Só falha quem faz e Soares falhou muitas vezes, mas esteve onde foi preciso estar:

- Na Alameda, em 1975, a precipitar o fim do “o desvio totalitário da revolução”, quando a direita ficou em casa e ele deu o corpo e a voz a um país que queria uma democracia plena. E depois, com a ajuda do embaixador dos Estados Unidos - e homem forte da CIA em Portugal - e futuro Secretário da Defesa do Presidente Reagan, Frank Carlucci, conseguiu que os Estados Unidos acreditassem na nova democracia nascida da revolução e não a vissem como uma “ameaça comunista”;

- No mal afamado governo do Bloco Central, na única vez em que os dois maiores partidos portugueses se conseguiram entender para governar e é ele, como primeiro-ministro que jogava de igual para igual com os seus pares europeus, que consegue levar a bom porto a entrada de Portugal na CEE e é um ministro “seu”, o já desaparecido Ernâni Lopes que faz o milagre de “mandar” o FMI embora antes do tempo

- Numa campanha presidencial em 1986, onde arranca com 8% das intenções de voto e com meio PS de costas voltadas para si, enfrenta a multidão enfurecida na Marinha Grande, onde é agredido e paradoxalmente arranca para uma vitória mais do que improvável contra o candidato favorito, Freitas do Amaral.

- Como Presidente da República onde com as “presidências abertas”, mostra a instituição ao país e investe no lugar de Portugal no mundo e consegue ser reeleito com 70% dos votos.

- No que se pensava ser a sua reforma, quando já passados os 80 anos, não vira a cara ao combate e embarca na sua única campanha, como candidato do PS à presidência da República.

Como Mário Soares nunca teremos mais ninguém. Um político natural que era um homem com falhas, que dizia o que achava, que jogava de igual com os outros chefes de Estado da Europa e, fundamentalmente, um homem que achava que Portugal e os portugueses podiam e deviam almejar a mais e que viu e fez para que outro país fosse possível.