Num discurso diante das autoridades civis da Birmânia (atualmente Myanmar) na capital administrativa, Naypyidaw, Francisco considerou que o futuro do país passa pela paz, fundada "no respeito por todos os grupos étnicos e pela sua identidade", numa alusão à minoria muçulmana dos rohingya, que não nomeou.

Antes, a líder do governo birmanês e prémio Nobel da Paz tinha declarado que o objetivo do governo é "destacar e reforçar a beleza da diversidade" da Birmânia "protegendo os direitos, promovendo a tolerância e garantindo a segurança para todos".

No seu segundo dia de visita à Birmânia, o papa evitou mais uma vez utilizar a palavra rohingya, como foi aconselhado, para evitar um eventual incidente diplomático e religioso.

Francisco pediu "respeito pelo Estado de direito e por uma ordem democrática que permita a cada indivíduo e a cada grupo -- sem excluir ninguém -- dar a sua contribuição legítima para o bem comum".

Falando igualmente diante do presidente birmanês, Htin Kyaw, com quem se encontrou em privado antes, juntamente com Aung San Suu Kyi, o papa defendeu que as comunidades religiosas do país "têm um papel privilegiado a desempenhar na grande tarefa de reconciliação e integração nacional".

"As diferenças religiosas não devem ser uma fonte de divisão e desconfiança, mas um impulso para a unidade, o perdão, a tolerância e uma sábia construção da nação", adiantou.

Francisco insistiu que as religiões "podem contribuir também para erradicar as causas do conflito, construir pontes de diálogo, buscar a justiça e ser uma voz profética em favor daqueles que sofrem".

Aung San Suu Kyi, que no seu discurso de boas vindas ao papa tinha considerado que "o apoio de bons amigos é inestimável", indicou que os problemas do seu país "são muitos e exigem força, paciência e coragem".

"A sua compreensão da nossa necessidade de paz, reconciliação nacional e harmonia social dá-nos esperança e torna-nos fortes", disse a líder birmanesa a Francisco.

Nos últimos meses, Francisco lamentou por diversas vezes a situação da minoria muçulmana, que a ONU considera vítima de "limpeza étnica" na Birmânia.

Mais de 620.000 membros da comunidade fugiram para o vizinho Bangladesh desde agosto, após uma ofensiva do exército birmanês em resposta a ataques de rebeldes rohingya.

O Estado birmanês, um país mais de 90% budista, não reconhece esta minoria e impõe múltiplas restrições aos 'rohingyas', nomeadamente a liberdade de movimentos.

A crise desencadeou uma vaga de críticas à líder de facto da Birmânia, Aung San Suu Kyi, que foi acusada de ter esquecido os Direitos Humanos e de ter minimizado a situação denunciada pelas vítimas.

PAL (SCA)

Lusa/fim