Lembro-me de entrevistar Marco Paulo, sem palco e apenas com um gravador de cassetes, num bar manhoso das avenidas novas, e ele próprio se deixar levar pela simplicidade do seu passado de João Simão da Silva, e deixar cair a máscara que fazia do humilde cidadão uma estrela perseguida pelas admiradoras… Lá está, naquele instante não havia luzes nem plateia.

Mais tarde, a inteligência de Herman José transformou a ideia de “verdadeiro artista” num “cromo” da sua vasta galeria, e Tony Silva reinou, gozando e rindo como podia, anos a fio, para deleite de todos nós. O “verdadeiro artista” passou a ser um personagem. Mas também um adjectivo…

Até que chegou José Sócrates. E tudo mudou outra vez. O “animal feroz” moldou a sua imagem à semelhança do Marco Paulo nos anos 80: sem passado, sem História, uma máscara e um fato que se veste todas as manhãs, imune aos factos e a toda a gente, e “hits” populares para alimentar multidões crédulas, ou ignorantes, ou apenas com vontade de gostar. Vontade de gostar é perigoso, porque não tem controlo, nem lógica, nem pensamento prévio. É como comer chocolate.

Esta semana, Sócrates voltou à televisão. Acenderam-se de novo as luzes. E o “verdadeiro artista” revelou-se em todo o seu esplendor. O inocente. O perseguido. A vítima. Toda uma representação que, infelizmente, é possível - porque temos agentes de justiça fracos, sem capacidade de investigar e responder atempadamente, e que conseguem deixar um arguido sem acusação mais de um ano.

O “verdadeiro artista” existe porque as luzes se acendem - e isso apenas sucede quando há espectadores suficientes e faz sentido a máxima “the show must go on”. Se José Sócrates já tivesse uma acusação consistente e sustentada, talvez as luzes não se acendessem. Talvez a conversa fosse outra. Talvez o espectáculo fosse uma farsa. Mas o episódio desta novela é outro, e o “verdadeiro artista” voltou. Por mim, tenho mais saudades do tempo do Marco Paulo.

Coisas que me deixaram a pensar esta semana

A revista Inc escolheu como empresa do ano a “inventora” desta nova plataforma. Há quem garanta que o mail tradicional está condenado com o nascimento do “Slack”. Esta semana, pela primeira vez, um empresário português contou-me que os seus 40 colaboradores usam o “Slack” para trabalhar diariamente. Confesso que ainda não experimentei. Mas lendo a Inc, é impossível não ter vontade.

Dia histórico, documento valioso, a Cimeira do Clima fechou com chave de ouro. De boas intenções está o inferno cheio. Leia-se este artigo na sempre prudente The Economist.

Gostei de ver estas escolhas de Steve McCurry nas páginas do The Guardian. E recomendo. A fotografia, felizmente, não muda - por mais filtros que o Instagram invente.

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