O VI Fórum da União de Exportadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (UE- CPLP) decorre entre hoje e amanhã (22 e 23) em Vila Real, que durante os dois dias transforma-se no centro da economia Lusófona.

No Teatro Vila Real cerca de 3 mil empresários dos países membros da CPLP e 30 fora deste espaço participam numa iniciativa que se constitui como uma oportunidade para promover negócios entre empresários de 17 países dos quatro continentes.

Entre mesas redondas, temáticas e uma grande conferência moderada pelo jornalista Carlos Daniel e com a presença de Jaime Nogueira Pinto, professor e politólogo, em causa vão estar os negócios e possibilidade de negócios feitos em português.

Numa curta entrevista ao SAPO24, Mário Costa, presidente da UE-CPLP, aborda o papel que Brasil e Angola podem ter na organização e que benefícios podem retirar ao fazerem parte da CPLP e reforça que se trata de uma zona económica de mais de 250 milhões de pessoas onde se fala português, com acesso a mais de oitenta mercados.

Diz estar empenhado em colocar na agenda o tema da livre circulação de pessoas entre os países da CPLP, um avanço importante para concretizar a dimensão económica e comercial deste ideal de criar um espaço de riqueza e prosperidade no seio destes países.

Por último deixa um dado: o comércio com o universo CPLP representou, para as empresas portuguesas em 2016, cerca de 5 mil milhões de euros.

O Brasil enfrenta uma crise política e, por arrasto, económica. Angola, apesar de politicamente o partido no poder ser o mesmo, sofreu uma mudança de rosto que poderá pressupor uma nova política. Que expectativa tem sobre estes dois países no relacionamento da comunidade lusófona e que papel pode, cada um deles, desempenhar, sendo que o Brasil é, sem dúvida, uma das alavancas da organização.

O Presidente da UE-CPLP – que é o braço empresarial da Confederação Empresarial da CPLP – tem por missão contribuir para uma maior abertura das economias dos países da CPLP e para a criação de um ambiente favorável para a realização de negócios e para a concretização de investimentos. Ou seja, estamos atentos às realidades políticas, mas o que queremos é trabalhar de forma focada em ligar empresários e em potenciar as trocas comerciais. Neste contexto, Brasil e Angola são dois países muito importantes que muito têm para dar à realidade económica da CPLP. São países com dimensões geográficas muito significativas, ricos em recursos naturais, onde há muito ainda por desenvolver em todos os domínios de atividade.

Adicionalmente, as crises são muitas vezes sinónimo de oportunidade e de mudança. O Brasil, por exemplo, tem uma dimensão de mercado interno que durante anos fez com que os empresários apenas trabalhassem virados para dentro do próprio país. Agora, estão muito recetivos para olharem para fora e, em particular, para o espaço da CPLP. Angola está a aproveitar para diversificar a sua economia, procurando uma alternativa às receitas do petróleo. Tem nos países da CPLP competências, know how [conhecimento e competências técnicas] e recursos humanos qualificados que faltam na escala que é necessária para poderem ir ao encontro desses objetivos. Juntos somos mais fortes e os empresários da CPLP estão a perceber que aqui existe um mercado natural para todos eles. Onde se fazem negócios em português…

Com a Europa ainda à procura de recuperar o seu espaço, com alguns movimentos de desagregação do ideal da UE (Brexit — saída do Reino Unido da União Europeia), nascimento e afirmação de novas potências, acredita que a CPLP pode tornar-se numa potência económica mundial? Se sim, porquê?

Não tenho a mínima dúvida e é para isso que trabalho todos os dias. A CPLP representa uma zona económica concreta de mais de 250 milhões de pessoas onde se fala português, com acesso a mais de oitenta mercados em função das áreas de integração económica de cada país. Ou seja, para além de cada um dos mercados, devemos olhar para o acesso aos mercados que cada país da CPLP nos oferece… na União Europeia, mas também no Mercosul, na ASEAN, na SADEC. Temos este património comum que é a nossa língua, temos uma facilidade de comunicação que é evidente, temos complementaridades que saltam à vista… é uma questão de tempo. De muito trabalho, claro, mas também de tempo.

A livre-circulação de pessoas entre os países da CPLP é um tema adiado. Não deveríamos começar por aí para aprofundar os laços comerciais ou a componente económica tem que ainda ficar mais matutada?

A livre circulação de pessoas entre os países da CPLP é importante para concretizar a dimensão económica e comercial deste ideal de criar um espaço de riqueza e prosperidade no seio destes países. Deveríamos trabalhar de forma empenhada nesta agenda. De forma faseada, controlada, no respeito pelas regras e procedimentos de cada país, mas de forma muito pragmática, porque os mercados prosperam e as economias crescem por onde andam as pessoas.

Que balanço faz destes encontros da UE-CPLP. Os empresários são colocados frente a frente e tem números de quantos negócios nascem a partir destas reuniões? As reuniões produzem efeito palpável?

Vamos ter mais de mil encontros B2B [empresa para empresa] durante estes próximos dias. O que fazemos é ligar empresários e por em contacto empresas numa lógica win-win [de ganho para ambos]. O que fazemos é criar oportunidades, é assessorar as empresas a encontrarem o melhor caminho para o crescimento dos seus negócios, encontrando parceiros, identificando investidores, importadores, distribuidores… vamos ter três mil empresários presentes, 300 dos quais estrangeiros.

Tem números de exportação entre os membros da CPLP?

As exportações de bens de Portugal para os mercados da CPLP tiveram uma desaceleração de 2015 para 2016, com exceção para Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé, com crescimentos homólogos de, respetivamente, 20,7%, 6,6% e 11,6%. Ainda assim, as exportações de bens totalizaram mais de 2,6 mil milhões de euros. Quanto às exportações de serviços, o total é de 2,3 mil milhões de euros, ou seja, o comércio com o universo CPLP representou, para as empresas portuguesas em 2016, cerca de 5 mil milhões de euros.

Quanto ao stock de investimento realizado por empresas portuguesas nestes mercados, o mesmo totaliza mais de 7 mil milhões de euros. O saldo do comércio com o exterior é favorável a Portugal, que importa 2,7 mil milhões de euros em bens e serviços da CPLP

Neste momento, as expectativas são positivas. Os dados do primeiro trimestre mostram uma recuperação significativa, verificando-se uma subida homóloga de 30% com destaque para Angola e Brasil.