As sondagens e as ‘tracking pools’ dão vantagem à coligação, umas mais do que outras, mas também apontam um elevado número de ‘não sabe/não responde’ e mais de 20% de indecisos, seja em votar, seja em quem votar. É uma massa de eleitores que vai decidir quem será o próximo primeiro-ministro. Portanto, a coligação e o PS têm de afinar o discurso, as promessas políticas ficam para trás, as medidas e a estratégia também; agora, vamos entrar na semana da política pura e dura. E não vai ser bonito.

Pedro Passos Coelho e Paulo Portas percebem que a sua margem de crescimento eleitoral está limitada pelo ‘partido do Estado’, os funcionários públicos, os pensionistas, que passaram a ter uma vida pior do que a que tinham. Era inevitável, simplesmente porque tinham uma vida financiada com dinheiro dos outros. Mesmo assim, para estes grupos, isso é irrelevante, e continuam zangados com os partidos do Governo, e muitos deles votaram no PSD e no PP em 2011.

Passos passou quatro anos a dizer que a distribuição dos sacrifícios estava a ser equitativa entre os setores público e privado, os cortes eram transversais a toda a sociedade. E foram, porque se houve cortes no sector público, houve muito desemprego no setor privado. Agora, em campanha eleitoral, está a corrigir o tiro. Porquê? Porque o crescimento da economia – o principal trunfo eleitoral - permite que o setor privado recupere parte dos cortes que sofreu, os salários começam a aumentar e o desemprego a cair. Mas ainda não chegou às contas do Estado, leia-se aos ‘militantes do partido do Estado’. É por isso que Passos e Portas falam agora para eles, voltam a prometer-lhes o céu. Ao centro.

António Costa tem uma margem de crescimento superior à da coligação, ao centro e à esquerda. E apesar de estar em perda consecutiva nas sondagens, entra com vantagem na última semana. Paradoxalmente, o universo potencial de eleitores é mais difícil de atingir, porque é preciso ter dois discursos, e nem sempre coerentes, para os eleitores que oscilam entre a coligação e o PS, por um lado, e os que estão entre os socialistas e os dois partidos à esquerda, o PCP e o BE, por outro. Por isso, varia entre os consensos e a estabilidade, um valor cativado pela coligação, e um discurso agressivo de rutura tão do agrado dos eleitores comunistas e bloquistas. Mas a verdade é que os votos que vão decidir estão ao centro, o que torna o PS igual à coligação. Mas a cópia é sempre pior do que o original.

Os dois blocos têm, no discurso, um ponto em comum: a maioria absoluta, já gasta de tão pedida, já descredibilizada, de tão improvável. Num vale tudo em que, sem resultados, há cenários para todos os gostos, até aquele que antecipa que os vencedores podem perder e passar à oposição. Importa-se de repetir? Esta semana, preparem-se, agarrem-se às cadeiras, a estrada vai estar cheia de solavancos, de toques e choques frontais. Até ao dia 4. Pelo menos.

Notas:

O "dieselgate" é uma vergonha para a VW, mas é muito mais do que isso. É uma vergonha para a indústria automóvel (só a VW é que usou estes esquemas para esconder o real impacto das emissões poluentes?), é uma vergonha para a Alemanha que dá lições de exigência aos outros países europeus, é uma vergonha para a Europa que dá lições de moral ambiental e de concorrência ao resto do mundo. O "dieselgate" ainda só agora começou, está quase tudo por decidir, e pode acompanhar aqui, no Sapo24 todas as últimas notícias. Fica, desde já, uma pergunta: é agora que os carros elétricos vão ter mesmo uma oportunidade?

O Barcelona vai deixar de jogar na liga espanhola? Não, ou melhor, ainda não. Os catalães foram ontem a votos, escolheram um novo parlamento, mas na verdade estavam a fazer um plebiscito à independência em relação a Espanha. E o resultado não foi muito clarificador. Os defensores da independência, entre moderados e radicais, estarão em maioria no parlamento catalão. Mas a Catalunha está dividida ao meio. Porquê? Porque os independentistas ganharam mais lugares, mas tiveram menos votos. E as eleições em Espanha são já em Novembro, por isso, os partidos do poder vão ter de apresentar uma solução para estes resultados, para a Catalunha e para o país que querem unido. Porque o vento não pode ser travado com os dedos. Pode ler no Público, e com destaque no Sapo24, os desenvolvimentos desta eleição.

Na próxima segunda-feira, aqui estarei outra vez no Sapo24. Com os resultados das legislativas, sim, veremos se com um novo governo.