Não costumo pensar no quanto da minha identidade recai nas minhas origens, mas acho que o facto de ser de Oeiras é das primeiras informações que as pessoas têm de mim — ou porque perguntam ou porque eu digo. Não sei bem porquê, não é algo que diga muito sobre mim, sobre a pessoa que sou. Talvez esteja só muito alerta do privilégio que é viver aqui. Mesmo tendo vontade de viver noutros sítios, estou consciente de que a qualidade de vida que tenho em Oeiras não é algo que se encontre em todo o lado.

Os meus pais escolheram muito bem o sítio onde sedimentar a nossa família e por isso estou-lhes muito grata. As três escolas onde andei durante o ensino obrigatório são basicamente todas na mesma rua e as três foram locais de aprendizagem quase irrepreensíveis. Boas escolas, bons professores — nada a apontar. E como eram todas entre dois a cinco minutos de minha casa, comecei a andar sozinha na rua relativamente cedo. Acho que isso não acontece em todos os sítios.

O meu bisavô Joaquim vivia numa casa na Vila de Oeiras que era tão pequenina, mas tão pequenina, que não me lembro dos corredores, tenho ideia de serem só divisões. Era pequenina, mas adorável. Os meus avós maternos vivem (e para mim sempre viveram) na rua 7 de Junho, a mais antiga de Oeiras e por isso muitas das minhas memórias de criança são na Vila, a andar de mão dada com o avô ou com a avó, vila abaixo e vila acima. Íamos ao café comer queques, ou à loja de linhas e lãs onde a minha avó (que é costureira) precisava de ir tantas vezes — e o que eu gostava daquilo, a senhora da loja (cujo nome me escapa) era uma simpatia e não se importava que ficasse ali só a rodar os rolinhos das linhas coloridas. Íamos também ao cabeleireiro da Antonieta (que acho que é da família) e à padaria que era — e ainda hoje é — uma perdição para esta bochechuda: bolos e pães por todo o lado.

Eu sei que Oeiras não é só a Vila, mas digo-vos que é um óptimo sítio para começar. Já os Jardins do Marquês de Pombal são bastante subvalorizados, há umas capelas muito lindas e portas incríveis. Na minha opinião, merece um passeio de exploração, mas também é preciso dizer que é dos meus sítios preferidos.

Quando era miúda não tinha nada a dizer sobre o sítio onde vivia porque para mim não havia mais nada. Assim que acabei o secundário talvez tenha começado a gostar um bocadinho menos de Oeiras. Não pelo que havia, mas pelo que faltava. Há poucas coisas diferentes e divertidas para se fazer se forem jovens, ao fim-de-semana, em Oeiras. É uma pena porque acho que há muitos jovens no concelho (ou pelo menos os suficientes) e sei que há espaços com potencial para se tornarem em coisas bem giras (fica a sugestão para se pensar em renovar o Mercado de Oeiras).

À parte desse pequeno flagelo que são as noites aborrecidas, Oeiras é um sítio fantástico para se crescer. Temos sítios lindos, ciência, educação, empreendorismo e cada vez mais cultura. Em Oeiras tive escolas fantásticas, não tenho queixa nenhuma aos serviços de saúde e tenho uma estação de comboios que me leva ao Cais do Sodré em aproximadamente 20 minutos. Mais importante ainda, tenho segurança, tranquilidade e silêncio — no frenesim que é a vida de hoje apreciamos, e muito, esta qualidade de vida suburbana. Meu abençoado subúrbio.

Eu sei que não tarda nada estão aí as autárquicas e devia estar mais informada em relação aos candidatos e ao que pretendem para o futuro do concelho. Mas não estou. Não é que me esteja a marimbar para o assunto, mas é mesmo difícil para mim ter vontade de ouvir os debates ou ler os panfletos. No entanto, vou fazer o esforço e inteirar-me da situação, mais que não seja para poder conhecer os candidatos quando digo às pessoas que há outras opções sem ser votar num ex-recluso.

Espero que seja quem for que ganhe as eleições continue a fazer de Oeiras o concelho perfeito para famílias, especialmente com crianças. Que continue a investir na educação, (mais ainda) na cultura e nos empreendedores que por aí andam. Contudo já davam uma revisão nos transportes e nas rendas. É que não está fácil. Estou só a dizer.

A única real queixa que tenho a esta minha terra é o danado do vento, que sopra, sopra e sopra em seis dos sete dias da semana. Já chega. Se alguém puder fazer alguma coisa em relação ao assunto, ganhará de certo o voto de muitos oeirenses.

Ah! E não me esqueço da praia. Eu sou daquelas nojentinhas que quase não dá valor a estar perto do mar porque sempre o teve, sim, mas olhem… “Há mar e mar, há ir e voltar”. E embora eu queira viver noutros sítios (uma pessoa precisa de agitação), Oeiras já pôs as expetativas demasiado altas.

Inês Afonso tem 23 anos, mas isso não importa nada. Licenciou-se em Jornalismo (quase só) por curiosidade. Trabalha em comunicação por vocação. Tem opiniões em relação a tudo, embora seja especialista em absolutamente coisa nenhuma. É-lhe mais fácil escrever sobre um disco, do que sobre si.

A Minha Terra é uma rubrica especial do SAPO 24 em que várias pessoas são convidadas a falar da sua terra, "à boleia" das eleições autárquicas do próximo dia 1 de outubro de 2017.

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