Em causa está uma publicação na página oficial da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) no Facebook que levanta suspeitas sobre a ação dos órgãos eleitorais e do Governo na fase de preparação para as eleições antecipadas de 12 de maio.

Com o título "alerta ao público", a AMP diz ter "indicações" que levam a "desconfiar" da suposta intervenção de José Ramos-Horta, ministro de Estado, e do ex-ministro Rogério Lobato, na aquisição de urnas para o voto, que chegaram esta semana a Díli.

"As mil urnas oferecidas pelo Governo da China" são "possivelmente urnas falsas ou duplicadas com o objetivo de manipular o resultado da contagem dos votos da eleição antecipada", refere a publicação.

A coligação diz ainda ter "indicação de que o Governo de gestão deu orientações secretas à CNE/STAE de que façam todo o esforço porque a Fretilin tem que vencer".

Dois dirigentes da AMP ouvidos pela Lusa, Fidelis Magalhães e Arão Noé - deputados respetivamente do Partido Libertação Popular (PLP) e do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) - disseram à Lusa não ter informação sobre o assunto.

Magalhães remeteu comentários para Arão Noé, responsável de assuntos jurídicos da AMP que, por seu lado remeteu clarificação para a equipa do "media centre".

"Não vou comentar ainda sobre este assunto. Só depois de falar com o media centre. Só depois é que posso. O 'media center' tem esse conhecimento, mas não nos deram essa informação. Ainda não tenho acesso a esta informação", frisou.

Apesar de várias tentativas não foi possível à Lusa falar com a responsável do 'media center'.

Rejeitando as acusações e insistindo na natureza técnica do processo, Acilino Manuel Branco, diretor-geral do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) explicou à Lusa que o apoio da China foi essencial porque permitiu que as urnas chegassem a tempo a Díli.

As urnas para as eleições do ano passado, por exemplo, foram pedidas em novembro de 2016 e só chegaram a Díli em março de 2017 pelo que o apoio da China foi "essencial".

"Não há lógica que digam que isto é para favorecer uma parte ou outra. Somos um órgão técnico e não interessa quem ganha ou perde", insistiu, recordando que todas as equipas do STAE, a nível nacional e municipal são as mesmas desde os Governos anteriores.

Alcino Baris, presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), considerou as acusações "falsas e irresponsáveis" afirmando que a vinda das urnas foi uma necessidade dada o impedimento de usar as anteriores, que continuam seladas.

"As urnas são de boa qualidade e foram entregues publicamente. Os partidos viram e avaliaram a qualidade das urnas. No processo de votação as urnas estão sempre acompanhadas e identificadas. Cada urna tem atas e números, está identificada e tudo é fiscalizado e supervisionado, não apenas pelo CNE e STAE. Isto é feito publicamente, em frente aos fiscais, à media e observadores", afirmou.

Trata-se, disse, de um conjunto de processos de "garantem a transparência" da votação pelo que acusações como estas "têm que ser demonstradas ou provadas".

"Somos um órgão independente e não recebemos indicações de ninguém, com as decisões tomadas em plenário", afirmou.

José Reis, ministro adjunto do primeiro-ministro e vice-secretário-geral adjunto da Fretilin, considerou as acusações "um absurdo, incorreto e irresponsável", explicando que nas urnas, como no restante material, se respeita a lei.

"Não podemos usar as urnas anteriores, porque segundo a lei os boletins têm que ficar selados nas urnas durante um ano. E por causa disso que tivemos que arranjar outra forma de obter as urnas", afirmou.

"Sabendo muito bem que estamos com duodécimos, pedimos apoio à China para apoiar com este material. Mas não intervimos politicamente neste sentido. Isto é uma questão legal e competência do STAE", frisou.

O governante recordou que todas as equipas do STAE foram instaladas por Governos do CNRT e que as acusações não fazem sentido.

José Ramos-Horta, ministro de Estado, considerou as acusações "de uma irresponsabilidade incompreensível por parte da AMP", envolvendo até um parceiro como a China, e garantiu que nada teve a ver com o processo das urnas.

"Revela o desespero. Devem estar a ver que a campanha está a decorrer muito mal para a AMP. Isto só desacredita completamente a AMP perante o eleitorado timorense e a comunidade internacional que está em Díli, tem observadores no processo", disse.

"Quando um partido ou partidos fazem acusações, têm de provar o que dizem. Não podem levantar calúnias, difamações. Revela um nível que não abona nada a pessoas que querem governar o país", disse.

Horta insistiu que todos têm que "agir com sentido de responsabilidade e maturidade" e que "acusações desta natureza levantam dúvidas sobre o calibre político de pessoas que querem governar".

ASP // JPS

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