocemente o talento”, reconhece que nem sempre conseguem recrutar porque não garantem que cheguem a seniores, lamenta.

Na formação dos jovens jogadores deixa um aviso às famílias: “colocam um peso em cima (dos jovens) que não é necessário”. Mas não são só os pais que merecem o reparo. “Faz-me confusão miúdos com 13 em que as famílias dizem que têm empresários. A maioria dos processos são venda de ilusões”, alerta.

“Existe uma ditadura de Benfica, Porto e Sporting. E não só no futebol”

Olhando para o panorama nacional afirma que “existe uma ditadura de Benfica, Porto e Sporting. E não só no futebol”.

Assumindo que não gosta da expressão “Velhos do Restelo”, não aceita que se diga que o Belenenses é um clube de velhos. “Se olhar para a faixa etária de sócios há muitos jovens. Temos dois mil e tal praticantes sócios-atletas”, avança.

Para terminar a conversa nada melhor que degustar um pastel de Belém. “Não nos importamos de, entre nós, sermos chamados de 'pastéis', mas de fora...”, alerta. Comparando com as imagens e símbolos de outros clubes, admite que em tempos chegou a pensar-se num animal. “Tubarão, mas era agressivo, depois golfinho, um animal inteligente (e os sócios do Belenenses são inteligentes) ..., mas, ao contrário dos pastéis, não somos moles. Somos duros de roer”, diz, e sorri.