O novo chefe de Estado angolano, João Lourenço, investido terça-feira no cargo após 38 anos de liderança de José Eduardo dos Santos, nomeou entre quinta e sexta-feira 31 ministros para o novo Governo - nove dos quais mantêm as mesmas pastas -, estando a posse prevista para sábado, em Luanda.

Em comunicado, o conselho presidencial da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), classifica estas nomeações como a "prova inequívoca de que os angolanos, mais uma vez, foram enganados com falácias propagandísticas sobre uma eventual constituição de um governo cujo critério seria a meritocracia, a excelência e a inclusão".

"No atual contexto em que o país se encontra, de profunda crise económica e financeira, as decisões para a composição do poder executivo não deviam ser circunscritas à natureza político partidária dos seus componentes, pois este critério não valoriza as mais valias intelectuais, necessárias para a recuperação económica", acusa a coligação liderada por Abel Chivukuvuku.

O anterior Governo, liderado por José Eduardo dos Santos, contava com 31 ministérios, mas na tomada de posse como novo chefe de Estado, João Lourenço reafirmou a intenção de promover a redução do executivo, no âmbito de uma reforma do Estado.

"A estrutura do executivo será reduzida de modo a garantir a sua funcionalidade sem dispersão de meios e evitando o esbanjamento e o desperdício de recursos que são cada vez mais escassos", apontou Lourenço, que encabeçou a lista do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) que venceu as eleições gerais angolanas de 23 de agosto.

O comunicado de hoje do conselho presidencial da CASA-CE acrescenta que as nomeações agora conhecidas "vieram confirmar" os "alertas" que a coligação garante ter feito "quanto ao perigo da continuação no aparelho do Estado do mesmo partido, com as mesmas pessoas, as mesmas práticas e com os mesmos vícios que, ao longo de décadas, levaram à delapidação do país, como consequência da corrupção e de outros atos ilícitos".

"O autoritarismo e a má governação perpetrados pelo partido no poder há décadas retrocedeu o país, levando os angolanos a uma condição de indigência, coabitando com a pobreza extrema e a miséria", critica ainda a CASA-CE.

Para a coligação, que nas eleições de 23 de agosto viu o grupo parlamentar passar de oito para 16 deputados à Assembleia Nacional, à equipa nomeada por João Lourenço cabe a tarefa de "tentar executar as insustentáveis intenções programáticas apresentadas recentemente durante a sua tomada de posse".

As mexidas na administração na petrolífera angolana Sonangol, liderada por Isabel dos Santos, com a entrada de novos administradores estrangeiros, nomeadamente portugueses, também merecem a crítica da CASA-CE, que denuncia a empresária e filha do ex-chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, por "excluir e discriminar os angolanos em benefício de outras nacionalidades". "Num contexto em que os angolanos com formação superior no setor petrolífero estão desempregados, não é admissível que a Sonangol, empresa pública do Estado angolano, adote a estratégia de contratação de expatriados para posições de destaque", conclui o comunicado do conselho presidencial daquela coligação.

PVJ // FPA

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