Para Pedro Quelhas Brito, coordenador em Gestão de Turismo e Hotelaria na Porto Business School, os problemas em algumas companhias de baixo custo (‘low-cost’) serão ultrapassados: “Esta situação é provisória, os vazios serão preenchidos por outros ou será retomada a normalidade durante 2018. […] Além disso, o Aeroporto Humberto Delgado [em Lisboa], mesmo num cenário pessimista, não tem capacidade e muito menos flexibilidade horária”.

Opinião partilhada pelo vice-presidente da Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA), João Santos Costa, que acrescenta que o aeroporto de Lisboa está completamente desfasado daquilo que são as recomendações nas vertentes segurança, ecológica e capacidade de expansão futura.

Pedro Quelhas Brito recordou que “o modelo de crescimento nos últimos dez anos baseou-se numa política de facilitação/promoção de novas rotas e a solução mais rápida para crescer foi recorrer a outras companhias já instaladas e com forte expansão”, pois “com a TAP nunca seria suficiente cumprir tais objetivos”.

Ser “‘low-cost’ implicava também ser demasiado ‘low-price’ [baixo preço] e este modelo de negócio supõe planear tudo para aproveitar ao máximo os subsídios dos governos para reduzir os custos em terra, ter a máxima flexibilidade operacional e de recursos humanos, [no entanto], há limites na flexibilidade, nem toda a gente pode substituir um piloto”, acrescentou.

O vice-presidente da APPLA referiu que a situação que se tem verificado nas companhias de baixo custo não pode ser vista como um todo, porque as razões diferem de caso para caso.

“Enquanto na Ryanair o problema atual é, em grande parte, resultado o seu modo de operação, em que as condições salariais e de prestação de trabalho oferecidas à maioria dos seus funcionários são bastante desfavoráveis, no caso da Monarch resulta da queda de procura dos destinos […], já no caso da Air Berlin [que hoje cessa operações] foi o fim do financiamento por parte de uma grande companhia aérea do Médio Oriente”, afirmou.

Air Berlin deixa hoje de voar, dois meses depois de ter declarado insolvência
Air Berlin deixa hoje de voar, dois meses depois de ter declarado insolvência
Ver artigo

Contactada pela Lusa, fonte oficial da ANA – Aeroportos disse que “os cenários de evolução de procura de transporte aéreo na região de Lisboa não são afetados pelas situações em causa e as projeções continuam a apontar para um aumento do tráfego aéreo de/para a cidade de Lisboa”.

A ANA acompanha “com muita atenção estes movimentos”, que “acontecem nas companhias aéreas como noutros setores e respondem ao normal funcionamento do mercado” e “não se podem tirar ilações sobre uma tendência generalizada que afete as companhias ‘low-cost’, acrescentou a mesma fonte.

“Tratam-se de ajustes e medidas de gestão diferentes para as companhias referidas, e que têm a ver exclusivamente com os seus modelos de gestão e condições de mercado, e que não produzem efeitos a prazo na procura e desenvolvimento das regiões na sua globalidade. Pela parte da ANA, a nossa principal preocupação nestes casos é garantir que conseguimos minimizar os efeitos negativos para a nossa atividade, quer a nível operacional, quer a nível comercial”, acrescentou.

O número de passageiros que utilizaram os aeroportos portugueses teve um crescimento homólogo de 15% para 16,6 milhões entre julho e setembro, e, no conjunto dos primeiros nove meses deste ano, o aumento foi de 17,7%, correspondente a 40,1 milhões de passageiros, segundo os últimos dados divulgados pela Vinci Airports.

No aeroporto de Lisboa, no terceiro trimestre, houve um crescimento homólogo de 16% para mais de 8 milhões de passageiros e, entre janeiro e setembro, a subida foi de quase 20% para 20,2 milhões de passageiros.

Segundo o último boletim estatístico da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), referente ao segundo trimestre deste ano, no aeroporto de Lisboa a TAP era a principal companhia em termos de passageiros transportados, com uma quota de 48%, seguindo-se as ‘low-cost’ Ryanair (12%) e easyJet (9%).

"Estas questões das ‘low-cost’ são conjunturais", lembra autarca do Montijo

"Estas questões das ‘low-cost’ são questões conjunturais, que podem mudar e não limitam o projeto. Este novo aeroporto pode receber também companhias de bandeira ou até carga", salientou Nuno Canta, em declarações à Lusa.

Questionado pela Lusa sobre este cenário – já que o Governo afirmou que o aeroporto complementar do Montijo será “especialmente vocacionado para a operação das companhias ‘low-cost’ e para serviços de médio curso” -, Nuno Canta não se mostrou preocupado e reiterou que um novo aeroporto complementar na Base Aérea n.º 6, naquele concelho do distrito de Setúbal, é necessário ao país.

"O grande problema é que Lisboa não tem espaço para receber um maior número de voos ‘low-cost'. Este passo do novo aeroporto complementar de Lisboa no Montijo permitirá alargar o espaço para as ‘low-cost' operarem em Lisboa e é uma urgência resolver esta questão", disse.

O autarca referiu que tem "confiança" no Governo e na ANA - Aeroportos de Portugal para que o projeto avance e explicou que tem estado a discutir algumas questões essenciais para o concelho.

"Estamos a falar de um investimento superior à Autoeuropa [fábrica do ramo automóvel localizada em Palmela, também no distrito de Setúbal]. A Câmara tem estado a discutir com a ANA e a Infraestruturas de Portugal algumas questões essenciais, como as acessibilidades, com uma nova ligação à Autoestrada 12 ou a circular externa no Montijo. As águas e esgotos também são questões importantes" disse.

Nuno Canta defendeu que o calendário do processo "tem batido certo" e que aguarda agora pela avaliação ambiental, considerando que é importante minimizar os impactos.