Os dois jornalistas, ambos detidos em 2014, são o editor Wang Jianmin, 62 anos, condenado a cinco anos e três meses de prisão, e o diretor Guo Zhongxiao, 40 anos, condenado a dois anos e três meses. Ambos se declaram culpados num tribunal em Shenzhen no ano passado, escreve hoje o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

O advogado de Guo Zhongxiao disse que o seu cliente será libertado no próximo mês, após cumprir a pena.

Wang e Guo têm bilhetes de identidade de Hong Kong, mas viviam em Shenzhen quando foram presos.

A acusação disse que a sua empresa de ambos, a National Affairs Limited, registada em Hong Kong, ganhou sete milhões de dólares de Hong Kong (cerca de sete milhões de euros) com a publicação de duas revistas -- a New-Way Monthly e a Multiple Face -- e que as receitas provenientes dos leitores chineses ascendiam a 66.000 yuan (8.983 euros) da receita total.

A defesa alegou que as publicações eram impressas em Hong Kong e as cópias enviadas apenas para oito pessoas na China, todos amigos do editor.

A mulher de Wang, Xu Zhongyuan, que ajudou a enviar cópias das revistas por correio, e um 'freelance' que colaborava com a revista, Liu Haitao, declararam-se culpados de operarem um negócio ilegal perante o mesmo tribunal.

Xu foi sentenciada a um ano de prisão, suspensa por dois anos, e Liu condenado a dois anos de cadeia, suspensa por três anos.

O advogado de Xu disse hoje que os quatro afirmaram que "iriam aceitar o veredito do tribunal e que não iriam recorrer".

A presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong, Sham Yee-lan, considerou a sentença um ataque à liberdade de expressão, publicação e imprensa em Hong Kong porque as duas revistas eram impressas na cidade.

"As penas de prisão são muito pesadas. As publicações eram, de facto, impressas em Hong Kong por empresas registadas aqui", afirmou. "Parece que o Governo chinês intensificou a repressão contra estas publicações", disse.

Sham disse ainda que o Governo de Hong Kong tem a responsabilidade de oferecer apoios aos dois jornalistas, cidadãos de Hong Kong.

Gui Minhai, um dos cinco livreiros que desapareceu no passado e reapareceu meses mais tarde detido na China, era coproprietário da editora Mightt Current, ligada à Causeway Bay Books, e foi acusado de gerir um negócio ilegal no interior da China, por ordenar aos seus sócios a entrega de cerca de 4.000 livros proibidos no país desde outubro de 2014.

Gui e todos os seus quatro sócios reconheceram o seu papel no negócio ilegal em confissões divulgadas pelos meios de comunicação social estatais chineses, mas que familiares e diversas organizações consideram serem confissões forçadas.

No entanto, um deles, Lam Wing-kee, aproveitou uma autorização recente para ir a Hong Kong para declarar publicamente que foi raptado ao passar a fronteira e submetido a tortura mental pelas autoridades chinesas durante oito meses, sem direito a contactar um advogado ou a família, confirmando que as suas confissões foram forçadas.

O caso dos cinco livreiros desencadeou preocupação de ameaça ao princípio 'Um país, dois sistemas', ao abrigo do qual Hong Kong e Macau são regiões da China com administração especial, gozando de autonomia e liberdades que não existem no resto do país.

Um dos livreiros, Lee Bo, desapareceu quando estava em Hong Kong sem que haja registos de ter passado a fronteira, gerando especulação sobre a alegada atividade de agentes do interior da China na cidade.

A editora Mighty Current e a respetiva livraria Causeway Bay Books especializaram-se em publicações críticas de líderes do Partido Comunista Chinês.

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