Passada quase uma década de polémicas entre a linha e a barragem, o empreendimento hidroelétrico começa a produzir em agosto e o transporte ferroviário regressa ao Tua com a novidade de um comboio para turistas e outro para as populações locais, como anunciaram à Lusa as partes envolvidas no processo.

Em "junho, julho" os comboios deverão estar a circular no mesmo canal da antiga Linha do Tua, por cerca de 30 quilómetros entre Mirandela e a Brunheda. Haverá também passeios de barco da Brunheda até ao Tua e transporte rodoviário alternativo para as populações nestes 17 quilómetros da antiga ferrovia submersos pela albufeira.

"Estamos a fazer História", afirmou à Lusa Fernando Barros, presidente da Agência de Desenvolvimento do Vale do Tua, que junta a EDP e os cinco municípios da área de influência da barragem, nomeadamente Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Alijó e Murça.

A agência é uma das contrapartidas pela construção da barragem e a responsável pela condução dos projetos de desenvolvimento da região, com a garantia de um fundo financeiro equivalente a três por cento da faturação anual da produção de energia.

A criação do primeiro Parque Regional Natural no vale do Tua foi outra contrapartida, mas a mais emblemática é o plano de mobilidade alternativo aos cerca de 50 quilómetros da Linha do Tua desativada antes do início da construção da barragem, depois de uma sucessão de acidentes com quatro mortes, nos anos de 2007 e 2008.

A nova mobilidade será da responsabilidade do operador privado Mário Ferreira, o empresário dos passeios turísticos no Douro, que respondeu não querer prestar declarações, neste momento, quando contactado pela Lusa.

Já o presidente da agência e autarca de Vila Flor, Fernando Barros, explicou que, além de um comboio turístico, a concessão contempla também um outro tipo de comboio com três viagens diárias nos dois sentidos para as populações locais.

Segundo disse, está também estipulado que o operador privado irá "suportar um défice anual de 50 mil euros" com o transporte das populações e que, a partir desse valor, os eventuais prejuízos serão custeados pela agência.

"Por isso, é que nós temos de desenvolver um projeto quotidiano à medida das necessidades, não podemos desenvolver um grande projeto que depois crie um défice que não consigamos aguentar", afirmou, realçando que se trata de "um projeto dinâmico que pode aumentar ou diminuir o número de carreiras conforme a procura".

Apesar de o projeto estar já delineado ainda não está formalizado. Falta resolver "processos de licenciamentos" e as partes assinarem o acordo.

A EDP disponibilizou 10 milhões de euros para a mobilidade que foram entregues ao operador privado.

Ao longo dos últimos anos, a elétrica portuguesa investiu mais 15 milhões de euros em projetos de desenvolvimento regional.

O administrador Rui Teixeira garantiu à Lusa que a empresa tem "cumprido com todas as medidas compensatórias inscritas na licença e na Declaração de Impacto Ambiental (DIA)".

"É importante percebermos que é a existência desta barragem que faz com que a linha do Tua volte novamente a existir", apontou.

O Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT) entende que o plano de mobilidade anunciado não atende as populações locais e acusa a EDP de não estar a cumprir as obrigações que lhe foram impostas.

Fernando Sarmento, do MCLT, apontou que o "operador privado já deu a entender que, neste momento não há acordo, na parte do transporte das populações".

O movimento reclama a necessidade de o transporte ferroviário ir "ao encontro das necessidades das populações" e teme que sejam esquecidas neste projeto entregue a um operador privado.

Ao longo do rio são visíveis obras, concretamente as dos cais para os barcos e de reabilitação de carris e taludes da ferrovia.

Os trabalhos junto à estação da Brunheda e o novo lago formado pela albufeira chamam a atenção de Maria José, uma passageira do Tua, que a Lusa encontrou no local ponto de encontro daquela que será a nova mobilidade do Tua.

Maria José pagou dez euros a um táxi que a transportou da aldeia de Carlão até à Brunheda, onde aguardou debaixo de chuva a chegada de outro táxi, o alternativo ao comboio em que seguirá para uma consulta no Hospital Terra quente de Mirandela.

"É um transtorno muito grande, mas não temos outro transporte, tem de ser por aqui", desabafou.

O comboio "faz muita falta" pois "era mais fácil" e havia mais viagens nos dois sentidos.

Esta habitante do vale não sabe o que se está a passar nem para que são as obras que observa enquanto espera.

"Eu ouvi dizer que vinha um barco do Tua até aqui, depois daqui que ia o comboio para Mirandela. Não sei, ouvi dizer, não sei de nada", partilhou.

A ideia do projeto turístico parasse-lhe "boa", desde que não seja só para turistas.

HFI // JGJ

Lusa/Fim

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