"O ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde não reage a uma declaração de um Presidente da República de outro país. Este é um assunto que o Governo de Cabo Verde não vai comentar", disse Luís Filipe Tavares.

O chefe da diplomacia cabo-verdiana, que falava hoje aos jornalistas na cidade da Praia, acrescentou que "não é ético", nem "o seu papel" comentar declarações de chefes de Estado.

O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, pediu segunda-feira aos jornalistas guineenses para contribuírem para a construção do país, evitando passar mensagens que ponham em causa a Guiné-Bissau.

José Mário Vaz apontou como exemplo o caso de Cabo Verde, afirmando que os jornalistas cabo-verdianos fazem censura aos discursos potencialmente prejudiciais à imagem do país.

A Associação de Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) reagiu, classificando as declarações do chefe de Estado guineense como "extremamente infelizes" e reveladoras de desconhecimento da imprensa cabo-verdiana.

A presidente da AJOC, Carla Lima, apelou também para outras reações de repúdio das palavras de José Mário Vaz.

"Esta é uma questão que todos os cabo-verdianos deviam lamentar e repudiar, que o nome do país, dos jornalistas, dos cabo-verdianos esteja a ser envolvido em algo que é conotado com autocensura por parte de um chefe de Estado de outro país", afirmou.

Por parte do ministro dos Negócios Estrangeiros, a mensagem foi de que o que Cabo Verde quer "em relação à Guiné-Bissau é que haja paz e tranquilidade para o desenvolvimento do país" e tem estado a trabalhar nesse sentido no âmbito das comunidades de Países da África Ocidental (CEDEAO) e de Língua Portuguesa.

"É isso que vamos continuar a fazer com responsabilidade e sentido de Estado", acrescentou o ministro.

A Guiné-Bissau está mergulhada numa crise política na sequência das eleições gerais de 2014.

Divergências entre as duas principais forças políticas no Parlamento guineense, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e o Partido da Renovação Social (PRS), levaram ao bloqueio da instituição desde há mais de ano e meio, pelo que sucessivos governos não conseguiram fazer aprovar os seus planos de ação ou propostas de orçamento.

O PAIGC, partido vencedor das últimas eleições legislativas, mas afastado do poder devido às divergências com o Presidente guineense, defende a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições gerais antecipadas.

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