Horas antes de ser anunciado o acordo com a NOS o presidente do Sporting viu-se publicamente desmerecido por um grupo de associados contestatários, os quais mandaram colocar dois enormes placards nas imediações do estádio questionando a sua gestão, ao ponto de a apelidarem de mentirosa. Com os milhões entretanto anunciados (que são mais 100 do que os obtidos pelo Benfica, embora num acordo muito diferente, e mais 50 do que os conseguidos pelo FC Porto), Bruno de Carvalho parece ter conseguido desviar os holofotes para um cenário que, aparentemente e só aparentemente, lhe é mais favorável.

A vaga de contestação começou a engrossar após o jogo em Braga para a Taça de Portugal. A equipa até jogou bem e viu ser-lhe mal invalidado um golo. Na ressaca da derrota, Bruno de Carvalho saltou qual fera acossada e insinuou que o prejuizo resultante da arbitragem desse jogo fora consequência directa das queixas feitas, dias antes, por dirigentes do rival Benfica. Acusou sem provas e, pior, revelou falta de senso ao apelidar os rivais de “idiotas”. Não pensou que as suas palavras, para além de não agradarem aos rivais, também não colhem a simpatia de muitos associados do seu próprio clube, os quais já por diversas vezes afirmaram não se reverem no estilo popularucho e trauliteiro imposto e praticado pelo presidente.

Dias depois, e como agora relembram os cartazes espalhados na Segunda Circular, Bruno de Carvalho, sofreu aquele que será, até ao momento, o mais forte revés da sua presidência. O Tribunal Arbitral Desportivo condenou o Sporting a pagar mais de 17 milhões de euros à Doyen Sports, empresa que antes havia financiado o clube numa transacção mas que, no momento de recolher os proveitos previstos num contrato escrito, se viu arredada do que estava acordado. Como seria de prever o Sporting perdeu a acção e, conforme foi desde logo explicado, são quase nulas as possibilidades de haver volte-face na sentença. Mas Bruno de Carvalho, por desconhecimento ou apenas por conveniência, logo se aprestou a correr para a imprensa (a mesma que em duas ocasiões, e contrariando as regras do jornalismo isento, já fez outras tantas manchetes com artigos de opinião assinados pelo presidente sportinguista) dizendo que nada estava decidido e que o caso só então começara a ser derimido. Enfim…

E como um mal nunca vem só, eis que a equipa de futebol, tão sabiamente conduzida por Jorge de Jesus, encontrou novo escolho, perdendo na Madeira, perante a União local, e deixando desse modo o primeiro lugar da classificação geral ao alcance do FC Porto, que naturalmente agradeceu e rejubilou.

Os milhões da NOS podem (e supostamente vão fazê-lo) atenuar parte da contestação interna. Mas não a extinguem. Aos olhos dos adeptos em geral e dos sportinguistas em particular o modelo de Bruno de Carvalho não colhe simpatias. Aos inêxitos desportivos recentes (e esses são sempre os que ficam na retina e na memória), às condenações judiciais e ao não atendimento das reclamações e queixas apresentadas contra rivais, junta-se ainda uma inenarrável política de defesa do clube que consiste, à semelhança do que outros também fazem, em mandar para os programas desportivos televisivos comentadores cuja credibilidade ou é nula ou apenas anedótica. Enfiar na casa de milhões de telespectadores um indivíduo de semblante medieval e voz teatral, bramindo de pé uma espada de plástico e proferindo ameaças contra um comentador de um clube diferente, não pode nunca significar credibilidade. Humor é uma coisa. Palhaçada é outra completamente diferente. Ao enveredar pela segunda via, perde Bruno de Carvalho e perde, sobretudo, o Sporting.