Na verdade, Lisboa está hoje mais “arranjadinha” que nunca. Confesso que tenho alguns receios sobre a factura a pagar, e sobre quem a pagará. Porém, há uma conta que já ando a receber: os eixos centrais da cidade tornaram-se, desde que António Costa mexeu no Marquês de Pombal, nas avenidas circundantes, e a coisa seguiu para bingo com as obras de Medina, insuportáveis para os automobilistas. Nunca mais me desloquei por essas vias, contornando a coisa pelas Praças de Espanha desta vida ou mesmo pelas desgraçadas Almirantes Reis do antigamente. O Presidente da Câmara responde, e bem, com o reinado do transporte público – mas a Carris e a confusão dos números dos seus autocarros, os caóticos percursos, os desfasados horários (os fins de semana são trágicos, parece que vivemos num deserto), os permanentes atrasos, e a disfuncionalidade operacional (basta ver os gigantes autocarros que circulam em ruas mínimas, em vez dos minibuses que a empresa também possui...), são suficientes para se perceber que o edifício, uma vez mais, começou a ser construído pelo telhado.

Se passarmos ao Metro, não é preciso recuar muito no tempo para lembrar a crise dos esgotados cartões “Viva Lisboa”, ou as sardinhas em lata em que o serviço se transforma pela manhã e ao fim da tarde. Como cliente regular do Metro, posso elogiá-lo, fora das horas de ponta, pelas estações cuidadas, na evolução inteligente ao longo dos anos, na clareza da sua sinalética, e até nas ideias que abriga, seja um concerto inesperado ou mesmo o muito criticado patrocínio comercial das estações, que achei sempre uma ideia feliz... Já não lhe perdoo as avarias sistemáticas nas escadas rolantes de estações “impossíveis” (como a baixa/chiado), ou a limpeza duvidosa das carruagens...

Carlos Barbosa, presidente do ACP, que nunca deixa o crédito por mãos alheias e diz sempre o que pensa, escreveu na sua página de Facebook, a propósito do renovado Cais do Sodré: “Bonito está, mas os sentidos de trânsito são mais uma borrada completa! Será que na CML não há nenhum Engenheiro de Trafego que tenha coragem para ir contra a "ditadura dos arquitectos"?”

Tem razão. E construir a casa a começar no telhado passa também por aqui. Além da melhoria e efectiva racionalização dos transportes públicos ser prometida para depois das mudanças que nos impedem de circular, parece que esta reforma de Lisboa, sem dúvida necessária e de aplaudir, foi determinada mais por desenhos de computador 3-D, lindinhos e perfeitos, do que por práticas de quem diariamente tem de andar pela cidade. Até mesmo de bicicleta.

Medina ganhará – mas espero que alguém o confronte com a pergunta mais simples de todas: depois da fachada, quanto tempo vamos esperar pelo interior do edifício que é a nossa cidade de todos os dias? Sim, aquela cidade onde há viadutos provisórios com 40 anos que de vez em quando ameaçam o pior...

Tricas, pós-verdades e outros momentos épicos...

Quem espia quem no mundo das grandes potências? O seu microondas? O relógio de pulso? A EMEL? Eis mais uma boa matéria sobre o tema...

Claro que podemos ler, adoptar, seguir. Porém, o mais provável é que, daqui a um ano, parte destas verdades sejam contrariadas pelas “novas verdades” entretanto descobertas cientificamente, ou apenas provocadas pelos lobbies que mandam na alimentação. Uma espécie de batalha entre vacas loucas e gripe das aves.

Colocar em paralelo e perspectiva o fenómeno Internet – e tudo o que dele resulta, do adivinhado fim dos jornais à pós-verdade – com os casos passados do cinema, da televisão, da rádio, é a ideia do longo post. O resultado é uma interessante viagem pelo tempo, que ao mesmo tempo nos deixa a pensar no tempo que vivemos agora. Com a assinatura de Quincy Larson.