"O que mais conhecemos, muitas vezes, são líderes que não deixam instituições para além deles, que desertificam o horizonte para além deles. Uma grande líder é aquela que garante a continuidade institucional de um trabalho através de equipas e através da institucionalização", declarou o chefe de Estado, tendo ao seu lado Manuela Eanes, mulher do ex-Presidente Ramalho Eanes.

Marcelo Rebelo de Sousa falava no encerramento da IX Conferência sobre Crianças Desaparecidas, no auditório do edifício novo da Assembleia da República, organizada pelo Instituto de Apoio à Criança, criado em 1983, do qual Manuela Eanes foi fundadora.

Na sua intervenção, o Presidente da República dirigiu-se em especial a Manuela Eanes, para enaltecer o seu empenho enquanto cidadã no combate pelos direitos das crianças e lhe transmitir a mensagem de que, afinal, "há gratidão na política", embora possa ser "seletiva" e nem sempre "imediata".

"A uma distância que os 33 anos já permitem, eu queria dizer-lhe - não é o cidadão, é o Presidente da República - que lhe estamos todos muito gratos, e que não esquecemos", acrescentou, motivando uma salva de palmas por parte da assistência.

Depois de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa afirmar que "as instituições são feitas por mulheres e por homens, não são unidades abstratas, não são desencarnadas", Manuela Eanes fez questão de ressalvar que trabalhou "com grandes equipas".

"Mas o facto é que só há grandes equipas quando há grandes líderes. O facto de haver lideranças fortes facilita o haver equipas fortes também", retorquiu o Presidente da República.

No seu discurso, o chefe de Estado referiu que Manuela Eanes "já tinha, à sua maneira, tido um papel importante na vida do país num momento difícil de transição para o constitucionalismo democrático", numa alusão ao período em que o seu marido, António Ramalho Eanes, foi Presidente da República, entre 1976 e 1986.

"Mas enquanto cidadã entendeu que deveria iniciar um novo percurso, que não era novo porque tinha correspondido a uma opção de sempre, que eu bem conheço, vocacionalmente, e deu vida a este instituto que dirigiu até há relativamente pouco tempo", elogiou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o Instituto de Apoio à Criança "não é um instituto, é uma grande causa - e hoje é uma causa óbvia, há 33 anos não era".

Na altura, "não havia quem tivesse uma visão global, e foi o instituto, e foi a doutora Manuela Eanes que veio trazer essa visão global" sobre os direitos das crianças, considerou.

No final desta conferência, o Presidente da República foi questionado pelos jornalistas sobre os dados económicos divulgados hoje, mas não quis prestar declarações sobre esse assunto.

IEL // JPS

Lusa/Fim