"A dívida pública já aumentou de 121% para 126% do PIB", adiantou hoje o vice-presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), José Veiga.

José Veiga falava aos jornalistas numa conferência de imprensa para analisar os resultados da Missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Cabo Verde, que quarta-feira terminou na cidade da Praia.

No final de duas semanas em Cabo Verde, o chefe da missão do FMI, Ulrich Jacoby, adiantou que a economia cabo-verdiana começa a dar sinais de recuperação, mas mostrou-se preocupado com a situação financeira das empresas públicas, recomendando urgência numa solução que pare "a drenagem" de recursos do orçamento de Estado.

Alertou, por outro lado, para a importância de reduzir uma dívida pública "muito alta" que, nos últimos anos, combinada com os baixos índices de crescimento económico "deteriorou consideravelmente os rácios" e aumentou o risco financeiro do país.

O vice-presidente do PAICV, partido que esteve no poder durante 15 anos e até abril, lembrou que aquando da discussão do Orçamento de Estado no parlamento, em junho, o Governo apontava para um endividamento na ordem dos 124 por cento, sublinhando que o compromisso era baixar a dívida e não aumentá-la.

"O compromisso assumido com os cabo-verdianos foi de promover a redução da dívida pública (e não promover o seu aumento), com o argumento de que o país estava excessivamente endividado, a dívida não era sustentável e isso afetava negativamente a dinâmica económica", sustentou José Veiga.

Por outro lado, José Veiga considerou que as conclusões do FMI vieram comprovar a tese, sempre sustentada pelo PAICV, de que "o endividamento de Cabo Verde foi analisado, planificado e avalizado pelos principais parceiros internacionais" e que, sendo concecional, com prazos dilatados de pagamento e baixas taxas de juro, se revelou uma "grande janela de oportunidades para garantir a infraestruturação do país".

Para o PAICV, as conclusões da missão do FMI deixaram ainda claro que as estimativas da maioria de crescimento da economia a 7% ao ano foram "um expediente eleitoral".

"Depois de ter adotado como uma das suas bandeiras de campanha, o crescimento de 07% do PIB ao ano, de modo a gerar cerca de 9.000 empregos, eis que o Governo do Movimento para a Democracia (MpD) vem agora assumir que enganou os cabo-verdianos", disse José Veiga.

José Veiga aludia desta forma às declarações do ministro das Finanças cabo-verdiano, Olavo Correia, que esta semana admitiu dificuldades de fazer crescer a economia a esses níveis.

"É o próprio FMI que vem alertar os cabo-verdianos que as projeções de crescimento do país se situarão entre os 3% e os 4% demonstrando que as contas do MpD estavam e estão erradas", disse Veiga.

O FMI manifestou também preocupação com a deterioração da situação financeira das empresas Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) e Imobiliária, Fundiária e Habitat (IFH), que gere o programa habitacional 'Casa para todos', considerando que representam dos maiores riscos orçamentais do país.

O programa 'Casa para Todos', financiado através de uma linha de crédito de 200 milhões de euros de Portugal, foi uma das bandeiras dos governos do PAICV para resolver os problemas de habitação em Cabo Verde, mas acumula dívidas numa altura em que metades das casas continuam por construir.

José Veiga reconheceu que houve falhas no programa, mas responsabiliza por elas a crise internacional, que segundo disse, não permitiu ao anterior executivo cabo-verdiano assumir as contrapartidas que lhe cabiam no âmbito da linha de crédito.

Responsabilizou ainda Portugal por, devido a constrangimentos financeiros, não ter conseguido desbloquear a linha de crédito.

"Portugal estava com constrangimentos financeiros que não permitiram desbloquear a linha de financiamento. Como as obras ficaram paradas, houve um acumular de prejuízos em relação à indemnização das empresas que estavam a construir que aumentou significativamente o custo da construção", disse.

CFF // APN

Lusa/Fim

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.