Escolher o que mais emociona ver entre os dois milhões de peças na coleção deste formidável museu situado numa margem do Central Park, é uma missão impossível, varia com o gosto de cada momento.

Tanto pode ser o esplendor da arte em pedra dos templos de Roma e da Grécia antigas, como o Díptico da Crucificação e do Juízo Final, óleo sobre tela pintado no século XV pelo flamengo Jan van Eyck, dois pequenos poderosos quadros que parecem representar o mundo todo, a terra, o céu e o inferno, como a sala dos Rembrandts ou a dos Pollocks. Ou obras-primas da criação humana por Giotto, Leonardo, Rafael, Monet, Van Gogh, Vermeer ou Modigliani. Não dá para ver tudo, de modo nenhum se consegue escolher só alguns num museu que junta tempos e estilos tão diversos como os da pré-história, os da intensidade espiritual El Greco ou Ticiano e a pop art de Jasper Johns. Ou Picasso, na galeria das obras inacabadas ou por entre um magnífico conjunto de quadros dos modernos com erótica representação da forma humana.

O Met tem tudo, mas está em crise. Fechou o ano passado com um prejuízo de 40 milhões. Teve de reduzir de 60 para 40 o número de exposições temporárias previstas para este ano. O director e administrador delegado, Thomas Campbell, em funções desde 2008 – quando sucedeu ao lendário Philippe de Montebello, timoneiro do Met por 31 anos -, acaba de se demitir. A crise no MET deflagrou já neste século XXI, com o lançamento de ambiciosos projetos muito dispendiosos e, ao que parece, sem planos realistas de sustentação de financeira para o grande aumento da despesa.

Há quem até discuta o alto custo da mudança de imagem: o icónico M inscrito no círculo e no quadrado – como o Homem de Vitrúvio, de Leonardo da Vinci – usado desde 1971 foi substituído por um logótipo tipográfico em que se lê, em grandes letras vermelhas: THE MET, o nome pelo qual o museu é mais conhecido. A mudança teve fatura pesada, há quem diga que não era preciso. O grande rombo nas contas veio da expansão do velho e enorme museu, no número 1000 da Quinta Avenida, para mais um edifício, na Madison Avenue a uns 10 minutos a pé, o Met Breuer – nome que vem do arquiteto que o desenhou, Marcel Breuer -, ocupado até 2014 por um outro museu, o Whitney. O Met Breuer passou a abarcar os 117 anos de arte que vão de 1900 até hoje. São três andares apresentados como um ponto de entrada na arte contemporânea nas suas diferentes geografias. A intenção anunciada é a de abrir a novos públicos. Mas o financiamento dos mecenas está longe do custo da ampliação do Met.

Entra aqui no debate o que deve ser um museu à beira da terceira década do século XXI. Como é a passagem do museu analógico do século XIX para a instituição necessariamente digital do século XXI? As possibilidades oferecidas pela internet podem, como suscitava há dias The New York Times, estar a mudar o desenvolvimento da relação entre as pessoas e os museus. Este jornal nota que há uma ou duas gerações as galerias do Met dedicadas ao Renascimento estavam sempre apinhadas de gente, agora há quase sempre espaço para todos. Mesmo assim, o Met continua com mais de seis milhões de visitantes por ano. Se excluirmos o Museu do Palácio, na Cidade Proibida, em Pequim, que teve no ano passado 16 milhões de visitantes, o Met de Nova Iorque, com 6,7 milhões de visitantes em 2016, está no pódio mundial dos museus que tem no topo o Louvre, de Paris, (7,3 milhões em 2016) e o British Museum, de Londres, (6,7 milhões). Logo a seguir aparecem os museus vaticanos, com seis milhões de pessoas a visitá-los.

Tony Blair, com a aposta no turismo cultural em Londres, quis que os principais museus britânicos tivessem entrada gratuita. Para que a arte pudesse ser fruída por todos. Blair considerou essa intervenção um dever do Estado.

Como está nas escolas a educação para a arte é uma das atuais discussões em vota do Met, em Nova Iorque. Um  consenso: a necessidade de conhecer o passado para entender o presente e lançar os amanhãs.

Esta reflexão num nicho da América bem pode aplicar-se à Europa nesta época em que parece tão essencial indagar sobre a identidade.

No final do século XV e pelo século XVI, por Lisboa e pela costa portuguesa pululavam aventureiros, de várias origens, convencidos de que do outro lado do mar haveria terras de riqueza a explorar. É assim que se chegou ao Brasil.

Na cidade de São Paulo, no histórico edifício da Estação da Luz, foi criado em 2006 um excelente museu interativo dedicado à língua portuguesa. Este museu está agora em reconstrução após ter sido devastado por um incêndio em dezembro de 2015. Vai retornar, pujante. Que pena que em Lisboa ou em outro lugar de Portugal, entre os museus que surgem, não haja também algo assim a celebrar a língua portuguesa. Como também falta um atraente museu dedicado aos Descobrimentos.

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O coração artificial implantado num homem no Hospital de Santa Marta está a funcionar: mais um avanço da medicina disponível em Portugal.

Um trio de arquitetos catalães, Carme Pigem, Rafael Aranda e Ramon Vilalta, do ateliê RCR, foi distinguido com o prestigiado Pritzker, o prémio que é equivalente a um Nobel para a arquitetura. Até agora havia dois laureados Pritzker portugueses – Álvaro Siza Vieira, em 1992, e Eduardo Souto Moura, em 2011 – e Espanha tinha um, Rafael Moneo, distinguido em 1996.  Os três catalães premiados, dedicam-se ao culto das raízes: "há que ter raízes e há que ter asas".  Dizem que o essencial não é a forma, é que dê algo de positivo às pessoas.

Faltam 47 dias para a primeira volta, em 23 de abril, das presidenciais francesas. O que parecia ser uma marcha triunfal para François Fillon tornou-se um psicodrama para a direita tradicional francesa, que transita em poucos dias da certeza de vitória para a convicção de que já não pode evitar o abismo. O favorito é agora o sempre sorridente e otimista Emmanuel Macron, aparece ao centro, fora dos partidos, apostado em renovar o modelo político, depois de ter sido ministro da economia com Hollande. Há em Macron alguma da essência política de Marcelo. O IFOP prepara sondagens diárias sobre tendências de voto, para o Paris-Match, CNews e Sud-Radio.

Spielberg está de volta, vai levar para o cinema a investigação jornalística de 1971, Os Papéis do Pentágono. Depois do Watergate, com os Homens do Presidente (1976) o Washington Post volta aos ecrãs.

A propósito do Washington Post: como eles retratam a última semana em 20 imagens.

Uma primeira página escolhida hoje: The New York Times alerta para as ondas da austeridade no Brasil.