"A partir do momento em que a Cidade Velha tem uma área classificada como Património da Humanidade deveria haver obrigatoriamente uma verba no Orçamento de Estado para a sua preservação e melhoramento", disse Abraão Vicente.

O ministro da Cultura e das Indústrias Criativas falava hoje aos jornalistas na Ribeira Grande de Santiago, onde participou numa atividade para assinalar a passagem dos oito anos da classificação da Cidade Velha como Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a cultura (UNESCO).

Para o ministro, existe um conjunto de investimentos a realizar, entre os quais destaca, pela urgência, a recuperação da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída a partir de 1495 e associada à figura de padre António Vieira, cuja intervenção está estimada em cerca de 300 mil euros.

"Quando se vê o estado de degradação da Igreja de Nossa Senhora do Rosário chega a ser constrangedor ter que fazer lóbi para ter verba para se preservar um Património da Humanidade", disse.

"Não se pode continuar a adiar e a dizer que [o início das obras] vai ser em breve. É preciso assumir a igreja como prioridade e a Cidade Velha como prioridade", acrescentou.

Abraão Vicente adiantou que, além da intervenção nesta igreja, já apresentou ao primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, e ao ministro das Finanças, Olavo Correia, projetos para intervenções no Convento de São Francisco e na rua central da Cidade Velha, além da proposta de vedação da Sé Catedral e de iniciativas de sensibilização da população.

"Por isso, hoje é o dia em que é preciso refletir verdadeiramente sobre a importância que Cabo Verde dá à cidade velha. O primeiro-ministro já mostrou abertura para negociar junto do Ministério das Finanças as verbas necessárias, mas é tempo de ação. Basta de palavras, não podemos adiar mais", adiantou.

Abraão Vicente considerou que os problemas da Cidade Velha resultam de anos de desinvestimento por parte do anterior Governo e lembrou que, apesar de a última visita técnica da UNESCO ter concluído que a classificação não está em risco, apontou a necessidade de "um investimento claro para a valorização do seu potencial turístico".

"A Cidade Velha deve vir nas prioridades nacionais antes de Santa Maria, de Mindelo e da Boavista porque esses sítios são potenciais turísticos sol e praia enquanto cidade velha é Património da Humanidade", sublinhou.

Abraão Vicente considera que é preciso entender que a Cidade Velha não é apenas um assunto do Ministério da Cultura, mas do Estado como um todo.

"É preciso haver verbas concretas. Não se fazem milagres sem verbas para o investimento. Acho que há bom acolhimento por parte do primeiro-ministro, mas quero sentar-me também com o ministro das Finanças para perceber quais são os valores que enquadram essas boas intensões", disse.

A Cidade Velha, no atual concelho da Ribeira Grande de Santiago, foi a primeira cidade construída pelos portugueses e a primeira capital de Cabo Verde.

A 12 quilómetros da cidade da Praia, foi classificada como Património Mundial da Humanidade em 2009, mas a degradação de alguns monumentos e a proliferação de construções clandestinas têm suscitado alertas da UNESCO para os riscos de o sítio perder a classificação.

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