“Se não conseguirmos acompanhar este processo com medidas de defesa da nossa rentabilidade em termos de futuro podemos vir a ter problemas na atividade bancária”, afirmou hoje Vieira Monteiro, na conferência Banking Summit, em Lisboa, num painel em que participaram os presidentes dos cinco principais bancos que operam em Portugal.

Para o gestor, os bancos devem usar esta transformação do setor para “reduzir custos” e “manter determinados níveis de rentabilidade”.

No Santander Totta, disse, tem havido “grandes investimentos na área digital”, com lançamentos de produtos de crédito e de pagamentos por canais digitais, e transformação de processos usando a inteligência artificial, tendo para isso recrutado matemático.

No mesmo sentido, o presidente do Novo Banco, António Ramalho, considerou que a digitalização e inteligência artificial na banca permitirá “orientar os modelos de negócio para uma estrutura de custos distinta da que há hoje”.

O banqueiro referiu que, atualmente, é grande a proporção de trabalhadores dos bancos dedicados a funções que não são comerciais ou operacionais e que isso poderá mudar com a digitalização.

António Ramalho considerou que os bancos vivem atualmente um “período transitório”, em que têm de manter grande parte das estruturas atuais (como balcões) para garantirem os clientes que têm e que privilegiam o contacto físico com o banco, e ao mesmo tempo de desenvolver a digitalização para não perderem o ritmo da indústria e manterem e ganharem clientes.

Já o presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo, considerou que “tem de haver uma forte ação dos bancos” no processo de automação e digitalização da indústria ou correm o risco de ficarem apenas com a parte do negócio mais pesada, como depósitos e crédito de longo prazo, que exigem elevados níveis de capital, com custos altos que os clientes não querem assegurar, enquanto novos operadores (como ‘fintech’) ficam com serviços lucrativos, como serviços de pagamento.

“O que está ameaçada é a área dos proveitos (….) Estou otimista porque bancos têm de reagir e têm de tomar várias ações”, afirmou,

Segundo o gestor, a CGD já está a usar inteligência artificial em algumas fases da concessão de crédito, nomeadamente na atribuição de ‘rating’ ao cliente e, em termos de clientes digitais, quer em 18 meses duplicar o número de clientes digitais, para mais de dois milhões.

Já quanto à oferta digital de produtos e serviços financeiros, Paulo Macedo disse que a CGD “está mais atrasada”, e que ainda não está a desenvolver ” processos de inteligência artificial sobre tudo o que o cliente faz”.

Quanto a Nuno Amado, presidente do BCP, considerou que não é homogénea a digitalização da banca entre instituições e disse que o banco que lidera está a fazer o seu caminho, mas também considerou que o “contacto humano continuará ainda indispensável”, referindo que bancos já existentes têm aí vantagens.

“Há negócios que vamos perder, outros vamos manter”, admitiu, Nuno Amado.

“Vamos perder negócio, vamos com certeza, não há dúvida de que há partes do negócio em que há entidades que vão tomar conta deles”, disse, por seu lado, Vieira Monteiro, do Totta, mas afirmou também que os bancos existentes têm “uma coisa fundamental que é a confiança dos clientes”.

O presidente do BPI, Pablo Forero, também disse estar “otimista”, desde que os supervisores estipulem as mesmas regras para os bancos já existentes e os novos operadores.

“Se as regras são as mesmas os bancos vão saber utilizar as novas tecnologias em benefício dos clientes”, afirmou.