"A vida são dois dias, o carnaval são três, mas a 'cidade maravilhosa' é para sempre", é assim que a editora Tinta-da-China apresenta o livro "Carnaval no fogo, Rio de Janeiro", do escritor brasileiro Ruy Castro, que se junta à coleção de viagens coordenada por Carlos Vaz Marques, que conta já com 40 livros editados.

"'Carnaval no fogo -- Crónica de uma cidade excitante demais' é o Rio de Janeiro de Ruy Castro, um dos grandes escritores brasileiros contemporâneos", descreve a editora.

Da Baía da Guanabara (baía oceânica no Rio de Janeiro), onde os índios tupinambá passavam a vida a "cantar e a dançar ao sol", ao bloco "Vem Ni Mim Que Sou Facinha" (bloco feminino de Ipanema), que enche as ruas de música, passando pelos cardápios dos botequins, que se leem como um poema, eis, enfim, a "cidade maravilhosa", onde toda a gente se torna carioca de "chinelo no dedo", segundo as palavras do autor.

Ruy Castro sublinha a cidade multifacetada, rica em História, recordando que, aos olhos estrangeiros, em quinhentos anos de história, o Rio foi, sucessivamente, o Éden sonhado pelos utópicos, a malograda França Antártica, um porto de piratas e corsários, um entreposto de ouro e escravos, a capital de um império europeu, uma corte de opereta, a Cidade Maravilhosa, a terra do Carnaval e, "sempre, mesmo que em surdina, uma espécie de Meca do sexo".

A cidade do Rio de Janeiro alimentou também a tradição da hospitalidade, recebendo amistosamente e dando abrigo a todos os que a visitassem ou a escolhessem para viver: guerreiros, missionários, vítimas de perseguições raciais, refugiados políticos, renegados religiosos, imigrantes de toda parte e até foragidos da lei, escreve Ruy Castro.

Exemplo disso é o escritor austríaco Stefan Zweig, que se refugiou no Rio para fugir ao nazismo na Europa, e que deixou em livro o testemunho do seu deslumbramento pela cidade que sempre tão bem o tratou e acolheu, chegando mesmo a afirmar que em nenhum outro sítio poderia refazer a sua vida como ali.

No prefácio de "Carnaval no fogo", o jornalista Carlos Vaz Marques, responsável pela coleção, socorre-se precisamente do escritor austríaco e do seu livro "Brasil, país do futuro", no qual discorre sobre a Cidade Maravilhosa, para assinalar que Stefan Zweig a valorizava tanto, que temia "inclusive o desaparecimento dos famosos bairros da lata", uma das "coisas singulares que tornam o Rio tão colorido e pitoresco".

"A deambulação de que Ruy Castro é cicerone neste livro - por entre uma surpreendente acumulação de factos e 'petites histoires' - é simultaneamente uma viagem no espaço e uma viagem no tempo, o que faz jus à ideia do autor de que 'no Rio, os veículos ideais são os pés - pelo asfalto ou pela areia - e a literatura'", escreve Carlos Vaz Marques no prefácio.

Para o coordenador desta coleção da Tinta-da-China, a leitura deste livro irá, provavelmente, provocar no leitor o mesmo efeito de ouvir um relato de futebol pela rádio: a narração consegue ser mais entusiasmante do que a própria partida.

"O Rio de Ruy Castro, driblando com perícia qualquer sombra de monotonia, e tendo como craque o sentido de humor 'é uma das cidades mais excitantes do mundo - talvez um pouco excitante demais'", acrescenta.

Rui Castro descreve, no seu livro, o Rio e Janeiro como a cidade que "recebe todo mundo sem fazer perguntas" e que "é uma permanente promessa de sol, bom humor e liberdade de movimentos".

"E, exceto por uma ocasional chuva, uma derrota do Flamengo (que faz a alegria de metade da cidade) e um ou outro 'fudevu' [termo brasileiro para confusão] localizado, nunca deixa de entregar o que promete".

AL // MAG

Lusa/Fim