A situação de sobrelotação na instituição obriga mesmo a uma contagem regular, sempre na esperança de se encontrar espaço para uma criança, num lar cuja capacidade máxima de 250 menores há muito que se esgotou, conforme explicou Engrácia Etelvina do Céu.

"Todos os dias entram e saem crianças, daí que todas as segundas-feiras fazemos uma contagem para certificar o número de crianças no espaço. É um número que pode baixar ou reduzir, sendo que em 2016 foi o ano em que tivemos o teto máximo, de 315 crianças", disse a responsável pelo lar.

O lar acolhe crianças entre os 0 e os 14 anos, em situação de vulnerabilidade, crianças abandonadas pelos familiares, sob medidas de proteção e órfãs, que são distribuídas por quatro áreas distintas.

"Todos os dias, infelizmente, entram crianças e o número diário varia entre duas a oito crianças. A capacidade do lar é para 250, mas nós ultrapassamos esta capacidade devido ao fluxo diário de entrada de crianças, este ano já atingimos as 295 crianças", assumiu Engrácia Etelvina do Céu.

O lar de infância kuzola é uma instituição pública de caráter social criada em 1976 e reinaugurada em 2014. Desde 2011 que é tutelada pelo Governo Provincial de Luanda, sendo gerido pela Fundação Lwini, presidida pela primeira-dama de Angola, Ana Paula dos Santos, e financiado pela petrolífera francesa Total.

O berçário da instituição recebe bebés até aos três anos, contando ainda com uma área para as crianças até aos seis anos e outra, escolar, para os menores até aos 14. Uma quarta área do lar recebe crianças e adultos portadores de necessidades educativas especiais.

"Entraram crianças e ainda aqui se encontram, hoje são adultos", observou.

A instituição, vocacionada para o acolhimento, proteção, educação e ensino da criança, conta atualmente com 136 trabalhadores, desde professores, a técnicos e pessoal auxiliar, mas funciona com menos 40 funcionários face à sobrelotação e constante entrada de menores.

"No berçário, por exemplo, temos 36 bebés e às vezes apenas três senhoras a trabalhar, o que é um número insuficiente. Vamo-nos apoiando com as crianças mais crescidas", reconheceu.

Ao fim de mais de dois anos de crise em Angola, a situação social reflete-se igualmente nas crianças.

"Esses abandonos surgem em função da fragilidade das famílias, por falta de condições de sobrevivência. São vários os motivos que poderíamos apontar desde a desestruturação familiar, em que o parceiro deixa a parceira e esta suporta os filhos sem o acompanhamento do pai", contou a diretora.

Apesar dos apoios, as dificuldades são várias e o problema está longe de ser minimizado.

"Mas procuramos criar um espaço do qual a criança não se distancie tanto daquilo que é a vida numa família. Para que ao voltar para um lar ou ao ser inserida numa família esteja preparada para aquilo que é a vida quotidiana", assinalou Engrácia Etelvina do Céu.

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