Mas quando o problema somos nós mesmos, e a viagem é curta e circular, o mundo reduz-se à bolinha mais ínfima de todas, e parece que tudo se concentra em cima da condição individual. Nessa medida, voltar a olhar o universo à nossa volta ganha um estatuto que não sei classificar, qualquer coisa a meio caminho entre a ficção científica e o reality-show, ou entre a Idade Média e um tempo que não vamos querer viver.

Porque, no tempo que vivemos, a tecnologia e a inovação não deixam morrer pessoas no meio do fogo - como me lembro de suceder, com militares, na “minha” Serra de Sintra de criança. Não havia telemóveis, nem antenas, nem estudos. No tempo em que tudo se sabe, não é possível desconhecer ao certo o número de vítimas de um incêndio ou a responsabilidade imediata de um assalto a uma instalação militar. No tempo em que é impossível viver sem ter uma conta bancária, é inimaginável que se cobrem “rendas” mensais para ter uma conta aberta num banco público. No tempo do conhecimento e da informação, um Trump é figura de segundo plano num filme de animação da Pixar, de preferência sobre monstros.

À medida que acordo e regresso à realidade, e com isso me afasto da comezinha preocupação comigo mesmo, vejo um país de brincadeira, de faz de conta, uma comédia negra que só mesmo os media parecem ainda levar a sério, com maior ou menos especulação, mas sem largar o osso das perguntas por responder e dos responsáveis por apurar. Oiço à minha volta muitas vozes “fartinhas” das manchetes e das aberturas de Telejornal com os incêndios – as mesmas vozes que criticam o jornalismo superficial e se queixam da falta de investigação... Porém, se não for o jornalismo, ou o que resta de bom jornalismo entre nós, a já difícil distinção entre verdade e ficção torna-se pura e simplesmente uma miragem. E Portugal desaparece.

Ou seja: vejo o mesmo país, mas o foco e a surpresa mostram-me um país pior, mais perdido, mais caótico. Ainda baralhado com este estranho acordar, percebo que não há um antes e um depois. O Portugal que abandonei há pouco mais de um mês, sem nunca daqui ter saído, não é muito diferente daquele a que regresso. Mudou apenas o meu ponto de vista, momentaneamente desfocado da realidade, e distante deste absurdo que constitui viver num tempo onde tudo deveria ser possível, mas quase nada se torna palpável – e as discussões não passam por este paradoxo, mas pela habitual troca de acusações entre quem está e quem esteve, quem manda e quem mandou, quem assina e quem assinou. Como se não fossem as caras do costume. A fazerem as tristes figuras do costume.

Pelo caminho, a terra queimada, os mortos sem rosto, os crimes sem castigo. Ou, como canta Jorge Palma há 40 anos, Portugal “com o pé numa galera, e outro no fundo do mar”.

E ENQUANTO PORTUGAL ARDE...

Se lhe perguntassem o que era “The (R)evolution of Steve Jobs” (“A (R)evolução de Steve Jobs”), responderia o quê? Um livro, seguramente. No limite, um daqueles filmes a que agora se chamam “biopic”. Nada disso: é uma ópera, estreia esta semana no Santa Fé Opera, no Novo México, e promete, no mínimo, abalar as estruturas clássicas deste universo musical. Como se pode ler nesta matéria do “The Guardian”.

Ainda no domínio da cultura, e numa altura em que o turismo domina as conversas, as ruas, e a actividade económica, um livro divertido, ainda que talvez mais sério do que parece: “Portugal visto de fora”, sobre a forma como os estrangeiros nos olham e sobre o que de nós sabem. O autor é Pierre Léglise-Costa, historiador de arte, linguista, tradutor e coordenador da coleção «Bibliothèque Portugaise» (editora Métailié), e a tradução é de um nome sem mácula: José Manuel Barata-Feyo. As surpresas são mais que muitas...

Veraneando por aí, no momento em que “Cars 3” anima as salas de cinema, este vídeo sobre a incontornável Edna do “The Incredibles”, que regressa dentro de um ano, deixa qualquer um à banda... A imaginação e a criatividade não têm limites!

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