Se não viesse da boca de José Mourinho, um dos mais inteligentes e formados profissionais do futebol, era uma daquelas idiotices dignas de alguns treinadores da nossa Primeira Liga. Vindo dele, é deliberadamente um sound byte para o mundo mediático. Na verdade, se alguma coisa mudou para sempre no universo da comunicação global foi justamente a impossibilidade prática de sermos donos da forma como somos vistos ou lembrados pelos outros. Em teoria, há mecanismos que até permitem apagar bocados da biografia ou imagens menos simpáticas – mas, na prática, a internet encarregou-se de, nas suas múltiplas frentes, determinar, hierarquizar, e até definir, a forma como somos vistos, lembrados e reconhecidos. A frase de Mourinho, porém, levanta uma pergunta tão absurda quanto assustadora: até onde somos donos da nossa identidade? Ou, dito de outra forma, como podemos ser idolatrados, amados, odiados, inventados, ou pura e simplesmente ignorados, apenas pela forma como a rede nos divulga?

Tal como na tão badalada expressão fake news, entrámos num tempo onde a imaginação começa a valer mais do que a realidade, e onde já nem o facto de se deter uma carteira de jornalista pode garantir solidez na informação (como se viu recentemente nos casos dos incêndios esmagadores do centro do país).

Esta ideia gasosa dos dias leva-me a um ponto que, até agora, era mais ou menos dado como adquirido: com o passar do tempo, a História encarregava-se de colocar os factos nos seus devidos lugares. Provavelmente, não era verdade, e muito do que demos por adquirido se revelou, com novos estudos e investigações, pouco ou nada rigoroso. Ainda assim, havia uma timeline que nos guiava, que mantinha coerência, e que garantia paz no que ao passado dizia respeito.

Ainda sem internet, a II Guerra Mundial conseguiu ensaiar um duvidoso generoso conjunto de factos, conforme a ideologia de quem os contava. Agora, mesmo sem guerras “formais” à vista, entrámos no domínio da asneira livre e da desconfiança militante. Confesso: ainda que jornalista, raras são as vezes em que acredito firmemente no que me dizem. Não é por falta de confiança nos meus colegas, nem sequer por viver no subsolo da teoria da conspiração – é apenas porque, e assim volto ao começo, tanto o jornalista que entrevistou José Mourinho, como o próprio treinador, sabem que ele já perdeu o direito a não ser lembrado no futuro. Mas persiste, inventando mais uma verdade. E o jornalista alinha. Ou seja: também não quer saber do que aí vem. E não vem nada de bom.

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