De acordo com uma análise feita por esta ONG à dívida pública de 122 países, Angola é o país onde pagar os custos da dívida mais representa em proporção das receitas, com 44% das entradas nos cofres públicos a saírem para suportar o fardo da dívida.

"Começou uma nova crise da dívida no sul global", comentou o economista da JDC Tim Jones, sublinhando que "em países onde as crises da dívida surgiram, o perigo é que o FMI e outros ajudem estes credores irresponsáveis, aumentando o fardo da dívida e levando a anos de estagnação económica, como na Grécia".

Segundo os dados, a lista dos países onde servir a dívida mais representa em função das receitas é liderada por Angola, com 44%, seguido do Líbano, com 42%, e Moçambique aparece em 13º lugar, com 20,2% a serem 'comidas' pela dívida.

Angola e Moçambique enfrentam graves crises financeiras e económicas decorrentes da queda do preço das matérias-primas, nomeadamente o petróleo e o gás, e pela forte dependência destes materiais para o equilíbrio das contas públicas.

Segundo a JDC, desde meados de 2014, altura em que o petróleo caiu de preço, a moeda angolana desvalorizou-se 56% face ao dólar, e o metical moçambicano caiu 36% face à principal moeda mundial, o que contribuiu para tornar insustentável o peso da dívida pública neste país, que várias consultoras estimam estar acima dos 100% do PIB.

Angola tem feito emissões regulares de dívida pública no mercado nacional, depois de em 2015 ter feito uma emissão de dívida internacional no valor de 1,5 mil milhões de dólares, com uma taxa de juro anual próxima dos 10%.

Desde o início deste ano, que na prática só arrancou na segunda quinzena de fevereiro, Angola já colocou 266,4 mil milhões de kwanzas (mais de 1.490 milhões de euros) em bilhetes e obrigações do Tesouro.

Angola vive desde finais de 2014 uma crise financeira e económica e no Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2017 as receitas fiscais só deverão cobrir 49,6% das necessidades totais, acrescido das receitas patrimoniais, com 6,7%, de acordo com o mesmo documento.

As receitas provenientes do endividamento público deverão atingir um peso de 43,6% do valor global inscrito no Orçamento, chegando a 3,224 biliões de kwanzas (18,2 mil milhões de euros).

Além de contrair nova despesa pública, no mercado interno e externo, o OGE de 2017 prevê 2,338 biliões de kwanzas (12,8 mil milhões de euros) para o serviço da dívida este ano.

Nas contas do Governo está inscrito um défice orçamental de 5,8% do PIB em 2017, no valor de 1,139 biliões de kwanzas (6,4 mil milhões de euros).

MBA (PVJ) // PJA

Lusa/Fim