"A quem compete dar ou não dar tolerância de ponto é ao Governo e, portanto, o Governo pode responder por si e é ao Governo que essa pergunta deve ser remetida", afirmou Manuel Clemente aos jornalistas em Fátima, no distrito de Santarém, após ser questionado sobre as críticas que têm surgido à concessão da tolerância de ponto.

Na conferência de imprensa que encerrou a 191.ª assembleia plenária da CEP, Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, adiantou que os bispos compartilham "daquilo que é o sentimento de grande parte da população portuguesa, até além dos limites confessionais estritos em relação a estes dois pontos, o centenário de Fátima e a vinda do papa Francisco".

"E se o Governo entende que isto interessa e interessa positivamente a tão grande número de portugueses e de habitantes do território também compreendo a lógica de fazer tolerância de ponto, porque o Estado é um órgão da sociedade, não é algo que imponha uma ideologia ou a falta dela ou outra contrária", continuou Manuel Clemente.

O presidente da CEP considerou que "se tão grande parte da população portuguesa, mesmo para além dos horizontes estritos da crença, olha para o centenário de Fátima, olha para a visita do papa Francisco com tanto interesse, é natural que o Governo corresponda a esse interesse, como se fosse outra realidade confessional ou de outro género, também olharia com respeito pela vontade e pela sensibilidade dos cidadãos".

"O Estado é um órgão ao serviço do bem comum, não inventa a sociedade, serve-a", sustentou, garantindo que a Igreja Católica portuguesa não fez pedido para a concessão da tolerância de ponto.

O Governo, liderado pelo socialista António Costa, vai conceder tolerância de ponto nos serviços públicos a 12 de maio, dia em que o papa Francisco chega a Portugal para o Centenário das Aparições de Fátima, disse na quarta-feira à Lusa fonte do executivo.

No mesmo dia, o deputado do PS Tiago Barbosa Ribeiro reagiu com "estranheza e estupefação" à informação de que o Governo vai conceder tolerância de ponto.

Hoje, BE e PCP afirmaram não se opor à tolerância de ponto no primeiro dia da visita do papa a Fátima, uma competência do Governo, mas os comunistas têm dúvidas devido à "separação entre as Igrejas e o Estado".

Já o presidente da Associação República e Laicidade, Ricardo Alves, considerou "desnecessária e discriminatória" a intenção do Governo em conceder tolerância de ponto à função pública a 12 de maio, primeiro dia da visita do papa a Fátima.

Em declarações à agência Lusa, Ricardo Alves disse que a "medida é discriminatória no sentido em que privilegia os funcionários públicos que são católicos ao dar-lhes a possibilidade de faltarem ao trabalho para poderem alegadamente estar presentes em Fátima".

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) disse hoje que a decisão do Governo de conceder tolerância de ponto aos funcionários públicos, no primeiro dia da visita do papa a Fátima, é "um descarado ataque à laicidade" do Estado.

Essa medida "é uma atitude indigna de submissão perante a Igreja Católica", disse o presidente da AAP, Carlos Esperança, à agência Lusa.

Francisco será o quarto papa a visitar Fátima, a 12 e 13 de maio, para canonizar os dois pastorinhos Jacinta e Francisco no centenário das "aparições" na Cova da Iria, em 1917.

Os anteriores papas a estar em Fátima foram Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991, 2000) e Bento XVI (2010).

O papa tem também encontros agendados com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o primeiro-ministro, António Costa.

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