O que está em causa são as alterações climáticas. É facto que as chamadas grandes questões do clima ou do ambiente costumam parecer-nos distantes, abstratas. Ficamo-nos pelas arrelias meteorológicas que são uma chuvada mais carregada que nos ensopa ou a falta de sol num dia em que planeámos uma ida à praia. Passamos ao lado dos problemas do clima. Quase nem nos apercebemos, por exemplo, de como a seca está mesmo a ser, agora, uma angústia para olivicultores e outros agricultores.

Sobressaltamo-nos com casos como o das cheias de outro dia no Algarve. Mas tudo parece passageiro. Tendemos a meter trancas à porta apenas perante um perigo percetível, evidente e imediato. As coisas do clima aparecem-nos alheias, escapam-nos. Dizem-nos que é preciso reduzir o CO2 que está excessivo na camada de ozono que envolve o planeta. Até admitimos que seja assim, mas nós não vemos, não sentimos, não lhe tocamos. E assim deixamos andar.

Mas a verdade é que peritos com grande reputação estão há muitos anos a alertar-nos para a urgência do combate às alterações do clima. Estão a explicar-nos que elas são as causadoras do avanço das zonas de seca, também de outras catástrofes naturais, tempestades, furacões, tufões, inundações em campos e cidades. Desgraça, miséria e milhões de pessoas empurradas para a migração.

Um primeiro grande alerta global foi a Cimeira da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, reunida para tentar compreender e procurar soluções para o problema das alterações do clima, geradoras de consequências hostis. Está adquirido que estas turbulências do clima são resultado da nossa ação e do modelo económico de sociedade que temos. Isso tem sido discutido nas sucessivas conferências anuais das partes (COP) que desde então se realizam. Kyoto, Copenhaga, Durban, foram alguns dos palcos para algum progresso. Até que chegamos a Paris, com uma agenda declarada vital para todos.

O objetivo principal para esta COP 21 é o de chegar a acordo sobre medidas que evitem que o aquecimento contínuo da temperatura da terra fique pelo limite de variação de dois graus centígrados até final do século. Esta ambição implica uma revolução. Implica repensar todo o modelo de energia que tem sido o nosso – e impõe sacrificarmos o carvão que até foi o motor para a generosa ideia de união europeia. Também teremos de desacelerar muito o consumo de petróleo. As implicações geopolíticas e económicas da mudança necessária são tão gigantescas que muitos decisores fazem o que podem para as ocultar. Mas os cientistas mostram que é imperioso agir.

O que está em causa é a capacidade dos líderes – e a formação da opinião pública, de modo a que os pressione – para governar as sociedades humanas. Isto leva a ousar imaginar e desejar um modelo de sociedade assente noutras energias que não sejam as que a prazo geram dano. O desafio é o de inventar novos caminhos para o desenvolvimento, superando os egoísmos nacionais e as resistências dos comandantes da atual mundialização económica e financeira. Será que há gente para liderar esta mudança? Obama, a um ano de deixar a presidência dos Estados Unidos, tem uma grande oportunidade para se confirmar estadista e mostrar a justeza do comité Nobel que lhe creditou um Prémio da Paz quando ainda pouco tinha feito. A COP em Paris também junta o russo Putin, o chinês Xi Jinping, a alemã Merkel, o indiano Modi, a brasileira Dilma, o canadiano Trudeau, o sul-africano Zuma e mais uma larga centena de chefes de estado ou de governo.

A grande tarefa é a de mudar a matriz industrial da nossa sociedade. De facto, implica acelerar a mudança do nosso estilo de vida. É uma revolução que, sendo ambiental, é sobretudo cultural, social e económica. Os líderes mundiais que vão estar em Paris no mês que vêm têm a oportunidade de inscrever a COP 21 e o nome deles na lista de grandes momentos que mudaram o curso do mundo. Cabe-lhes mudar o clima do povo.

Também a ter em conta:

Hoje é um dia D (debate no parlamento, derrube do governo, discussão em todo o lado) na política

portuguesa. O Nicolau Santos é sempre um excelente guia para nos dar a entender o tempo que passa.

Também à volta do EXPRESSO: vale escutar este podcast. Vale ficar em linha para os próximos.

O triunfo da coragem e da persistência da “lady” de Rangoon. Aung San Suu Kyi, filha do herói carismático da independência da Birmânia, triunfa com vaga de fundo em eleições livres, 25 anos depois de a junta militar lhe ter roubado a primeira vitória eleitoral, metendo-a na prisão. Ela resistiu sempre, inspirada nos princípios não violentos de Mahatma Ghandi. O triunfo incontestável de Suu Kyi dá esperança ao país que agora se chama Myanmar.

A subtil guerra fria entre a Rússia e o Ocidente salta para o atletismo? A Agência mundial antidopagem (WADA) denuncia um laboratório secreto do Estado russo onde os atletas de topo são “limpos”. A acusação dispara contra Putin e os serviços secretos de Moscovo. A WADA propõe banir os russos dos Jogos Olímpicos de 2016 e pô-los fora de jogo em todo o atletismo. O Kremlin protesta pelas “acusações infundadas” e diz que é um ataque político. Depois dos escândalos FIFA no futebol, agora é o atletismo a tropeçar, mas com tensão política em fundo.

Foi escândalo em Paris quando, em 1918, Modigliani apresentou a sua coleção de aguarelas com a imagem erótica do corpo nu de uma mulher, a sua musa. Agora, um desses quadros foi leiloado por 158 milhões de euros. Só Picasso, com As Mulheres de Argel, tem um preço de venda acima daquele.

A Catalunha dá mais um passo rumo ao choque com a Espanha. Três primeiras páginas, a do El País, a do La Razon e a do El Punt, escolhidas hoje no SAPO JORNAIS. Merecem atenção.